Capítulo 5 - Massa Gelada

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	Peixes sempre foram companheiros dos sereianos

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Peixes sempre foram companheiros dos sereianos. A vida marinha não era muito diferente da terrestre, onde os seres dominantes e teoricamente civilizados decidiam quais espécies estariam sujeitas a serem parte de sua dieta e quais não estavam. Mas peixes, na sua grande maioria, talvez pela semelhança com metade de cada sereiano, eram protegidos. Eles eram, ainda que Ariella não conseguisse reconhecer, como cães eram para os humanos do Ocidente.

Mariscos e outros frutos do mar, em compensação, davam o sustento de povos sereianos do mundo todo, diversificados somente pela presença em certas águas e acompanhados sempre de algas típicas.

A pequena sereia sabia que os humanos tinham uma dieta diferente da deles, mas sempre imaginou e viu suas comidas como se fossem feitas de mágica. O massacre de peixes empilhado e em exposição a tinha assustado de tal forma, que passou vários quarteirões tentando se recuperar do choque.

Ela focava na massa gelada. Firme, mole. Sólida, congelada, líquida. Repassava em sua cabeça todas as características que sua mãe tinha usado para ela, se deixando perder em uma das últimas lembranças que tinha com ela. Se não fosse pela mão de Thea em suas costas, a guiando pelas ruas de Copenhagen, teria caído em uma das escadas que levavam às portas rebaixadas, ou esbarrado em alguma das milhões de bicicleta que habitavam a cidade.

Quando seus olhos começaram a voltar a focar no presente, e a visão dos peixes mortos tinha ficado consideravelmente para trás para que pudesse pensar em outra coisa, seus olhos violetas começaram a passear pelo que lhe rodeava.

Erik vinha conversando sem parar com Thea, perguntando para ela sobre seu trabalho como bióloga, como conhecia uma garota de uma cidade tão afastada como Ariella e como tinha conseguido entrar em contato com ela para aquela viagem. Thea lhe explicou que ela mesma tinha ido primeiro para a pequena vila dela, que conhecia seu pai, suas irmãs e todas as outras pessoas de lá. E então desviou o assunto para suas filhas e seu marido, tão longe na Alemanha agora.

Erik a escutava. Ele realmente a escutava. Mas não conseguia passar mais do que dois segundos olhando para ela. Fazia questão de a olhar, pelo menos de vez em quando, para indicar que estava ouvindo, que ainda estava naquela conversa. Mas seus olhos eram constantemente atraídos pelos de Ariella, como um feitiço que ele era obrigado a relutar, mas sob o qual queria se jogar.

Eles eram azuis. Deviam ser azuis. Entretanto, sempre que se convencia de que era uma cor normal para um ser humano, a olhava de soslaio outra vez e tinha a impressão de que eles eram roxos, mais avermelhados do que deveria ser possível.

Ela devia ter algum gene que puxava para o albinismo, algo que era para dar errado, mas mudou no meio do caminho e acabou lhe dando aquele tom de pele brilhante, aquele par de olhos mágicos e únicos e traços tão delicados e perfeitos que pertenciam a uma obra de arte. Só de vez em quando, somente quando sentia que ela estava prestes a olhar na sua direção e que talvez fosse um pouco mais do que ele conseguiria aguentar, desviava seus olhos para as outras pessoas na rua.

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⏰ Last updated: Feb 25, 2017 ⏰

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