Capítulo 1

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*Dias atrás.

Ricardo:

Muito barulho. Muito, muito barulho ao meu redor. Não consigo pensar direito. Estou começando a sentir muita raiva. E isso não é bom, cara. Quando eu fico com raiva, quero dizer.

As pessoas não entemdem como isso é difícil para mim. Pensam que meus problemas ficaram no passado, lá na minha adolescência, "a pior faze do ser humano", como dizem.

Mas "a pior faze" não passou. Quando eu sinto raiva, eu me descontrolo e o mostro agressivo que vive dentro de mim se liberta, e simplismente quero bater em alguma coisa, ou em alguém.

Sem que percebam, saio sorrateiramente do salão de festas, e me escondo nas sombras das escadas do lado de fora, longe do barulho.

Não posso deixar que meu lado sombrio se liberte, não posso voltar para a cadeia. Já faziam cinco anos que eu fui liberto, depois de seis meses preso por agredir um cara em uma viela.

Não importa que o cara tenha me provocado, no fim eu que meti a porrada na cara dele até quebrar seu nariz e três dentes. Sou uma ameaça pública, que sem remédios pode fazer muita besteira.

E isso me leva para o porquê de eu estar nesse momento me escondendo nas sombras de uma maldita multidão, em uma maldita festa.

O meu advogado deu um jeito de provar que sou doênte da cabeça, por isso fui souto de trás das grades. Mas agora meu irmão mais novo é responsável por mim, e ele achou por bem me ajudar a se livrar de minha "raiva interior", como ele diz.

Então faz quatro anos que sou lutador de MMA. Entretanto, esse não é o problema. O problema são as festas e reuniões que tenho que frequentar, como o "bom" e "famoso" lutador que sou.

Merda!

Alguém está descendo as escadas. Nas sombras me encolho de raiva. E agora quem seria? Os passos se aproximam, são saltos de mulher.

Enquanto ela se aproxima, sinto o cheiro de seu perfume.

Odeio pessoas que usam perfumes.

Parecem não se contentar com seu próprio cheiro. No pé da escada a mulher para, parecendo perceber minha presença. Mas após alguns segundos segue na direção da cozinha do prédio.

Estávamos no térreo, a próxima porta dava para a recepção e logo a saída. Seria tão fácil sai daqui. Infelizmente não posso. Se eu saísse, não sei o que poderia me acontecer. Eu poderia ser assaltado e reagir. E todos sabemos o que aconteceria com o assaltante, e consequentimente comigo.

Algumas coisas tinham um gosto muito bom, tão bom, mas o preço era caro de mais a se pagar.

-- Ricardo! -- era meu irmão me chamando no topo da escada. O Diego me conhece tão bem, que chega a irritar. Sempre sabe onde me encontrar e como me sinto.
Tudo que faço para continuar bem é por ele.

-- Aqui em baixo. -- digo, revelando-me de trás das sombras.

-- O que você faz escondido ai, cara? -- falou, se aproximando. -- Tudo bem?

-- Sim, sim... Quero dizer, agora estar tudo bem, mas você sabe o quanto esses eventos me sufocam.

-- Eu sei. Mas você não quer viver como um eremita, só dentro de casa, não é mesmo?

-- Não me sinto assim em lugares públicos, quando saímos à passeio. São todas essas pessoas me olhando. Eu me sinto... julgado?

-- Tá, tá. Agora vamos embora. A Martinha me ligou e me convocou a colocar o Juninho para dormir.

-- Ele ainda não aprendeu a dormi sem você, é?

-- Não, cara. Ele só dorme se eu estiver ao lado dele.

-- Assim como você era com a mamãe. -- falei, rindo da cara dele.

-- Ah. Vai te catar.

Rindo juntos, saímos porta à fora. Não sei o que faria sem meu irmão. Sem seu apoio.

Por que fadas não existem? Where stories live. Discover now