Conto - Uma nova vida

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Minha vida é marcada por uma sequência de acontecimentos fatídicos, como se de alguma forma merecesse passar por tudo aquilo. Uma dor sufocante me envolvia e um vazio gigante habitava dentro do meu corpo ao ponto de um grito ecoar facilmente. Com o tempo aprendi a conviver com essa solidão interna por não ter outra escolha.

Mas por esses dias estive vivendo momentos fora da minha realidade, porem era complicado e algumas decisões precisavam ser resolvidas. Estou revivendo em meus sonhos algo que por tanto tempo desejei, e até então não consegui: amar e ser amada.

— Ramaly, corda! Vai buscar agua, já está na hora. – Sou despertada por uma irritante voz feminina, bradou de uma forma que meus tímpanos vibraram.

Levantei às pressas, apenas lavei meu rosto e segui até a fonte de Jacó, onde todos da cidade retiravam água.

O sol estava em seu esplendor no céu, no topo do horizonte, onde a sua luz é maior e o seu calor é intenso. Já começo a temer a aproximação do poço, sempre encontro um Judeu pelo caminho, sou desprezada por eles por ser um povo rival do nosso, e por não ser um horário convencional ao costume da região para recolher a agua, concluindo assim que sou uma mulher malvista, uma pecadora lasciva. As mulheres tinham costume de buscar ao crepúsculo do dia.

Há poucos metros do poço de Jacó, avisto um homem sentado em uma pedra, passando o dorso da mão em sua testa, enxugando o suor do calor latente do momento.

Estou receosa de me aproximar, mas a minha cede é mais forte do que meu medo e vou adiante.

Ao chegar ao destino planejado, o silêncio é quebrado com a voz apaziguadora. Tomo um susto com o seu pedido, e por ter direcionado sua palavra a mim, mulher samaritana e pecadora.

— Dê-me um pouco de água.

— Como o senhor, sendo judeu, pede a mim, uma samaritana, água para beber? – o interroguei, sem olhar em seus olhos.

— Se você conhecesse o dom de Deus e quem lhe está pedindo água, você lhe teria pedido e ele lhe teria dado água viva. – Estava surpresa por ainda dialogar comigo e por ouvir dizer que ele mesmo me daria agua viva se pedisse. Mas como, se nem balde suas mãos possuem? Então eu o pergunto:

— O senhor não tem com que tirar a água, e o poço é fundo. Onde pode conseguir essa água viva? – Respirei e engoli seco, minha garganta pedia agua e eu ainda não havia jogado o balde até o fundo, e continuei perguntando: — Acaso o senhor é maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, bem como seus filhos e seu gado.

— Quem beber desta água terá sede outra vez,
mas quem beber da água que eu lhe dé nunca mais terá sede. Pelo contrário, a água que eu lhe dé se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna. – Ao ouvi-lo relatar fatos tão inimagináveis por qualquer pessoa, que facilitariam minha vida e deixaria de ter esse trabalho destinado a mim, onde todo dia buscava água nesse local. Uma água que jamais sessa e supre nossa cede todos os dias.

— Senhor, dê-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem precise voltar aqui para tirar água. – Meus olhos brilhavam por tamanha conquista que teria, conversar com esse homem está sendo uma sensação maravilhosa e inexplicável.

— Vá, chame o seu marido e volte.

Nesse momento meu coração parou. Ninguém sabia sobre o meu envolvimento com um rapaz que me arrancou suspiros, apenas a lua era testemunha, mas ele não era meu marido. Em toda minha vida vivi em um prostíbulo. Minha mãe e eu ficamos sozinhas no mundo. Única solução foi vender nossos corpos para ter uma moradia e comida. E ela morreu no ano passado muito doente.

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⏰ Last updated: Apr 13, 2017 ⏰

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