— Passe essa lindinha para mim — pediu e mesmo eu levantando com cuidado, mas Mabel não me deu um desconto, assim que percebeu a movimentação voltou a berrar ainda mais forte. — Vá! Saia logo daqui, eu a acalmo.

Eu ainda estava meio incerta quanto aquela ideia e foi muito doloroso precisar deixar minha filha se esgoelando de chorar com Luana enquanto eu ia atrás de algo para forrar meu estômago vazio.

Só percebi o quanto estava acabada quando passei diante de um espelho no corredor e vi meu rosto de quem precisava de uma noite de sono completa, uma boa refeição e um longo banho bem quente e relaxante.

Fui até a cozinha e me encontrei com Maitê. Ela era uma senhora da igreja da Amanda, contratada especialmente para cuidar das refeições e prontamente providenciou algo para me ajudar a recobrar as energias. Enquanto comia, eu fui contando pra ela sobre a situação da bebê e fiquei um pouco tensa ao ouvir seu comentário.

— Tudo é mais difícil quando estamos sozinhas, não é, querida? Criei meu primeiro filho ao lado do meu marido e foi ótimo ter alguém comigo me ajudando e apoiando. Mas antes do nascimento do segundo, ele morreu num acidente e eu fiquei sozinha. Só Deus mesmo pra ter me dado forças. — Ela contou triste, e enquanto dava detalhes de como fora sua vida com o falecido, eu divagava como a minha poderia ter sido diferente se Victor e eu tivéssemos feitos as coisas da maneira correta. Nós poderíamos ter nos casado, Mabel nasceria num lar estruturado e eu não precisaria me preocupar o tempo todo com a segurança dela.

Afastando aqueles pensamentos, eu pedi licença para sair da cozinha. — Vou aproveitar o auxílio da Lu para ir tomar um banho. Obrigada pela companhia dona Maitê.

Voltei para o quarto onde Luana ainda tentava acalmar a bebê e implorei por mais cinco minutos do tempo dela. Ela concordou de bom grado e eu pude agradecer a Deus por aqueles instantes de baixo do chuveiro, onde até mesmo pude lavar meus cabelos sem preocupações. Saí renovada e até mais leve do banheiro. Porém, o sentimento não durou muito. 

Quando entrei no dormitório novamente as más notícias começaram.

— Sarah, eu senti que a Maria Isabel estava ficando quentinha e resolvi medir a temperatura dela. Ela está com 39°C — exclamou Luana.

Meu coração gelou no mesmo instante e eu, rapidamente peguei a bebê no colo e busquei confirmar as palavras da minha colega. Para o meu choque, ela estava certa e eu rapidamente tomei as providências.

— Vou dar um banho nela. Liga pra Amanda e pede pra ela vir pra cá. — avisei já tirando o macacão da bebê.

— Tudo bem. Eu já venho — e saiu das minhas vistas.

Agilmente aprontei o banho da pequenina e comecei a tomar as medidas necessárias para abaixar aquela febre.

— Eu não deveria ter te deixado. Perdão, meu amor. Perdão — eu murmurava enquanto molhava o corpinho super-aquecido de Mabel na banheira. — Como eu não percebi que você estava doentinha? Sou uma péssima mãe, me perdoe.

— Sarah, a Amandinha não vai poder vir hoje — informou Luana ao retornar depois de alguns minutos. — Ela passou mal e a obstetra mandou ela fazer repouso para proteger o bebezinho dela.

— Aí meu Deus, e agora? Ela é única enfermeira que eu conheço, Luana — expressei com angústia e ao mesmo tempo que secava Mabel, tirei o termômetro de sua axila. — 38.8°C. O banho quase não ajudou.

— A Amanda pediu para você ir ver o doutor Murilo. Ele é pediatra de um hospital aqui perto e sempre atende o Arthur quando ele fica doente — propôs Luana tentando me ajudar. — Troque ela e espere lá fora. Vou acordar a Anelise.

Acatando as ordens de Lu, eu não demorei nem seis minutos em todo o processo, e pegando a carteira com os documentos, eu desci as escadas apressada com a bebê no colo. Para o meu alívio a motorista já estava me esperando com o carro ligado.

Anelise foi uma excelente amiga e durante o caminho além de me distrair conversando comigo, ela prometeu orar pela bebê e até me informou que Amanda já havia trabalhado no hospital e seria útil lembrar isso aos atendentes da recepção. 

Chegando ao local, eu fui direto ao balcão pedindo em nome da Amanda uma consulta urgente com o doutor Murilo.

— Ele não está — declarou a mulher de voz fanha atrás do balcão. Por estar entretida com um jogo de cartas virtual no computador, ela sequer olhou para mim.

— Por favor, minha filha está ardendo em febre. Ela precisa ser atendida agora — implorei, tentando despertar alguma comoção naquela ruiva desbotada.

— Não posso fazer o doutor Murilo brotar aqui, querida. Pegue uma ficha e espere para passar com o clínico geral como todos os outros — respondeu com uma grosseria que despertou em mim o meu lado de mamãe-ursa, e ele não costumava ser nada gentil com pessoas arrogantes.

— Minha filha está com febre alta e sendo um bebê de seis meses, ela pode ter uma convulsão com mais facilidade do que qualquer outro marmanjo com um mero resfriado ou dor de barriga — informei sem um pingo de paciência. — Não me importo se ela vai passar com o doutor Murilo, mas se acontecer algo de ruim com ela por conta da sua má vontade e desse serviço porco que está fazendo, você vai se arrepender amargamente. Por isso, arrume um pediatra pra ela, agora!

A mulher finalmente tirou os olhos da tela e me encarou atemorizada. — Tudo bem, senhora. Passe seus dados e sente ali, vou pedir para o residente de plantão te atender.

Com um gosto doce de vitória na boca, eu preenchi tudo, ganhei uma senha e fui para área de espera. Graças a Deus, a ficha da Mabel passou na frente dos outros e foi reconfortante quando o número contido no papelzinho dado pela recepcionista apareceu no telão, indicando minha vez de ser atendida.

Caminhei a passos largos até o consultório enquanto consolava a bebê de mais uma de suas crises de agitação. Eu bati na porta da sala do médico e a abri com uma confiança que foi quebrada no instante seguinte quando vi quem era o residente atendendo.

— Pode entrar — ele disse com a voz firme e eu senti todo meu corpo se desintegrar.

Era ele.

O residente era Victor.

Digam aí o que estão achando e o que imaginam que acontecerá 🤯😮💕

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