Solitude ou solidão?

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Quando deixou o monastério,o monge não tinha mais a energia sequer o espírito elevado,ou meios de exteriorizar a angústia que sentia

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Quando deixou o monastério,
o monge não tinha mais a energia
sequer o espírito elevado,
ou meios de exteriorizar a angústia que sentia

Ele vivia seus dias como todos os outros monges e freiras e padres que turistavam por ali
Todo dia dedicava seu tempo ao trabalho
escrevendo suave sobre o papel de linho
aperfeiçoando cada letra do salmo como se sua vida dependesse daquele verso
e da perfeição de sua caligrafia

Quando chegava o fim do dia,
sentava-se ao lado da pequena estátua de Maria e perguntava clemente
"você pode me ouvir, senhorinha?"
Seus olhos cor de mármore atingiam o oceano a frente profundamente,
mas não pareciam atentos às suas palavras

"se não me ouves, quem ouvirá?"

A resposta nunca chegou aos seus ouvidos
ou aos sonhos
nem nas meditações prolongadas dentro da capela,
"tem alguém aí?"
Ouvia sua própria voz ecoar no vazio de suas ideias, seus problemas
ansiedades
e questionamentos

"por onde andam os anjos solenes,
as santas benevolentes,
os padres virtuosos,
o demônio errante
procurando me redimir?"

Alguns dias depois,
com sua fé desgastada
e muitas conversas internas,
deixou um bilhete sobre o livro que escrevia há algumas décadas

"a solitude é minha única arma contra a solidão"

e
partiu


As margaridas do parque e outros poemasWhere stories live. Discover now