Foi então que o ultimato fora dado a Érico. Um ano depois de seu furo com a família, teria de se redimir e marcar presença nos cinquenta e três anos de sua mãe, já que nos cinquenta e dois ele não havia feito questão de aparecer. Bom, era isso, ou seu pai tomaria o carro. Érico não poderia viver sem um carro.

Então, estava resolvido. Ficaria uns dois dias em casa e no dia seguinte voltaria para seu apartamento e sua vida que o aguardava longe dali. Era um plano ótimo. Claro, se não fosse pela existência de sua irmãzinha.

A Semana do aniversário da mãe fora a que Vanessa Carvalho escolhera para ir para a casa de praia de uma amiga em Jardins das Oliveiras, uma cidade distante de Lar dos Anjos. Sem querer que sua caçula faltasse a festa, Cláudio encarregara seu filho mais velho de pegá-la na casa da amiga e trazê-la de volta pra casa a tempo da festa.

O único problema? Érico e Vanessa se detestavam.

Duas horas dentro de um carro com a irmã seria demais para Érico, e a ideia de pegar um atalho pela rodovia 47 se mostrou uma ideia muito convidativa, principalmente no aspecto de que sua viagem seria reduzida em cem quilômetros.

Tudo parecia maravilhoso, até que o carro resolveu pifar no meio do caminho.

Essas escolhas erradas perturbavam a mente do jovem Érico, que andava de um lado para o outro ainda nervoso, na esperança de seu celular pegar algum sinal e poder chamar por ajuda.

Ele soube estar se afastando muito do veículo quando seus pés tocaram a areia. Érico observou as águas cristalinas do mar naquela manhã meio nublada, meio incomum na região, que sempre era dominada pelo sol. Pelo menos uma coisa boa.

Ao se aproximar do mar, sentiu uma calma incomum se apoderar de seu corpo. Esteve muito tenso durante os últimos dias, e a calmaria daquele lugar deserto parecia acalmá-lo de maneira milagrosa. Érico se perguntou o porquê daquela rodovia não ser muito usada e mal falada pelos motoristas e caminhoneiros. Puro egoísmo, pensou ele. Deveriam querer aquele lugar como um paraíso apenas deles.

Resolveu parar um pouco e sentar um pouco ali, de frente as ondas. A areia era muito branca, e não havia nenhuma concha. Nenhum sinal de plantas de pequeno porte ou crustáceos de nenhum tipo rodeando suas margens. Em um lugar com tão pouca presença do homem, era de se esperar que houvesse maior presença da natureza.

No entanto, além do mar e da areia, não havia nada. Pelo menos até Érico olhar mais a fundo e ver algo refletir a pouca luz daquela manhã.

O olhar do futuro veterinário pareceu chamar seja lá o que fosse, pois a maré o trouxe aos seus pés. Uma garrafa de vidro tocou a areia úmida, e Érico a tirou do chão antes que o mar a tomasse novamente.

– Mas é muito idiota mesmo, o que está fazendo aí? – Érico ouviu Vanessa indagar às suas costas. O pé esquerdo batendo contra a areia. – Não devia estar tentando nos tirar desse meio do nada? – Demorou um instante para que ela percebesse que o irmão segurava algo. – O que é isso?

– Uma garrafa. Nunca viu uma? – Érico rebateu.

Uma ventania forte fez os pelos da nuca de Vanessa se eriçarem. A garota abraçou o próprio corpo.

– Não passa um carro há horas. – Ela confessou. Érico jamais pensou ouvir um tom amedrontado na voz da irmã.

Érico observou um papel velho dentro da garrafa, como aquilo que acontecia em filmes bregas de piratas. O olhar curioso de Vanessa denunciava sua curiosidade ao ver aquilo e ansiedade que a dominava para que o irmão lesse o conteúdo daquilo.

Foi uma mini batalha para arrancar aquele pedaço de papel dali, que estava levemente corroído pelo tempo. Levou muitos suspiros de Érico e a quebra de uma das unhas de Vanessa para que finalmente conseguissem a proeza de arrancá-lo dali.

[Conto] Rodovia 47Where stories live. Discover now