— Oh, Poppy irá se acostumar com Linda... Assim como irá gostar de mim!

Agradou o bichinho enquanto o animal passava a língua rosada por sua bochecha.

Harry começou a tirar os pertences do porta-malas, maravilhado, como sempre, com o milagre de ter uma pessoa tão especial quanto Gretchen como companheira.

Havia dias em que a filha parecia ter vindo para lhe salvar a sanidade. Era verdadeiramente um presente dos céus, talvez para compensar o restante de sua vida, tantas vezes semelhante a um inferno na Terra.

Caminharam de volta à casa e o perfume das flores os acalentava. O milharal fez o sussurro habitual, uma canção tão familiar, e por um momento Harry pôde ouvir o eco dos risos de um passado distante.

A lembrança de seu próprio riso e do som profundo da alegria de um homem lhe trouxe uma sensação de felicidade mesclada à tristeza.

Deu uma olhada para a casa vizinha. Embora houvesse alguma distância entre as residências, as duas estruturas estavam próximas o bastante para que o sinal de luz de uma janela pudesse ser captado pela pessoa da outra casa.

— Linda poderá dormir comigo? — Gretchen perguntou, enquanto entravam na casa.

As janelas às escuras indicavam não haver ninguém no interior da outra moradia. Será que a família dele ainda morava ali? Tentou ignorar a dor que o pensar em Louis sempre lhe causava.

— Papai?

— O que foi?

O perfume familiar o envolveu, e lhe trouxe recordações de muito tempo atrás. Lembranças de uma paixão inesquecível e de sonhos antigos... E de Louis.

Gretchen puxava sua camisa com tamanha insistência que em breve o deixaria nu.

— Então ela pode? — indagou.

— Quem pode o quê? — Harry perguntou de volta, afastando da mente o passado e fitando a menina.

— Linda poderá dormir comigo?

— Não acho boa ideia. Ela terá de dormir na cozinha. Precisaremos ajeitar alguns jornais, já que ainda não está habituada a morar em uma casa.

— Linda vai se sentir muito só...

A cachorra resmungou, como para acentuar as palavras ditas em tom de lamento. Harry sorriu para a filha.

— Mas se adaptará com rapidez. E você não sentirá solidão, porque estará em meu quarto. Eu serei seu companheiro de quarto.

Gretchen sorriu alegremente.

— Acho que vou gostar daqui — anunciou ao aproximar-se da porta da frente.

A cadeira de balanço estava vazia e a casa totalmente silenciosa quando Harry e a filha entraram na sala de estar.

—Para onde foi Poppy?—perguntou a pequena suavemente.

— Deve ter ido para a cama.

— Mas não nos deu um beijo de boa-noite — reclamou, desapontada.

— Poppy não gosta muito de beijar — Harry lhe explicou, lutando contra o velho ressentimento.

Gretchen o fitou, espantada.

— E claro que ele é de beijar — protestou. — É um bisavô!

Harry mordeu os lábios e conduziu a menina para o andar de cima, rumo ao quarto onde passou os anos de sua infância.

Exceto pela cama pequenina ajeitada a um canto, tudo estava exatamente como ele deixara havia cinco anos, quando abandonara a cidadezinha em busca de algo diferente, alguma coisa melhor.

Um novo amanhã l.sWhere stories live. Discover now