Se existe algo que não evolui na minha vida é relacionamento amoroso. Tenho 27 anos e já conheci homens de todos os tipos. Meu primeiro namoro no colégio foi uma maravilha: namorado romântico, atencioso, carinhoso e tudo mais que uma menina espera. Demorei alguns anos criando coragem de perder a virgindade com ele e decidi que seria ao me formar no ensino médio. Ele era um ano mais velho do que eu e já estava na faculdade.

Apareci de surpresa na casa dele quando seus pais estavam viajando. O que encontrei? O cretino transando com uma colega de faculdade no sofá da sala. Típico.

Fiquei arrasada. Mas já na faculdade, ainda tentando superar aos trancos e barrancos essa decepção, conheci um cara. Lindo, divertido, inteligente. Caí na lábia dele rapidinho. Começamos a sair juntos e o escolhi para ser meu primeiro. Transamos e ele nunca mais atendeu um telefonema meu ou respondeu uma mensagem que fosse.

Desde então, prometi a mim mesma que nunca mais me submeteria a esse tipo de situação. Dali em diante, eu ditaria as regras da minha vida romântica. Hoje, eu me divirto ao sair e ter uma aventura aqui e acolá. Mas nada mais do que uma noite.

Entendo que me fechei para não permitir que nenhum homem me magoe, mas isso tornou as coisas muito mais fáceis para mim. Não vejo nada de errado em sair com um cara bonito só para aliviar a tensão. Simplesmente sexo. Obviamente, muitos homens aceitam isso com tranquilidade.

Nunca me apaixonei loucamente, aquela coisa de filmes românticos. E para ser bem sincera, acho tudo isso um enorme papo-furado. Paixão avassaladora simplesmente não existe. O que se vê em filmes não é nada mais do que uma tentativa de iludir mulheres e fazê-las acreditar que o homem perfeito existe e que, quando o encontrarem, terão seu "felizes para sempre".

E tudo isso tem um lado muito bom. O fato de eu não ter relacionamentos sérios me ajudou a focar mais na carreira. Quase toda a energia que eu gastaria com namorados e relacionamentos acaba sendo transferida para trabalho e estudos.

- Julia, não consigo te entender. Já cansei de ver você falando desse jeito. Não sei se você realmente tenta se interessar pelas pessoas que conhece. Se você não der uma chance, como vai saber que o cara não tem a ver contigo? É possível que você tenha deixado passar o amor da sua vida com esse seu jeito...

Marina e seu romantismo...

Viro para encará-la e digo:

- Má, esse seu jeito "romântica até embaixo d'agua" é que eu não consigo entender. Quantas vezes você quebrou a cara com esse seu pensamento?

Ela olha para cima como se estivesse calculando a longa lista de decepções amorosas que já teve.

- Algumas... - admite Marina. - Mas ainda assim acredito que vou encontrar o cara certo para mim.

- Exatamente! Eu também aplico parcialmente isso. Já ouviu a máxima: "Enquanto não acha o certo, divirta-se com os errados?" - falo, às gargalhadas.

- O problema é que você não procura de verdade o certo, amiga...

- O "certo" é relativo.

***

Chego em casa quase às 11 horas da noite e meus pais ainda estão acordados vendo jornal na TV da sala. Para variar, os dois estão falando sobre a empresa.

- Filhota, tem comida na geladeira e você pode esquentar no micro, se quiser - diz minha mãe assim que me vê.

- Oi, mãe, não precisa, não, já comi umas castanhas e uma fruta na faculdade. Estou bem. Oi, pai!

- Oi, filha! - responde meu pai. - Como foi o dia?

Deixando a bolsa em cima da mesa, eu me sento no outro sofá e respondo:

Vênus sobre a conchaWhere stories live. Discover now