Onde Nós Nos Conhecemos

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Como não podia ser diferente, havia uma fila considerável de pessoas esperando para subir à Torre Eiffel. Uma das pessoas que esperavam sua vez era Pierre, o qual faria sua primeira visita ao monumento histórico. Seus amigos diziam que era uma vergonha que ele nunca tivesse ido até a Torre, pois ele era parisiense, porém, sua mãe achava que era sua culpa, afinal ela não levou o filho na Torre Eiffel, que também era o lugar onde ela e seu pai se conheceram. Pierre sempre respondia que não se importava em conhecê-la, pois já havia ouvido tanto aquela história, com tantos detalhes, que já não fazia diferença nenhuma. Mas após ela tanto insistir, ela finalmente o convenceu a ir e lá estava ele, esperando na longa fila para subir.

Devagar, pouco a pouco, as pessoas foram sendo liberadas. Os pais de Pierre conversavam animados entre si, relembrando o dia de seu primeiro encontro naquele lugar. Pierre, por sua vez, permaneceu calado o tempo todo. Quando finalmente chegou sua vez, o filho foi o primeiro a entrar, o que, consequentemente, deixou-o no fundo do elevador, que foi se enchendo até que a última pessoa entrasse: uma jovem, bela, cabelos ruivos curtos, pele branca, olhos verdes brilhantes e um sorriso que o cativou. Foi amor à primeira vista.

Assim que eles chegaram ao segundo andar e as pessoas foram descendo e se posicionando através da torre, Pierre perdeu a garota de vista. Seus pais o chamaram para mais perto da janela, onde eles poderiam ter a bela vista de Paris. Seu pai contava que viu sua mãe desde o primeiro momento e ficou criando frases e mais frases do que ele poderia dizer antes de sair com um simples "oi"; a mãe, porém, revelou que ela nem o havia notado, mas que gostou dele desde o começo; mas Pierre não parecia dar atenção nem àquela conversa, nem à vista à frente.

Eles passaram meia hora naquele andar antes que a mãe lhe dissesse que eles deveriam subir. Pierre pegou o ticket que permitiria entrar no último andar onde a vista era ainda mais magnífica e, também, onde seus pais se conheceram. Eles foram subindo as escadas, com os pais narrando ao filho em detalhes como foi aquele encontro, porém, na metade do caminho, a mãe percebeu que havia algo que incomodava Pierre. Ela perguntou, insistiu, mas ele evitou o assunto de toda maneira.

Quando eles finalmente chegaram ao terceiro andar, Pierre a viu, sozinha em um canto, observando os raios de sol atingirem as casas e prédios de Paris, o povo lá embaixo como formiguinhas andando a pé ou com seus carros que não pareciam tão velozes. Pierre parou, sem conseguir tirar os olhos dela:

— Ah, então é isso que está te incomodando. Vai lá falar com ela – disse o pai, indicando a garota isolada do outro lado da torre para a esposa.

— Eu? Não, eu não posso – respondeu Pierre em voz baixa.

— Claro que pode. Se eu tivesse pensado assim 40 anos atrás, você não estaria vivo hoje.

— Seu pai tem razão – concordou a mãe – Vai lá. Ela está sozinha e você sabe muito bem o que eu sempre digo.

— Sei, sim. Mas o que eu falo?

— Um "Oi" funcionou muito bem com sua mãe.

E Pierre foi. Ele se aproximou devagar, pensando se seguiria o conselho do pai ou diria outra coisa. Ele chegou a parar duas vezes, mas sempre voltou a andar até alcançá-la.

— Oi – Pierre disse, parando ao lado dela.

— Oi – A mulher respondeu, olhando ainda para a vista, mas retribuindo com um sorriso – É bonito, não é?

— Sim, é lindo.... Você está sozinha?

— Estou. Meus amigos não quiseram vir.

— Azar deles.... Mas sabe, minha mãe sempre disse que não devemos ver a vista da Torre Eiffel sozinhos.

— É um bom conselho, mas, então, você está acompanhado de alguém?

— Na verdade, não. Acho que vou levar uma bronca dela.

Pela primeira vez ela tira os olhos da vista de Paris e se vira para Pierre, dando uma leve e espontânea risada.

— Então acho que podemos vê-la juntos. Não quero que você leve uma bronca da mamãe.

E assim eles passaram as próximas quatro horas, vendo a vista de Paris e conversando muito. Ele contou sobre como seus pais se conheceram naquele lugar, ela contou como seus pais nunca saíram de Marselha, ele contou como foi sua infância parisiense, ela contou como estava sendo seus primeiros meses na cidade luz e assim por diante. Finalmente ela olhou no relógio e disse:

— Já está tarde. Eu preciso ir. Vamos embora?

— Na verdade eu acho que vou ficar aqui mais um pouco. Mas eu adoraria pegar o seu número, nós podemos nos encontrar depois, em outro lugar.

— Claro.

Ela passou seu telefone e foi embora. Ele ficou ali, fazendo um sinal de despedida com a mão direita até depois dela se distanciar e não poder vê-lo.

— Você já pode abaixar essa mão – disse o pai de Pierre.

— Você tem razão. Agora somos só nós três.

— Sim, vamos aproveitar essa vista linda – disse a mãe – Eu gostei dela. Meus netos vão ser lindos.

— Mãe...

Um pouco mais ao lado, um menino puxava a camisa de sua mãe e, depois, falou baixo em seu ouvido:

— Mãe, com quem aquele moço está falando?

— Eu não sei, filho, mas é melhor nós não ficarmos perto. Vai que ele é perigoso.



Conto produzido para a Oficina de Contos do Vlog do Escritor https://www.youtube.com/watch?v=_zrFgYSuFFo

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⏰ Last updated: Mar 20, 2017 ⏰

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