"Fique aqui", pensou ele, seu coração implorando para que as palavras fossem proferidas.

"Fique no lugar onde as estrelas sempre estão no céu. Fique e faça parte de minha vida."

Louis mordeu a língua para manter-se calado. Nada ganharia ao penhorar seu coração. Sabia que Harry retornaria a Nova York, em busca dos sonhos que dirigiam sua vida... Sonhos que sempre estariam entre os dois.

Afastou os pensamentos, recusando-se a lidar com as circunstâncias infelizes que não poderia alterar. No momento, simplesmente queria apreciar os momentos a seu lado, sem recriminações amargas do passado e sem visões fantasmagóricas de um futuro sem sua adorável presença.

Pousou um braço sobre seus ombros e Harry se inclinou contra seu corpo, assim como fizera centenas e centenas de vezes antes, tempos atrás.

Não havia nada sexual naquele gesto, apenas uma proximidade serena, calcada na confiança e nos laços profundos da amizade.

— Margaret e Susie estão maravilhosas, Louis. Você fez um trabalho e tanto com as duas.

— Eu apenas sinto que mamãe não esteja aqui para vê-las. Teria se sentido muito orgulhosa delas e também de você.

Harry suspirou, um suspiro muito suave contra o pescoço de Louis.

— Eu gostaria de conseguir me lembrar melhor de meus pais — disse ele. — Isto costumava me apavorar. Os dias se passavam e minhas lembranças se tornavam mais fracas e frágeis, até que um dia eu mal pude me lembrar da aparência dos dois. Então houve uma vez em que eu fiquei feliz por não me recordar, porque estava muito bravo com eles.

— Bravo?

— Eles me abandonaram. Era assim que eu sentia. Sei que é irracional, mas eu não estava bravo porque haviam ido embora e jamais retornado, mas porque haviam me deixado com um homem que era incapaz de me amar.

Ficou silencioso por um momento e então continuou:

— Poppy jamais conversou sobre meus pais. Nós nunca mencionamos a existência deles durante todos os anos em que morei com meu avô.

Louis ficou em silêncio, sabendo por instinto que Harry precisava conversar sobre aquele assunto, mas intrigado com essa nova faceta de sua personalidade, uma visão que ele jamais havia lhe mostrado antes.

Em todos os anos de amizade compartilhada, de devoção um ao outro, o então namorado nada falou a respeito de seus pais. Fora o único tópico que Louis sempre soube estar além do limite do relacionamento.

— Conte-me do que se lembra — pediu-lhe.

Harry mais uma vez olhou para as estrelas.

— Coisas poucas e inconsequentes, apenas isto. Como o cheiro do perfume favorito de minha mãe e a maneira como sua mão passava em minha testa. Lembro-me do riso de meu pai. Era um som forte... eu adorava.

Fitou Louis, o verde de seus olhos se escurecendo devido à emoção intensa. Seria apreensão? Medo?

— Harry... O que é isto?

Ele terminou de beber o café e então pousou a xícara no chão.

— Crescer sem os pais sempre deixa um vazio, não é mesmo?

Louis pensou em seu próprio pai, que falecera quando ele tinha quinze anos e então na perda da mãe, quando contava vinte e dois. Ambas as mortes haviam definitivamente deixado para trás um espaço difícil de ser preenchido.

— Sim, mas as coisas acontecem. As pessoas morrem.

— Seria algo terrível manter uma criança e um pai longe um do outro se ambos estivessem vivos — Harry afirmou enigmaticamente.

Um novo amanhã l.sWhere stories live. Discover now