Champanhe

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No fim do dia, resolvi procurar Matthew no endereço fornecido.

Só quando o táxi parou, percebi que se tratava de outro bar, muito mais requintado do que habitualmente eu frequentava.

Um manobrista abriu a porta e o funcionário da recepção me levou até um balcão de atendimento.

*Estou procurando o Sr. Matthew.

Após ele consultar uma lista, fez um gesto com as mãos para que eu o seguisse, sem dizer uma única palavra.

Chegamos numa mesa composta por quatro lugares, num canto menos iluminado do ambiente e o funcionário gentilmente puxou a cadeira para que eu me sentasse.

A mesa ainda estava vazia, com exceção de uma garrafa de champanhe e duas taças, e no tempo que passei ali sozinho pude observar de longe os demais fregueses e percebi facilmente que eram todos de uma classe superior a minha.

Pouco tempo depois um sorridente Matthew sentou-se ao meu lado, parecendo um perfeito cavalheiro no seu blazer azul, com cabelo impecável. Nada restara do rato acuado da véspera, ali estava o próprio gato em pessoa.

*Então você veio professor?

Levei um susto tremendo.

Não me recordo de alguma vez mencionar qualquer coisa pessoal para ele, somente tomávamos alguns drinks e nada mais, cada um cuidava da sua vida.

*Não se assuste professor Smith. Em geral eu investigo muito bem as pessoas com as quais me relaciono...

*Mesmo os companheiros de bar? - perguntei intrigado.

*Principalmente os companheiros de bar...

*Posso saber por que?

*Claro! - disse ele exibindo seu melhor sorriso - Sou um rico empresário, que algumas vezes dá uma fugidinha para locais mais afastados, mas sempre tenho alguns seguranças cuidando de mim.

Fui direto ao ponto.

*Ontem você parecia um tanto quanto temeroso, se me permite dizer...

Matthew me olhou sério e tomou uma taça de champanhe antes de responder.

*Quem não estaria? Num dia tramávamos a morte do nosso presidente, no outro alguém atropela nossos planos...

Cheguei tão próximo dele que dava consegui ver alguns pelos brancos querendo escapar do buraco de seu nariz.

*Não existe nossos planos, eu nunca tramei nada contra ninguém - cochichei para ele com o coração aos saltos.

*Calma professor, calma! - pediu ele sorrindo - Foi um modo de dizer, eu não o estou incluindo no meu seleto grupo.

Respirei aliviado por alguns segundos, até ele continuar.

*Pelo menos ainda não...

*Do que o senhor está falando?

Matthew riu divertido.

*A sua procura por mim nesta noite significa que está interessado em saber mais sobre nossos planos...

Antes que eu conseguisse me defender, ele continuou sério.

*Se quisesse procurar as autoridades, já o teria feito, teve tempo suficiente para isso, meus homens passaram um relatório completo sobre seus últimos dias...

*Como você pôde? - disse sinceramente assustado - Quem de verdade é o senhor?

*Sou quem eu disse ser. Agora me responda professor, por que não procurou a polícia e nos denunciou? - disse e tomou mais um gole da bebida - Não que fosse conseguir fazer isso, é claro...

Senti um nó se formando na minha garganta e peguei uma taça e a enchi, bebendo o seu conteúdo de uma só vez.

O rato acuado agora era eu.

Não consegui pensar em nada para responder, somente o fiquei encarando e pensando em que enrascada eu havia me enfiado.

Matthew se levantou com um renovado sorriso no rosto.

*É por minha conta professor, fique a vontade.

Ele se foi rapidamente, da mesma forma que havia surgido.

Tomei mais duas garrafas de champanhe e uma dose dupla de whisky antes de pedir um táxi.

Percebi ao me levantar para sair da mesa que meu companheiro me deixara um cartão, com o endereço da sua empresa.

*É um grande de um filho da mãe, ah isso ele é... - disse alto e rindo devido o efeito da bebida.

Enfie o cartão no bolso do paletó surrado e fui embora. Pensei que nunca mais fosse ver Matthew, mas o futuro, um bem próximo, se provou diferente.

Um Pequeno ErroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora