State of Grace | Projeto RED

Capítulo 5 - Massa Gelada

No caminho até a sorveteria favorita de Thea, eles passaram pelo Palácio de Amalienborg e tiveram a sorte de ser bem quando trocavam a guarda. Era um espetáculo, ainda que discreto, com trompetes e guardas de chapéus altos pretos e uniformes azuis. Ainda que Ariella parecesse incansável, imitando as pernas de cada um deles durante a marcha e mudando constantemente de posição, como se a nova fosse deixar tudo aquilo menos entediante, Thea e Erik perderam interesse rápido e a tiraram dali.

Um pouco mais confiante, levemente mais confortável do que antes, Erik se sentia agora na liberdade de focar seus esforços em conversar com Ariella. Ele inconscientemente a fez praticar seu dinamarquês, a pedindo para explicar por que tinha gostado tanto da troca de guarda, por que o cabelo vermelho, se ela estava gostando da cidade. A sereia respondeu cada pergunta com toda vontade, descrevendo como tinha se encantado com os movimentos idênticos dos guardas, como seu cabelo agora parece morango e várias outras coisas mais que faziam daquela estadia tão perfeita.

"Queria morar aqui para sempre," foi a última coisa que falou antes de eles chegarem à sorveteria. E então toda sua atenção e o amor que tinha em seu coração foram direcionados aos grandes retângulos coloridos. "É aqui? É aqui!" Gritou e, com um aceno de confirmação de Thea, ela correu para dentro.

Erik se deixou ficar para trás dessa vez, a observando ir em todas as fileiras possíveis, olhando para todos os sabores, tentando absorver todas as informações. Ela quis tocar cada um, mas sua mão sempre era impedida por uma camada de vidro. Então se contentava em encostar a testa nele, agachar e chegar seus olhos o mais perto que podia de cada sabor, os observando como se esperasse que fossem começar a mexer.

Era mais do que ela conseguia suportar em tão pouco tempo! Mais opções do que achava ser possível, muito mais cores do que já tinha visto em toda sua vida, mesmo naquele dia. Ela corria de um lado para o outro, apoiando sua testa no vidro, depois correndo para o outro lado, incapaz de se contentar, incapaz de se controlar ou ao menos compreender aquele mundo inteiro que tinha acabado de se abrir para ela.

Era só uma sorveteria. Para os humanos parados na porta dela, observando a sereia colocar sua nova habilidade com pernas à prova, era só uma sorveteria, das poucas que ainda sobravam abertas fora do verão. Mas, para Ariella, era a melhor parte de seu maior sonho se realizando.

Eles eram sólidos! E tão maleáveis com as colheres esquisitas dos funcionários ali, que ela não conseguia evitar ir olhar por cima do ombro de cada cliente que comprava um. Queria decorar aquele movimento, a facilidade e a elegância de tirar uma bola perfeita de algo que antes era um retângulo aparentemente duro e impenetrável.

Ela estava definitivamente apaixonada. E nem ao menos tinha provado um único sabor.

Quando percebeu que Thea se aproximava, virou-se para ela, seu coração batendo tão rápido e forte em seu peito, que lhe dava medo. Nunca o tinha sentido assim. Nem sabia que era possível. Uma prova de que estava viva e, ainda que não soubesse direito o que aquele sentimento era, bastante ansiosa também.

"Como vocês conseguem?" Perguntou, os cantos de seus olhos lacrimejando. "Como conseguem escolher?"

Thea sorriu, se sentindo mais próxima dela do que tinha conseguido desde que saíra do mar. Ela a entendia perfeitamente, sabia o que era desejar tomar todos de uma só vez, não conseguir deixar de escolher nenhum e sofrer ao perceber que seria impossível levar todos para casa. Era também uma de suas coisas favoritas no mundo. A diferença entre as duas era que ela tinha tempo para prová-los todos. Não ia a lugar nenhum. Morava ali.

Se imaginar no lugar da sereia, ter tanta vontade e tão pouco tempo para satisfazê-la, lhe incomodou mais do que esperava. Era como se algo tivesse mudado profundamente dentro dela, uma determinação que vinha à tona e que ela não abandonaria nunca.