Capitulo 7: "L" de Luxúria

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- Casa l04. Finalmente. Bato a porta…? Vou entrando…? – a primeira opção soava fora do contexto. Depois de um beijo no meio de uma batalha, não havia espaço para cortesias, por isso Lutus foi entrando na casa que parecia um tanto quanto diminuta para ser chamada de vivenda, igualzinha a todas as outras daquela vila.

A casa parecia inabitada, pouca mobília, luz muito fraca. Era tudo menos um lar. Só havia três opções para o tipo de dono daquela residência. Ou tinha uma visão minimalista do mundo, ou não tinha onde cair morto ou não vivia ali, por tanto pouco se importava. Na sala nada, a não ser um grande tapete de cor por definir. Este tinha como única companhia um candeeiro de mesa que se sentava no chão frio de madeira. Estava escuro mas uma coisa não se podia deixar de notar. Ela. Ao lado da janela. A apreciar a lua em quarto minguante. Os cabelos que mais pareciam ondas de sangue ficavam-lhe pela cintura. Cintura esta apertada por um espartilho que lhe adelgava a silhueta já tão perfeita que mais não cabia.

- Quem és tu? O que és tu?

- Foi por isso que vieste? – Naren, ainda de costas sorriu-lhe e o seu reflexo no vidro da janela mostrou seus caninos afiados como navalha.

- Algo me diz que eu não devia estar aqui – desconversou Lutus já hesitante, certo de que se calhar aquilo fora uma muito má ideia.

- Espera! Não te vás embora! – ela virou-se e por detrás daquele cascata ruiva apareceram os olhos chocolates. Suplicantes. Humanos.

- Eu não compreendo – disse Lutus confuso

- Nem eu – confessou Naren

- Não. Eu não “te” compreendo…

- Eu percebi. E a resposta continua a ser “nem eu”…

Um silêncio constrangedor instalou-se. E ambos fitaram-se por minutos que pareciam décadas. Parecia que a lei do tempo a eles não se aplicava. E entre eles uma barreira que os impedia de serem e fazerem aquilo que realmente queriam. Uma divisão que nos separa de tudo que vai além da razão e do bom senso. “Essa divisória que nos separa do mistério das coisas a que chamamos vida”. Naren tinha anotações do grande Victor Hugo espalhadas pela sala.

- Gostas de ler? – perguntou Lutus na tentativa de quebrar o gelo.

- Gosto. – ela baixou-se para apanhar um molho de folhas, mas estas escorregaram-lhe pelas mãos e Lutus na intenção de a ajudar a apanhá-las viu sua mão de encontro a dela ao segurarem a mesma folha. A tensão sexual deixou-se crescer. Na folha uma citação de Victor Hugo,

- Este é um dos meus preferidos- disse ela sem largar a folha que ele ainda agarrava – Ele diz que “A vida já é curta, mas tornamo-la ainda mais curta…”

-“… desperdiçando tempo.”- completou ele ao mesmo tempo que de forma abrupta colidiu fervorosamente seus lábios nos dela.

 Não disseram mais nada. Não precisavam. Antes mesmo de pensar em possíveis consequências, Naren tirou-lhe a capa e rasgou-lhe a camisa; ele arrastou-a pesadamente, com olhos obcecados e como um espelho ela viu nos dele, os dela de desejo perturbados; ela afogou-se na boca dele e ele na dela; as mãos dele, como ferro em brasa, queimavam-na e arrepiavam-na até a espinha. Não perderam tempo. Não tiveram piedade um do outro. Ali, no tapete, beijaram-se, tocaram-se, tudo… enfim.

Preliminares inusitadas, eles e seu instinto animal; despiram-se do moralmente correto sem medo da estação final. Sem pudor, ele invadiu sua intimidade e descobriu-lhe os detalhes da doce sexualidade; e ela quer mais, mais porque é insaciável e quer tudo o que é dele, fálico e indomável. Os corpos frenéticos e febrís; as unhas felinas cravadas na pele, a sede ávida e sequiosa, na perfeição absurda que é só dele; e eles querem mais porque pecam por gula, porque cheiram a luxúria e não há quem os segura. Ele galopando por sua privacidade em todos os ritmos. Tão apaixonados, tão desconhecidos e tão íntimos.

Caíram pro lado, vencidos. Olharam os dois para o teto descascado de velho enquanto se deixaram arrefecer.

- Penso que conheci o paraíso mas sinto-me tão quente que mais parece ter ido ao inferno.

- Fogo é o meu elemento – justificou-se ele cheio de modéstia. Viu de relance a marca da mulher com quem achava estar apaixonado. Pegadas felinas minúsculas que iam do ombro passando pelo pescoço e subindo-lhe até a nuca, num caminho imaginário na diagonal. Diferente. Invulgar. Curioso. – Posso ao menos saber o teu nome?

- E qual é o teu? – perguntou enquanto os dois ainda fitavam o teto.

- Lutus – respondeu-lhe sem hesitações, olhando para aquele rosto tão perfeito,

- Prazer – disse ela e virou seu rosto de encontro ao dele para finalmente dizer: - Eu sou a Naren.

Aquela sala repleta de papéis com citações, provérbios e poemas que tanto se adequavam àquele momento. Aquele momento. Eles. Dois seres completamente diferentes que se deixaram render a algo tão longe da razão. Esta que até então tem-se esforçado tanto para manter os três mundos em perfeita inimizade. A mesma que foi vencida por algo colossalmente maior. De qualquer forma, “o último esforço da razão foi reconhecer que existe uma infinidade de coisas que a ultrapassam”. E porque não? Se “a razão torna-nos tão infelizes quanto as nossas paixões”. E porque precisamos de refletir sobre a verdade? Se “uma verdade só é quando sentida, não quando apenas entendida”. A força da verdade está na força irrecusável de sabermos o que sentimos sem antes sabermos o porquê. E se o sentimento doentio que sentimos se chama amor, é seguro dizer que este é “um acidente, uma renúncia, um hábito, uma maldição.”

Maldito seja!

Allesis - Um novo comeco.Kde žijí příběhy. Začni objevovat