Quando percebi que a cena se encerrava corri discretamente para as escadas e subi até meu quarto como se nada tivesse acontecido. Cinco minutos depois minha mãe aparece na porta do meu quarto, visivelmente abalada.

–Querido!? Posso entrar? – perguntou ela com um sorriso no rosto, que eu sabia que era falso.

–Pode sim mãe! – disse batendo com a mão na cama, para que se sentasse ao meu lado, e assim ela o fez.

–Filho... Eu e você teremos que fazer uma viagem de última hora essa noite tudo bem? Vamos para a casa da vovó, então arrume suas coisas e me avise quando estiver pronto. – ela estava mais calma.

–Mãe... Por que o papai não nos ama? – disparei como se fosse a pergunta mais natural do mundo.

–O quê!? - seu espanto era nítido – Por que pergunta isso querido?

–Mãe, eu não sou um bebê! – dizia meio com birra, parecendo... isso mesmo, um bebê – Eu sei das coisas e eu sei que o papai não nos quer mais aqui...

Ela se calou, pensou um pouco, sorriu e me envolveu em seus braços. E eu me entreguei a eles. Por alguma razão eu chorei, não pelo meu pai, porque de certa forma ele estava certo, não éramos próximos o bastante para sentir qualquer pingo de tristeza, mas eu sentia a dor dela. E em questão de segundos, ali estava eu e minha mãe, abraçados, chorando no ombro um do outro. Não precisamos falar nada naquele momento, apenas sentir que tínhamos um ao outro.

Eu também sabia que as coisas iam mudar... Que a vida que eu conhecia não seria mais a mesma, era uma impressão muito forte. E é, eu estava certo. Eu sabia que não iríamos pra casa da vovó coisa nenhuma. Eu e minha mãe alugamos uma pequena suíte em uma pousada qualquer naquela noite. E não ficamos só uma noite lá, ficamos meses, até que o dinheiro que restava a minha mãe acabou. E meu pai simplesmente sumiu, junto com ele a promessa de que enviaria recursos. Durante um bom tempo assisti minha mãe mergulhar no fundo do poço, ela estava em depressão profunda. E agora não estava longe de sermos despejados dali.

Foi quando restando apenas um dia para o despejo, eu havia saído para brincar na área de lazer como costumava fazer. Mas eu também procurava algo para dar a minha mãe, ela estava tão triste. Então andei milhares de quarteirões em busca de um jardim ou um campo, coisa que era difícil naquela região da cidade. Até que finalmente achei uma bela floricultura. A floricultura mais simples e linda que já vi. Me aproximei e vi uma senhora atrás de uma bancada, ajeitando alguns vasos nas prateleiras. Ela não me viu. Fiquei observando encantado todas aquelas flores, no entanto eu sabia que aqueles números eram mais do que eu tinha no momento.

Fui pra bancada, onde a senhora ainda não tinha me visto. Botei a mão em meu bolso, e joguei em cima da bancada algumas poucas moedinhas fazendo barulho suficiente para chamar sua atenção. Ela virou espantada, e só então notou minha presença.

–Moça, eu preciso de uma flor que custe o valor dessas moedinhas! – olhei pra ela falando sério como nunca falei na vida.

Ela olhou então pras moedas, e me olhou, chocada com a cena.

–Ah... Claro, venha aqui querido! – disse ela pegando as moedas e me guiando aos fundos da loja. Onde incrivelmente, tinham mais flores. Ela olhou ao redor, como que pensando e por fim se dirigiu até uma porção de margaridas e as recolheu. Voltou sorrindo para mim e as entregou.

–Aqui meu rapaz! Tome estas, mas para que você quer flores? – perguntou ela.

–Para minha mãe! Ela estava triste então queria dar flores, ela ama flores!

–Sua mãe tem muita sorte em ter você sabia? – disse ela sorrindo – Agora vá, e tome cuidado pelas ruas!

Eu ia me virando para ir, quando me toquei de algo, voltei e abracei a senhora. Que de novo se espantou com minha reação.

–Obrigado moça! – eu disse e sai correndo loja afora.

Voltei andando aqueles mil quarteirões como se não fossem nada. Estava radiante de alegria. Minha mãe amava margaridas, já podia ver o sorriso se formando em seu rosto quando visse meu presente.

Depois de algum tempo, já estava escurecendo e eu cheguei na pousada. Entrei na recepção e subi as escadas. E enquanto caminhava pelo corredor até o nosso quarto, percebi como de repente o mundo pareceu tão quieto e escuro. Todas aquelas cores e alegria haviam sumido no momento em que entrei na pousada. Eu não sabia o porquê, mas minhas intuições alarmavam algo ruim prestes a acontecer.

Cheguei na porta do quarto, peguei minha chave no bolso, meio sem jeito, pois estava cheio de flores nas mãos. Quando finalmente consegui abrir a porta.

–MÃAAAAE!! CHEGUEEEI! – gritei, esperando que ela surgisse de algum canto -Mãe?

O quarto era muito pequeno então foi fácil encontrá-la. Não havia muitos cômodos onde procurar. Tudo era um enorme cômodo, uma junção de cozinha com quarto, com sala, com banheiro...

Então foi quando bati na porta do banheiro.

–Mãe? - devia estar chorando de novo. Sem resposta.

Abri a porta, e logo me arrependi. Deixei as flores caírem das mãos.

***

TRIIIIIMMMMMM, TRIIIIMMMMMM!

O despertador tocou. Eram 6 horas da manhã. Levantei-me, fiz minha higiene pessoal, tomei café, e saí de casa em direção a escola. O dia estava escuro, como sempre. E aquele sonho, havia se repetido mais uma vez nessa noite.

Fazia muitos anos, mas as lembranças daquela noite ainda me perseguiam. Porém claro, não doía mais como antes. Mas doía.

Afinal, foi o dia em que eu, Pedro, um garoto de 12 anos, frágil e inocente, vi minha mãe estirada naquela banheira. Sem sinal de respiração. Sem sinal de batimentos cardíacos. Vi o frasco de remédios em sua mão e um monte deles pelo chão. Desde então, odeio tomar remédios.

Ela havia se matado, e eu só lembrava da frase que aquela senhora tinha me dito mais cedo.

"Sua mãe tem muita sorte em ter você sabia?".

É, eu também pensava senhora. Mas pelo visto, ela não via da mesma forma.

Droga, 7h10, estou atrasado!

--------------------------------------
Oii gente, tudo bem?
Obrigado por lerem este primeiro capítulo! :D
Espero que tenham gostado, vou tentar postar com a melhor frequência possível pra vocês!
Não esqueçam de favoritar e comentar o que estão achando da primeira impressão da história!
Um beijão S2

Perfeitamente QuebradosWhere stories live. Discover now