Um Desconhecido

14 0 0
                                    


Acordo em uma manhã de segunda-feira, com os olhos cerrados observo as horas no relógio, eu costumo me atrasar mas hoje por algum milagre sobrenatural estou dentro do horário.

Com relutância tiro as cobertas, me sento na cama e respiro o ar frio do quarto. Me levanto e tomo um banho rápido, focando apenas na agua que cai sobre mim.

Termino de me arrumar e saio do meu pequeno prédio no centro da cidade, tendo em vista que estou adiantada decido ir caminhando até o trabalho. Aprecio o canto distante de pássaros, o vento frio do fim do outono, as poças d'agua da chuva de ontem que parecem cada vez mais próximas e... espera, mais próximas? Meu corpo para a milímetros da agua, plano no ar de uma forma que imaginei ser impossível. Fico totalmente sem reação, a espera que algo aconteça, até que sou puxada de volta a minha postura original.

-Me desculpe, eu não te vi ai – um homem desconhecido dizia, ele parecia despreocupado e entediado com a situação toda. Acredito que ele tenha esbarrado em mim, me fazendo quase cair na agua.

-Tudo bem, acidentes acontecem e..- fui interrompida por um puxão brusco do mesmo, que me segurava pelos ombros e sua frente olhando profundamente em meus olhos. Ele pareceu extremamente perturbado de um segundo para o outro.

-Que tipo de criatura é você? poderia sentir sua energia de longe

Que ótimo, é isso que ganho por acordar mais cedo e tentar ser uma pessoa responsável? Um maluco desconhecido que deve estar louco na droga?

-Eu não sei do que você está falando senhor, se me dá licença, já estou indo- disse tirando suas mãos dos meus ombros, o mesmo manteve a expressão seria e não disse mais nada. Tentei não demonstrar meu espanto com aquele ato repentino.

Continuei minha caminhada até o trabalho, quando cheguei sentei em frente ao meu computador e comecei a digitalizar, sim esse é o meu emocionante trabalho, digitalizar e revisar documentos. Não é divertido e também não ganho muito mas dá para pagar o aluguel, o que já é o bastante para mim.

Provavelmente você está um pouco confuso e se perguntando o porquê agi tão naturalmente ao acontecimento dessa manhã. Bem deixe eu tentar te explicar, somos divididos entre anjos, demônios e seres estéreis. Os anjos são poderosos, porem restritos a regras que se não seguidas acabam em graves punições; os demônios, tão poderosos quanto, não precisam seguir qualquer tipo de regra, o que lhes permite fazer literalmente qualquer coisa. Ambas as criaturas além de possuírem suas respectivas asas, também portam poderes inimagináveis, como manipulação dos elementos e controles psíquicos. E é claro, já ia me esquecendo, tem os seres inúteis que não portam qualquer tipo de habilidade, sendo obrigados a apenas se esconderem e fugirem dos seres providos de poder. Adivinhe só em qual grupo eu me encaixo? Se você respondeu "o dos seres medrosos que passam as suas miseráveis vidas fugindo" você acertou em cheio.

Os seres portadores de poder vivem uma guerra constante, a clássica luta entre o bem e o mal, e essa é uma guerra que parece não ter fim. Eles vivem se caçando constantemente, em busca da morte do grupo inimigo. E o que nós, pessoas normais fazemos? Absolutamente nada. Muitas vezes somos capturados como reféns ou escudos vivos, as vezes somos mortos por sermos confundidos, entre outros fins.

O homem que me abordou essa manhã era claramente um anjo. É fácil distinguir um demônio só de olhar em seus olhos vazios e ao mesmo tempo ameaçadores, talvez seja por isso que ele me olhou profundamente nos olhos daquela forma, provavelmente se eu fosse uma de suas "inimigas naturais" teria me matado ali mesmo. Nunca tinha visto a habilidade dele antes, deve ser alguma mutação rara.

Mas algo que não consigo entender é que ele havia dito que sentiu a minha "energia", o que é algo impossível já que sou estéril. Ele pode ter se enganado, de qualquer forma é melhor me concentrar no meu trabalho e parar de falar comigo mesma.

Logo o dia terminou e eu pude finalmente voltar para casa, decido voltar andando pelo mesmo caminho, sem me importar com a noite que já vem caindo. Passo por cada esquina observando as luzes dos postes se ligando, o grande fluxo de carros normal para hora e a beleza do seu tingido por tons escuros. Também escuto passos atrás de mim mas não dou importância para isso, imagino que sejam só mais pedestres provavelmente cansados e ansiosos pelo aconchego de seus lares.

-Mas o que um anjinho como você faz desacompanhada a uma hora dessas? Não sabe que alguém pode acabar te machucando? – Sou puxada fortemente contra o peito da pessoa que recitava tais palavras. Não pude deixar de sentir um arrepio na espinha, eu não teria qualquer chance contra um demônio, ao menos eu imaginava que fosse um, por ter dado ênfase ao "anjinho".

- Porque não se mete com alguém que tenha o mínimo de força para se defender? – ouvi outra voz logo atrás de mim e do ser que me prendia.

- Que honra te ver por aqui Comandante, já faz tanto tempo não é mesmo? – O deboche em sua fala era perceptível. Em um movimento extremamente rápido fui lançada contra a parede mais próxima, apagando instantaneamente. 

Entre Ilusões - Luz e SombraHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin