— Poppy, Louis me falou que o senhor teve um ataque do coração depois que eu parti — murmurou, quebrando o silêncio ao lembrar-se das palavras do vizinho.

Ele franziu a testa.

— Aquele homem devia cuidar de seus próprios negócios e não ficar falando sobre mim.

— Por que não me escreveu? Tinha meu endereço. Por que não deixou que eu soubesse que estava doente?

Poppy o fitou, os olhos de um pálido verde, mas ainda ríspidos como sempre.

— O que você teria feito? Pelo que soube, não tirou diploma na universidade de medicina.

Harry mordeu a língua por um momento.

— Além do mais — continuou ele — não foi algo muito ruim. Eu já estava recuperado em pouco tempo.

Queria lhe dizer que o avô deveria ter lhe escrito porque ele se importava com o que lhe acontecia. Devia tê-lo deixado saber por que, a despeito do fato de ele ter deixado claro que jamais a considerou algo além de um fardo, ele o amava. Ainda o amava. A constatação a surpreendeu.

Por um momento não conseguiu falar, atônito demais com a realidade do amor que sentia pelo avô rabugento. Era o único parente que tinha, o pai e a mãe que havia perdido.

Poppy e Gretchen somavam a totalidade de sua família e ele percebeu que o passado devia ser superado. Afinal, havia um laço a uni-los, algo a ser preservado e fortificado.

— Louis e eu vamos levar Gretchen para a cidade esta manhã. Há uma festa de carnaval no campo atrás da quitanda. Gostaria de nos acompanhar?

Era o melhor que podia fazer, o máximo que suportaria. Não diria que o amava, recusava-se dar-lhe o poder de magoá-lo. Mas poderia lhe oferecer algo na forma do convite para se juntar a eles durante o dia.

— Carnaval? Um bando de tolos fazendo coisas sem sentido — murmurou com uma carranca.

Harry franziu a testa. Deveria ter imaginado qual seria a resposta.

— Acho melhor eu ir com vocês, assim aqueles exploradores não tirarão cada centavo do que têm — continuou, entretanto. — Além do mais, a menina provavelmente irá querer que eu cavalgue a seu lado.

Harry ficou muito contente. Novamente pensou por que ele era capaz de dar a Gretchen o que jamais fora capaz de lhe oferecer. Mesmo assim, procurou alegrar-se. Aquele seria um dia memorável. Um dia com Louis, Poppy e Gretchen...

Um dia em família que ele guardaria em um lugar especial de seu coração eternamente. Mesmo após sua partida da cidade, quando deixariam Louis e Poppy para trás.

Muitas horas mais tarde, todos estavam na caminhonete de Louis a caminho da cidade.

Gretchen tagarelava loucamente, excitada pela nova aventura que a aguardava. Nunca estivera em uma festa de carnaval antes e achava tudo aquilo muito emocionante.

Poppy estava sentado a seu lado, murmurando respostas a todas suas perguntas.

— Eu sei como é um carrossel! — exclamou a pequena orgulhosamente. — Andamos em um no ano passado no Central Park, não é mesmo, mamãe?

— Sim, querida, andamos.

— Poppy, você irá no carrossel comigo, não irá? — perguntou Gretchen. — Nós encontraremos para você um cavalo muito lindo, com uma cauda verde bem grande para combinar com seus olhos.

Poppy deu um meio sorriso e respondeu:

— Então teremos de encontrar um cavalo bem tagarela para você montar — respondeu por fim, fazendo a menina rir.

Um novo amanhã l.sWhere stories live. Discover now