Estava prestes à acabar com minha vida, quando alguém bate na porta. Era um péssimo momento para atender, mas a pessoa poderia insistir e até tentar entrar, então fui. Vi que era uma garotinha, eu sabia que não a conhecia, todavia não sabia o motivo dela estar ali, Ela ficou parada me olhando como soubesse o que eu estava querendo fazer. Então, logo questionei:
– Em que posso ajudar?
– Você conhece minha mãe? Não consigo encontrá-la.
– Não, onde ela mora?
– Não sei...
– Você sabe o número dela?
– Sei sim, mas não tenho nenhum telefone.
– Tudo bem, entre que ligaremos juntos.
Senti que ela estava com medo, se eu estivesse no lugar dela também ficaria, então tentei acalmá-la:
– Está tudo bem, está frio aqui fora, não é bom ficar sozinha. Iremos encontrar sua mãe.
Ela entrou e eu logo telefonei, sua mãe atendeu. Passei todas as informações pra que ela pudesse chegar lá, ela pediu que esperássemos um pouco pois o trânsito estava um caos e agradeceu bastante. Enquanto esperávamos ofereci algo para a menininha, alguma bebida ou comida, mas ela recusou e agradeceu. Eu estava acostumado com o silêncio, então me sentei e fiquei calado. Mas aquela garotinha logo o quebrou.
– Qual é o seu nome? O meu é Ana Luíza. Tenho 10 anos e você?
– Meu nome é João, tenho 27 anos. Como conseguiu se perder?
– Minha mãe estava conversando com uma amiga dela, sem ela perceber eu saí e fiquei olhando uma loja perto, acabei me distraindo e me perdi. Por que você é triste?
– Eu sou triste? Por que pergunta isso?
– Porque dá pra ver no seu semblante. Não dá pra disfarçar sentimentos fortes.
– Entendi, sempre temos momentos né? Momentos felizes e momentos tristes.
– Eu não, sempre estou feliz. Independente da ocasião, tudo dando certou ou errado.
Uma garotinha dessa idade sabe o que é tristeza? Ela nunca deve ter passado por nada difícil na vida. Espero que não cresça nunca... Fiquei pensando e perguntei novamente:
– E é? E qual o seu segredo?
– É Deus. Ele sempre cuida de mim, independente da situação sei que no fim vai dar tudo certo, porque Ele está no controle.
– Hum. E como você tem tanta certeza disso?
– Eu sinto bem forte no meu coração.
– Infelizmente eu não sinto...
– Mas cada um sente de uma maneira diferente. Tem gente que sente bem forte, outros sentem bem fraquinho como um sopro. Deus tem várias formas de falar conosco.
– E como irei saber disso?
– Você tem que desligar todo barulho da sua mente, todas vozes do seu eu, pra escutar a de Deus.
– Acho que entendi. Depois tentarei fazer isso.
– Depois? Por que não agora?
– Agora? Com você?
– Claro, eu te ajudo.
– Está bem, o que devo fazer?
– Vamos nos ajoelhar, deixa que eu falo com Ele.
Nos ajoelhamos, aquela garotinha parecia saber o que estava fazendo. E com os olhos fechados ela começou a falar:
– Papai do Céu eu te apresento o João, ele é meu novo amigo. Sei que o Senhor já o conhece, mas talvez ele não te conheça ainda. Peço que venha entrar no coração dele e deixar que ele te sinta, tendo a oportunidade de te conhecer. E que Ele venha ter intimidade com o Senhor. Agradeço pela vida dele, por o Senhor ter cuidado dos seus passos até hoje. Que o Senhor abençoe ele, amém!
Assim que ela terminou, meu rosto estava encharcado de lágrimas, o meu coração estava... Na verdade eu nem sei explicar, eu sentia uma dor boa e ao mesmo tempo alívio. Sentia que estava se esvaziando e ao mesmo tempo transbordando. Talvez eu estivesse ficando louco. Mas era bom sentir aquilo. Limpei as lágrimas e ela logo falou comigo:
– Promete que vai falar com Ele outras vezes?
– Eu prometo.
Assim que terminei de falar, alguém bate na porta. Era sua mãe, ela correu e a abraçou, me agradeceu várias vezes. Mas era eu que deveria agradecer. Depois disso, com o passar dos dias, como prometido, conversava com Deus sempre. Continuei me sentindo muito bem, a minha vida mudou, mal sabe aquela garotinha que ela me livrou de um suicídio. Que ela se perdeu, mas trouxe direção à minha vida. E faltando poucos segundos para eu desistir desse mundo, Deus me deu o fôlego de vida.
