Harry hesitou, então assentiu.

— Está bem.

Pegou sua xícara e acomodou-se em um banco.

— Ninguém faz tortas de maçã como Benny — falou Louis depois de experimentar o doce. — Lembra-se daquela que você fez na época de ginásio?

Harry irrompeu em risos.

— Oh, como poderia esquecer? Nós dois ficamos doentes por uma semana.

— Nunca tive uma dor de estômago tão forte.

— Acho que as maçãs estavam verdes. E talvez em nada tenha ajudado que eu a tivesse preparado em apenas meia hora e cada um de nós comido metade da torta.

O sorriso dele se intensificou, enriquecido pelas lembranças partilhadas.

— Tivemos bons momentos...

— Os melhores.

Houve uma longa pausa, mas sem desconforto. Era um silêncio de companheiros, de duas pessoas recordando-se de épocas agradáveis.

Louis comeu mais um pedaço da torta, bebeu outro gole de café e então o fitou novamente.

— Fale-me sobre Nova York, Harry.

Fitou-o, surpreso.

— O que você quer saber?

— Desejo saber onde morava, como era seu trabalho.... Se tudo correspondeu às suas expectativas.

— Temos um apartamento legal na Upper West Side. Não é chique, mas é um lar.

Fitou a xícara, incapaz de sustentar o olhar de Louis. Não poderia lhe dizer que perdera o apartamento, que fora incapaz de pagar o aluguel do minúsculo estúdio até mesmo trabalhando em dois empregos de meio período.

— A cidade em si é inacreditável — continuou. — Há correria e excitação o tempo todo, o que é muito contagiante.

Não mencionou o medo, a frieza da metrópole, a solidão que com tanta frequência sentira, a despeito de existirem tantas pessoas a seu redor.

— Um lugar divertido para se viver — concluiu por fim. O que ele gostaria de lhe dizer era que não vivenciara os sonhos, pelo menos ainda não. Morar em Nova York, tentar encontrar trabalho, tudo fora muito mais difícil do que jamais imaginou. Mas o orgulho o impedia de confessar aquelas coisas.

— E quanto a você? Conte-me sobre sua vida. O que fez nos últimos cinco anos? — Indagou Harry, querendo desviar o foco da conversa de sua pessoa.

— Não há muito a contar. Levo uma vida simples. Trabalho no campo, visito Poppy, ocasionalmente pesco e algumas vezes assisto filmes. Tenho certeza de que é muito aborrecedor comparado à sua vida.

— Não é, não — protestou.

Levantou-se e foi até a cafeteira para servir mais café a ambos.

— Tenho certeza de que Poppy aprecia sua ajuda aqui — disse Louis.

Harry voltou a sentar-se.

— Para ser honesto, estou apreciando o trabalho. Nunca me importei em trabalhar aqui — acrescentou sorrindo. — Glenda Snider veio outro dia. Partiu meu coração ver que a chefe da torcida esportiva engordou tanto e parece estar muito estressada devido a seus três filhos.

Louis riu.

— Partiu seu coração? Você está muito fragilizado, Harry.

— Fragilizado? Não, apenas humano. Glenda era uma das garotas mais bonitas do ginásio. Não pude deixar de ficar triste ao observar que ela já não é mais a pessoa glamourosa de antes.

Um novo amanhã l.sWhere stories live. Discover now