Elas também a miravam, ainda que mais discretamente e por bem menos tempo. Ele se questionou se era possível que elas estivessem cruzando caminho com uma garota tão singular e fascinante sem a perceber como merecia.
Talvez fosse ela, pensou quando cruzaram mais uma rua. Talvez fosse ela que fizesse de sua existência tão especial, talvez fosse por ela que ele estivesse ali. Podia imaginá-la se tornando famosa, adorada e uma lenda entre todos os povos do mundo, e ele a teria conhecido antes, quando ela ainda não entendia o quanto era especial.
Talvez fosse por ela que ele tivesse ido ali.
"O que é aquilo?" Ela perguntou, parando de andar na próxima esquina e se virando para ele, não para Thea.
Seus olhos se cruzaram e ele se questionou se ela conseguiria ver em seu rosto o quanto vinha a observando e pensando nela.
"É um dragão," Thea respondeu antes que ele pudesse.
Ariella sorriu, chegando mais perto da porta e da estátua acima dela, embutida nas paredes de pedra do prédio. Ela olhou em seguida para Max, que os seguia, mas estava mais preocupado em bufar seu cansaço e cheirar outros cachorros.
"É um animal?" Ariella quis saber, e, dessa vez, Erik se apressou para responder.
"Teoricamente, sim," ele disse, se colocando na frente dela. Se tinha algo dentro dele que o impedia de passar muito tempo sem olhar para ela, também tinha algo que o fazia agarrar qualquer chance de interação. "Só que ele não existe."
Ariella fez a cara mais confusa que já tinha feito fora do mar. E ele riu, se sentindo levemente embriagado ao notar todas as curvas e rugas que o rosto da garota formava.
"Dragões não existem de verdade, apesar de serem usados como símbolo de muitos países," explicou, sentindo seu coração acelerar estranhamente a cada segundo que ela passava olhando diretamente para ele. "São como unicórnios e sereias."
Para sua surpresa, Ariella abriu um sorriso na hora, provando que, quanto mais tempo ele passava ao seu lado, menos a entendia, mais querer lhe conhecer. Era um feitiço, tinha certeza que era. Nunca tinha sentido isso antes, não saberia nem explicar.
A risada melódica da garota pareceu lhe soar no ouvido por bem mais tempo do que ela a soltou. "Mas sereias existem," ela disse, despreocupada, voltando a andar e o deixando para trás quando Thea correu para acompanhá-la.
Erik queria segui-la. Precisava segui-la. Sua presença ainda o puxava como uma força magnética impassível, e ele não só sabia que já perdia controle de si mesmo ao seu lado, como se deixaria perder voluntariamente se tivesse qualquer escolha.
Mas precisava de alguns segundos ali, com certa distância entre eles. Alguns segundos para sentir seus pés no chão, recuperar seu fôlego e se certificar de que não faria nada estúpido dentro das próximas horas. Suas chances de vê-la outra vez ou se aproximar dela dependiam de ele não fazer nenhuma besteira. Se era por ela que estava ali, não se deixaria colocar tudo a perder.
Quando olhou de novo na direção das duas mulheres se afastando, levou um susto ao perceber que elas o esperavam. Ele não as tinha seguido e, assim que notaram, elas pararam. Ariella passava a mão em Max e Thea não olhava para Erik, mas mesmo assim. Elas o tinham esperado.
Talvez ele não tivesse que lutar tanto assim para ser lembrado quanto pensava.
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State of Grace | Projeto RED
FantasyQuarenta e oito horas. É só isso que Ariella quer. Depois de passar a vida inteira vendo outras pessoas do reino de Akvarie ganhando o prêmio do Caranguejo e realizando seu sonho, ela finalmente decide que precisa arriscar. Já é quase uma adulta e s...
Capítulo 5 - Massa Gelada
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