Capítulo 18 - Você Nem Imagina

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O barulho da festa voltou a diminuir e a se resumir a conversa e música quando os carros saíram. Aquela não era uma pista, só uma rua deserta, e eles desapareceram de vista logo. Mas eu me deixei ficar virada para o lugar da largada, dando as costas para onde Marc deveria ainda estar. Não teria coragem de me mexer tão cedo.

Na minha cabeça, me fiz um pequeno discurso de motivação. Me lembrei de que tinha insistido para Marc me levar, que ele tinha deixado claro que não ficaria cuidando de mim e de que ele não tinha, afinal, decidido ir àquela festa por minha causa. Eu que tinha me infiltrado nesse plano, assumindo a responsabilidade de cuidar de mim mesma. E era o que eu faria, apesar de nunca ter me sentido tão insegura antes. Imaginava que teria que sair de minha zona de conforto naquela noite, só não sabia que seria jogada direto na festa onde eu seria a pessoa mais inapropriada e errada do planeta.

Então me deixei ficar ali, parada, tão invisível quanto achava que queria ser, esperando o momento em que voltaria a sentir meus pés firmes no chão.

Só percebi o tempo que tinha passado sem me mexer quando os carros voltaram pelo lado contrário de onde tinham saído. Eu só me afastei. O barulho do acelerador deles era assustador, mesmo que eu não pudesse vê-los com tanta gente na minha frente. Meu instinto me dizia para sair de perto. A atenção de todo mundo se voltou a linha de chegada, e muitos fizeram questão de se aproximar para ver melhor, batendo em mim conforme eu dava passos para trás. Era a única ali que tinha mais medo do estrago que faria se um carro perdesse o controle do que curiosidade para vê-los correndo.

Eles passaram como um zumbido, demorando para parar, mesmo depois de um grupo de pessoas comemorar e outros reagirem à perda. Continuei cambaleando para trás, ainda que a corrida tivesse acabado e os motoristas desacelerassem. Aquele já era um lugar estranho demais para mim, a última coisa que queria era me sentir ainda mais em perigo.

Só parei de recuar quando bati o pé em alguma coisa e quase perdi meu equilíbrio. Foi quando percebi que eu vinha me abraçando, segurando cada cotovelo com uma mão. Por sorte, ainda que eu não tivesse tempo de reagir e me apoiar, um cara me segurou antes que eu caísse para trás.

Assim que vi que tinha esbarrado em uma caixa de gelo, percebi qual teria sido o tamanho do acidente se ele não tivesse me ajudado. Me endireitei na hora, enquanto o rapaz sorria de um jeito simpático que visava mascarar como era vergonhoso da minha parte ter quase me juntado às cervejas. Seus olhos pararam em meu rosto por um segundo, e, quando ele franziu as sobrancelhas, senti meu corpo gelar com a possibilidade de ele ter me reconhecido.

Mas tudo que ele falou foi: "Você está bem?"

Murmurei que estava, mas nenhuma palavra saiu direito de minha boca. Ele, sem questionar se eu ao menos falava a mesma língua, me indicou uma garrafa de cerveja. E eu sorri, que foi o suficiente para que ele entendesse que estava aceitando. Era sua função cuidar da caixa de bebidas, abrir uma garrafa e me entregar, mas eu ainda achei toda a interação um pouco desconfortável. Então, assim que tive certeza de que conseguia me equilibrar outra vez, lhe ofereci um sorriso de agradecimento e saí dali.

Instintivamente, assim que comecei a andar pela festa, meus olhos buscaram Marc. Eu o encontrei sentado no telhado da casa, com várias outras pessoas. Uma delas era uma garota loira, que estava em seu colo como sua namorada, a mão dele em sua coxa, o braço dela em volta do seu pescoço. Devia ter sido ela quem tinha roubado sua atenção de mim, logo antes de me deixar sozinha. Parei de olhar assim que ela se inclinou para beijá-lo e eu percebi que conseguia ver por baixo de sua saia de onde estava. E, depois disso, fiz questão de não olhar para lá outra vez.

Sentindo que, quanto menos ficava parada, melhor eu me sentia, me obriguei a andar pela festa. Eu olhava para as pessoas, nem que fosse para um sorriso rápido ou para ser ignorada. Bebia a cerveja enquanto andava, fingindo para mim mesma que só estava sozinha, e não solitária; que não tinha problema não conhecer ninguém ali, a não ser um cara que tinha se esquecido de mim nos primeiros segundos. Eu estava bem. Não tinha nada a provar para nenhuma daquelas pessoas, que nem prestavam atenção em mim. Estava livre de julgamentos. Aquele território fora da minha zona de conforto também poderia ser chamado de liberdade. Eu só tinha que aprender a aproveitá-la.

A Herdeira do TronoWhere stories live. Discover now