Ri da mensagem e, antes que voltasse a digitar, a loira chamou a minha atenção.

- Senhor Hayes, você e sua filha podem me acompanhar até a mesa que já está pronta para recebê-los.

Paralisei no mesmo lugar e Nick fez o mesmo. Quando a mulher notou que não a acompanhávamos, voltou de imediato. Eu quase podia ouvir o ranger dos dentes de Nicholas ao meu lado e eu só sentia as lágrimas uma atrás da outra descendo por meu rosto.

O meu pior pesadelo. Nicholas fora confundido como meu pai. Engoli em seco e olhei para ele enquanto a garota loira voltava pálida ao nosso encontro.

- Senhor? Está tudo bem? Eu disse algo errado? Me perdoem. Deixem que o jantar seja por nossa conta.

Um soluço escapou por entre meus lábios e, poderia parecer exagero, mas ninguém nunca entenderia a dor que eu sentia naquele momento. Ninguém jamais saberia a dor de passar por tudo o que eu e Nicholas passamos e ainda sofrermos todo o preconceito. Mesmo que fosse sem querer, mesmo que não fosse intencional. Doía muito.

- Não. Muito obrigado. - Nicholas falou por mim. Ou melhor, sibilou já que seus dentes permaneciam cerrados.

- Senhor, me perdoem. Tem algo que eu possa fazer por...

- Você já fez o suficiente por hoje.

Nicholas me abraçou pelos ombros e beijou meus cabelos, se afastando comigo para longe dali. Para longe dos monstros que insistiam em nos atormentar dia e noite.

Já dentro do carro, consegui responder Bianca:

Bia, a mulher chamou o Nicholas de meu pai. Eu fiquei péssima.

Nenhuma mensagem veio em seguida, Bianca deveria estar preocupada com seus próprios assuntos e eu não tinha o direito de importuná-la.

Deitei a cabeça no encosto do banco do carro e fechei os olhos, acariciando minha filha que parecia mais agitada agora que eu estava triste. Senti a mão de Nicholas vez ou outra em cima da minha e eu me limitava apenas a sorrir.

Quando chegamos em casa, Marceline já estava recolhida e eu não sentia fome. Mas como agora carregava um outro alguém dentro de mim, tinha que pensar nela. Nicholas disse que pediria um lanche para nós e eu salivei de imediato. Não demorou para chegar e eu logo me deliciei naquela maionese caseira que enviaram para nós.

Não conversamos depois do acontecido. Nosso apoio era silencioso e não havia muito o que ser falado. O meu restaurante favorito já não era mais o meu lugar preferido para comer.

Me peguei pensando em quantos não achavam que Nicholas era meu pai. Aquele homem era pai da garotinha que parecia ter se metido em problemas ao engravidar. Mas nunca pensariam que aquele homem maduro estava com aquela criança. Era quase um ultraje às mulheres que eram maduras como ele e que o desejavam.

Quantas mulheres Nicholas não deveria estar envolvido antes de me conhecer? Quantas não me odiavam por tê-lo pego para mim? Quantos não entendiam que aquilo era mais do que corpo? Quantos não entendiam que o nosso sentimento era de puro amor? Antes de ser, já era amor. Antes de ser sexo, era amor. Antes de ser pele, era sentimento.

Nós não transamos como fazíamos quase todas as noites. Estávamos magoados demais, machucados demais e eu chorei antes de dormir, envolvida pelo abraço do amor da minha vida. Dos meus dois amores.

Já era manhã quando acordei de um pesadelo e Nicholas tomava banho. Peguei meu celular e vi as mensagens de Bianca:

Como assim? Alguém demite essa mulher, pelo amor de Deus! Isso não é constrangimento? E como ela atreve magoar a minha melhor amig? Me fala quem é que hoje mesmo eu vou bater nela. Vou fechar aquele restaurante!

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