1º capítulo

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E pronto,  aqui estou eu acordada as 4 horas da manhã, toda suada e a lembrar-me do acontecimento que me atormenta imensas noites desde pequena e que não me deixa dormir.

Não percebo porque é que este pesadelo me persegue e obriga a sofrer, e como se não chegasse vai começar outra fonte de problemas : a escola. Mas vá, como sei que não vou conseguir adormecer novamente levanto-me, vou tomar banho e faço a minha higiene pessoal. Passado 1 hora já estou vestida.

Vou preparar crepes com chocolate para ver se ocupo o tempo e me distrai-o  do meu passado. Como-os e vou ver televisão visto que só agora são 7. A televisão passou desperçebida na maioria do tempo, visto que tenho estado a pensar como será este ano, e como o vou enfrentar, mas tudo se vai arranjar.

-Já de pé filhota? - disse o meu pai e deu-me 2 beijos.

- Sim pai, não conseguia dormir.

- Foi por causa daquele pesadelo? - perguntou ele preocupado

-Sim, ele não pára, nunca! - ao dizer isto comecei a chorar e o meu pai abraçou- me numa tentativa de me reconfortar e apoiar.

- Queres ir ao psicólogo para ver se eles podem fazer alguma coisa?

- Não pai. Não posso. Tenho vergonha e nojo de falar disso com outras pessoas. Não dá. Não há nada a fazer. - dito isto ainda me apetece chorar mais e desaparecer, desde aquela altura que tenho nojo de mim mesma por não ter conseguido impedi-lo.

- Pronto Ana, anda cá, não vamos pensar mais nisso e tu não tens de ter vergonha filha.  Agora seca essas lágrimas que daqui a pouco tenho que te levar à escola e não quero que chegues atrasada logo no 1 dia.

Eu apenas assenti e fui buscar a mala para começar o novo e irritante ano lectivo.

Já estava a chegar à escola e como habitual havia sempre aquele barulho infernal dos rapazes a jogar futebol e basket, aqueles risinhos estridentes das outras raparigas, mas acima de tudo o que mais me chocava eram os casais encostados à parece a tentarem comer-se. A sério aquilo era horrível.

Continuei o meu caminho até chegar ao grande painel que tinha as turmas e os respetivos horários afixados.

Primeiro que lá conseguisse chegar foi um autêntico sacrifício. Montes de rapazes empurraram-me e passaram-me à frente. Grr como isto me enerva.

Ó não, história agora não. História é apenas a disciplina que eu mais odeio, mas como o meu dia já começou mal nem liguei, e fui me sentar à porta da sala, à espera do professor. Tinham passado mais ou menos 5 minutos e a campainha toca . Já consigo avistar o professor ao fundo do corredor.

Levantei-me e puxei a saia do meu uniforme o mais para baixo possível e as meias pelo joelho para cima para esconder as pernas. Ao contrário das outras raparigas eu fechava os botões da camisa até ao pescoço e verificava se não se via nada do sutiã, já elas puxavam a saia para cima as meias para baixo e a camisa só não andavam sem ela porque faz parte do uniforme, enfim.

Esta aula já ía a meio e eu tinha tirado o máximo de apontamentos possíveis enquanto o resto da turma parecia que estavam a dormir. Eu não sei o que esta gente aqui anda a fazer, mais de metade já chumbou e o resto já tem 18 anos, já são adultos,  já podem escolher. Com isto tudo já tocou para a saída, eu arrumei as minhas coisas, disse adeus ao professor e saí da sala.

Como não tinha ninguém para ir visitar ou alguma coisa para fazer, resolvi ouvir as minhas músicas preferidas que são do meu maior ídolo: Bruno Mars. Quando era pequena, a minha mãe levou-me a ver um concerto dele. 

- Olha se não é a Ana..

- Sim, e pelos vistos continua a mesma idiota de sempre...-riram-se e olharam para mim com desprezo.

- Que falhada..

Não dá para aguentar mais. As aulas ainda agora começaram e já está assim. Levantei-me e fui para a casa de banho a chorar. Porque é que isto não pode parar? Afinal vai ser apenas um ano como os outros, ainda bem que é o último.  Entrei num daqueles compartimentos, tranquei a porta e chorei sem a preocupação se alguém me estava a ouvir ou não, coisa que não costumava acontecer. Eu sempre me importei com o que os outros pensam de mim, e isso dói. Eu gostava de não me incomodar tanto com issso.

Eles não percebem o que eu já sofri. Ninguém percebe. Só eu o sinto.

New life, New moments || H.S. ||Where stories live. Discover now