Prólogo

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A vida é feita de ciclos...

Hoje completa sete anos que uma moça de olhos castanhos e um coração do tamanho do mundo ajudou meu pai a reconstruir sua vida, e a nossa. Sete anos que deixamos de ser órfãos de mãe para ganhar a melhor madrasta do mundo.

Caminhei pelo jardim em torno da propriedade do meu pai, devagar, passo após passo, pensando em tudo que havia acontecido em nossas vidas, desde que essa grande história de amor teve início.

Eu não sou mais o garoto brincalhão que tentava resolver tudo de forma leve e com um sorriso no rosto. Tenho me distanciado do que eu era a cada dia. A cada nova reunião. A cada novo negócio fechado ao lado do meu pai.

Eu nunca fui muito parecido com o Sr. Galagher. Herdei a leveza da minha mãe, mas eu queria muito menos da vida do que ela quis. Nunca tive seus anseios de riqueza, talvez porque nunca tenha me faltado nada.

Cresci rodeado de luxo e riqueza. Tive amor e carinho. Alguns tropeços, mas as tempestades nunca duraram para sempre. Minha percepção de vida sempre foi ver o copo meio cheio, enxergar a vida pelo lado bom, mas ultimamente tudo parecia muito cinza para mim.

Nunca gostei de bajuladores, mas sempre estive cercado por alguns. A vida me sorriu demais, mas eu nunca soube realmente se era um sorriso verdadeiro.

Hoje, faz um mês que enterramos Vó Margarida. Ela nos deixou serena e feliz, em uma bela tarde de primavera, ciente de que havia cumprido sua missão nessa terra.

Vovó foi enterrada ao lado da minha mãe. Ela jamais deixaria mamãe sozinha. Sei que apesar de se esforçar para continuar, não houve um único dia em que vovó não tenha sentido falta da sua filha. Como também não houve um único dia em que eu não pensasse em minha mãe. Ela tomou rumos controversos, mas as memórias que deixou em mim, jamais serão esquecidas.

Parei em frente ao lago. Sentei no deque e fechei os olhos. O sol da tarde aquecendo meu rosto, tornando tudo meio dourado em minha visão. As palavras de vovó ocupando meus pensamentos.

"Sei que você quer que ele se orgulhe das suas escolhas, meu filho, mas você não pode se esquecer de que deve se orgulhar de você mesmo também".

Ela estava certa, sempre esteve. Poucas pessoas eram tão boas em ler os outros como a Sra. Tavares. Papai me amava. Ele apoiaria qualquer decisão que eu tomasse, ainda que gritasse comigo e esbravejasse, no final, ele me abraçaria e diria que minha felicidade importava mais do que qualquer plano que ele tenha feito para minha vida. E era por isso que eu precisava ir.

Viver à sombra do Sr. Galagher, carregando o estigma de ser neto do Juiz Reign, era peso demais para um garoto de vinte e poucos anos.

Eu havia passado dois anos sendo John Albert Van Galagher, o vice-presidente do império do Leão de Roterdã. Um homem de negócios que passava o dia de terno, atrás de uma mesa, em um escritório bonito, com a baía de Roterdã aos meus pés, mas nesses dois anos eu fui esquecendo como era ser o John. Acordava todos os dias e via um homem no espelho que não era eu.

Levantei e segui de volta para o estúdio que agora era meu. Um pequeno espaço para mim, dentro do mundo comandado pelo poderoso Sr. Galagher.

Peguei a mala no armário e abri sobre a cama. Enquanto eu dobrava minhas roupas, ouvi passos se aproximando. Eu sabia quem era, mas não disse nada, deixei que ela se aproximasse.

— Você deveria me levar junto! — deitou-se ao lado da mala, esparramada em minha cama, como se não fosse nada. — Eu poderia te ajudar com várias coisas! Você sabe que vai sentir saudades. Você nem sabe escolher uma gravata direito!

Tão IntensoWhere stories live. Discover now