Capítulo 17 - Inapropriado para Princesas

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Nunca tido ali. Reconheci o pequeno pedaço de corredor pelo qual tinha passado da última vez que tinha falado com Marc, mas todo o resto me era estranho. Só sabia mais ou menos qual caminho seguir pelo que Liev tinha me explicado, depois de eu prometer que só precisava encontrar um cozinheiro qualquer para lhe pedir uma informação e exigir que ela me deixasse vir sozinha.

Soube que entrava na cozinha antes mesmo de alcançar a porta. O cheiro delicioso e quente de comida sendo preparada me encontrou ainda no corredor, me fazendo apressar meus passos para entrar no cômodo em que ele estaria ainda mais forte e acolhedor. A quantidade de criados que corriam para todos os lados, bastante ocupados, era um tanto curiosa. Ninguém poderia adivinhar que do outro lado da porta estava um corredor praticamente vazio. Não quando devia ter mais de cem pessoas trabalhando incansavelmente em uma cozinha muito maior do que esperava ver ali.

Era, em uma palavra, hipnotizante. Nos primeiros segundos ali dentro, tentei entender o que algumas pessoas faziam, mas fui obrigada a desistir. Não conseguiria acompanhar. Mal conseguia ver um pequeno espaço por onde passar para chegar ao que Liev tinha descrito como o lugar mais provável para o responsável pelas comidas de café da manhã.

Por sorte, ou talvez azar, já que aquela era a última coisa que eu queria, uma das criadas que passou por mim mirou seus olhos em meu rosto, e o que viu a fez quase largar da bandeja que segurava.

Em poucos segundos, a atenção de todos tinha sido chamada, interrompendo o que faziam para que se virassem na minha direção e esperassem algum tipo de ordem. Mesmo depois de eu insistir que não precisava, nenhum deles relaxou. Aproveitei a pausa e o espaço que criaram para ir desconfortavelmente até a parte da padaria, sentindo todos os olhos em minhas costas.

Tudo aquilo só me fez precisar ainda mais falar com Marc. Minha mera presença tinha desfeito uma cena que eu mesma tinha adorado presenciar. Necessitava cada vez mais ir a algum lugar onde pudesse ser invisível.

A parte de padaria da cozinha era separada por portas de vidro um tanto eficientes, que mantiveram a música que Marc ouvia como um pequeno murmúrio do lado de fora. Ficaram ainda mais impressionantes quando eu as abri e percebi o volume em que ele escutava.

"Ainda não terminei," falou, de costas para mim, provavelmente pensando que eu era outra pessoa. "Já disse que vou avisar quando tiver terminado."

Claramente, a música não estava daquela altura por algum problema de audição dele, se conseguia me escutar entrando. Pensei em explicar que não era quem ele pensava que era, mas achei meu silêncio ainda mais divertido. Principalmente quando ele se virou, pronto para reclamar da insistência de quem o incomodava, e deu de cara comigo.

Para minha surpresa, em compensação, ele não pareceu estranhar tanto minha presença ali, salvo pela confusão. Tinha farinha até os cotovelos, um pequeno pedaço de pele à mostra entre ela e as mangas de outra camiseta branca furada - ou será que era a mesma? - mas cruzou os braços sem hesitar.

"Não fui eu," disse antes que eu ao menos explicasse por que estava ali.

Me preparei para perguntar do que ele estava falando, mas entendi antes que uma única palavra saísse de minha boca.

"Eu sei," falei ao invés. "Devo me preocupar por você achar que nós demoraríamos dois dias inteiros para descobrir ou questionar a origem de uma informação tão importante quanto esta?"

Ele descruzou os braços, deu a volta na bancada em que trabalhava e, antes de me responder, mirou um soco na pobre massa que ele aparentemente vinha preparando antes de eu chegar.

"A não ser que você se importe com a minha opinião," ele pausou para poder dar outros socos, "não."

Me aproximei devagar da bancada, ganhando tempo ao observá-lo trabalhar. Ele virava a massa de vários jeitos diferentes, a esticava, depois a dobrava, tão hipnotizante quanto o que acontecia do outro lado das portas de vidro. Tinha toda intenção de começar o assunto que tinha me levado até ali, só não sabia direito por onde. E adiá-lo não parecia a pior das ideias.

A Herdeira do TronoOnde histórias criam vida. Descubra agora