Complexos e paranoias

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Me lembro das vezes em que eu caí de cara no chão enquanto corria.

Me lembro das vezes em que eu esquecia das quedas recentes dos dentes de leite e passava o creme dental por cima da janelinha.

Me lembro das vezes em que eu errava os passos e caía da grande árvore que minha avó cultivava em seu quintal.

Me lembro das vezes em que eu bati a cabeça e precisei raspar parte do meu cabelo para fazer os pontos.

Me lembro das vezes em que eu bati a cabeça no extintor de incêndio pois havia sentado embaixo dele.

Me lembro das vezes em que eu quebrei a perna andando de skate.

Me lembro das vezes em que eu quebrei meus dedos por simplesmente esquecer que eles estavam dentro de alguma coisa.

Me lembro das vezes em que eu prendi a mão na porta do carro.

Me lembro das vezes em que eu queimei quimicamente meu couro cabeludo quando descoloria-o.

Me lembro das vezes em que eu torci o pescoço por fazer movimentos bruscos.

Ainda não sou a pessoa mais atenciosa e centrada do mundo.

Me lembro das vezes em que tentei fazer greve de fome, porém não conseguia durar cinco minutos.

Me lembro das vezes em que tentei vomitar com dois dedos, mas tenho estômago forte.

Me lembro das vezes em que ficava me encarando no espelho e me perguntando "será que ainda chega para mim a beleza?".

Me lembro das vezes em que eu chorei pois me achava feia e gorda.

Me lembro das vezes em que eu era criança e punha a tesoura sem ponta em cima da barriga e pensava "barriguinha redonda, suma".

Me lembro das vezes em que eu me mutilei na barriga e coxas.

Me lembro das vezes em que eu exagerei na maquiagem para apenas não parecer eu mesma.

Mudou.

Colocam pessoas na sua vida para fazer você se questionar sobre a vida.

"Realmente quero viver?" Fica o questionamento.

Quem me ajudou parecia não errar em nada, que não cometia gafes, que não acordava com cara amassada e que não tinha gordurinhas extras.

Parecia injusto tanta perfeição, parecia injusto um ser humano caber perfeitamente no estereótipo de perfeita.

Apenas de longe, era isso que eu via.

Mas aprendi que nada é perfeito.

Com quem?

Minha psicóloga.

Shin Hyejeong.

A filha de Afrodite e Murphy.

O aperfeiçoamento da beleza em maior número da escala, e aquela que me faz cair aos seus pés (dos dois sentidos, pois ainda sou desastrada).

daughter !chan+jeong!Where stories live. Discover now