I hate u, I love u

Little One

Todo meu corpo estava arrepiado. 

Eu estava deitada e ela estava em meu colo, enquanto eu fazia carinho no seu cabelo negro. Meu corpo estava cansado e tudo o que se ouvia eram nossas respirações pesadas. Por um instante, senti ela me apertar mais forte no meio abraço em que estávamos, e desapertar logo em seguida. "Posso te falar uma coisa?" eu disse num sussuro prolongado e senti ela concordar com a cabeça, sem soltar um som sequer. "Eu odeio amar alguém como eu amo você", ela olhou pra mim, ainda deitada sobre meu peito e perguntou porquê. Havia muita coisa pra falar, mas a língua portuguesa não tinha vocabulário o suficiente pra tanto. "Você me desmonta. Eu cedo sempre a você, mesmo quando não devia. Eu não tenho lógica quando se trata de você, é só meu coração tolo dizendo que eu devo voltar", senti ela suspirar alto e a ouvi sussurar algo não compreensível. O poder que ela tinha sobre mim ninguém mais teria. Ela era fogo, água, terra e ar. Tudo o que eu precisava para estar bem. Eu não era mais eu sem ela. E eu odiava essa dependência que eu tinha dela. Minha garganta secou, parecia que uma chama ardente estava descendo por aquela região. Engoli em seco, esperando uma resposta que não veio. Afundei mais minha cabeça no travesseiro refletindo como eu era tola por me abrir tanto assim pra ela. Sendo que eu sabia como aquilo terminaria. "Desde que fiquei com você pela primeira vez... Nunca mais fui pra cama com ninguém, sabe disso né?", sua voz chegou em meus ouvidos e meu coração insistia em acreditar naquelas mentiras tão bonitas que ela me contava. Mesmo sabendo que eram mentiras, quando saídas da boca dela, pareciam tão verdades. Por um segundo, minha razão se sobrepôs e calou meu coração. "Sabe que isso é mentira", de súbito, ela se levantou e olhou em meus olhos, olhou minha alma e semicerrou os olhos como quem quisesse desvendar todos os meus segredos, mal sabia ela que todos os meus segredos estavam expostos ali pra ela, sem nenhum esforço. "Olha dentro do meu olhos. Eu juro pra você que é a única pessoa a quem eu me entrego tão fielmente." Ela dizia de uma forma tão, tão real que era difícil não acreditar. Suspirei fundo. "Você diz isso, mas quando eu sair daqui vai direto pros braços dele, ou não?" eu disse e senti meus olhos marejarem. Nunca falávamos sobre isso, sobre o fato dela dizer que me ama mas não poder ficar comigo. "Eu amo você. Não ele. É tão difícil de entender?" Ela disse segurando meu queixo com certa força desnecessária tentando me colocar no olhar dela e me prender ali, já que eu insistia em desviar o meu olhar dos olhos negros dela. "Fica aqui essa noite?" Ela me pediu num sussurro. Eu a olhei e pensei em como ela me tinha. De uma forma que ninguém nunca me teve. E aquilo me assustava um tanto. Eu era doida por ela. Ela era como marijuana pra mim. Seu sorriso era meu paraíso e meu inferno. Sua pupila negra era o único lugar onde eu realmente me via. Eu não consigo negar seus pedidos e seus carinhos. E nunca conseguiria. "Fico" respondi seca, tentando negar a explosão de sensações que ela me causava. Em vão, e eu sabia que era. Ela sorriu pra mim. Aquele sorriso que me guardava nela, dela e pra ela, era o que me fazia ficar. Não só isso, é claro. Aquela menina deitada em meu peito era uma mistura maravilhosa de muitas coisas que eu amava. E por isso ela me tinha.