Capítulo 1

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Peguei meu celular enquanto eu andava pelo beco escuro e toquei na tela, iluminando meu rosto.

A volta da faculdade era um horror para mim. Eu sempre passava sozinha por aquele lugar tarde da noite para cortar caminho e chegar mais rápido em casa. Hilionópoles era uma cidade perigosa, assim como a maioria das grandes metrópoles, e era melhor eu apertar o passo.

Enquanto eu caminhava apressadamente pelo beco estreito, ouvi alguns passos atrás de mim. Não bastasse a minha respiração audível, eu também tinha a sensação de que meu coração estava prestes a sair pela boca.

Tentei manter a calma e aumentei meus passos. A vontade de olhar para trás era grande, mas eu não iria fazer isso.

- Parada aí.

Um sujeito se infiltrou na minha frente, obrigando-me a parar. Minhas pernas começaram a ficar bambas.

- ... O que você quer? - perguntei, deixando meu celular entre ele e eu como se fosse um escudo.

O sujeito abriu um sorriso maligno e nojento, se aproximou ainda mais de mim e em um gesto rápido, ele me empurrou com brutalidade contra a parede.

- Por favor...

- Cala a boca! - Ele grudou os dedos no meu pescoço, e ergueu o punho, prestes a me nocautear, e eu fechei os olhos automaticamente.

Naquele exato momento, eu ouvi um estalo de um soco, e meu pescoço ficou livre da mão do sujeito, e eu abri os olhos de imediato.

Não acreditei no que eu estava vendo.

Um rapaz de boné estava acertando socos no rosto do sujeito, fazendo ele gemer de dor.

Foi aí que eu nem pensei duas vezes.

Apenas saí correndo dali o mais rápido possível. A minha vida dependia disso.

- Ei! Espera!

Continuei correndo sem olhar para trás. Meu instinto de sobrevivência dizia para eu continuar correndo e eu não ia parar.

Quando deixei o beco para trás, ousei olhar para trás e me assustei com o rapaz correndo atrás de mim. Voltei a encarar a rua à minha frente, mas ele esbarrou por trás e eu caí de quatro no meio do asfalto.

- Ei. - O rapaz apareceu no meu campo de visão. - Você está bem?

Eu o olhei, amedrontada, e preparada para ficar de pé, e correr para longe dele, quando ele se apressou em dizer:

- Calma, eu não vou fazer nada com você. - Ele ergueu as mãos, ofegante. Foi aí que eu percebi meu celular em sua mão. Eu devia tê-lo deixado cair quando aquele sujeito me atacou. - Só quero saber se você está bem.

Eu continuei o olhando e engoli em seco. Logo, respondi:

- Sim...

Ele ficou de pé e me ofereceu a mão. Eu aceitei sua ajuda para ficar de pé e ele estendeu meu celular na minha direção.

Eu peguei o aparelho.

- Você tem que parar de andar por aqui a essa hora. É perigoso.

Eu assenti, fitando seu rosto na pouca iluminação vinda dos postes da rua.

Ele também fixou seu olhar em mim, fazendo eu me sentir avaliada.

- Vamos. Eu te acompanho.

Eu hesitei. Ele era um estranho e queria me acompanhar?

- Não, obrigada. Eu... - Respirei fundo, pensando em uma resposta convincente.

- Eu não vou fazer nada com você. - Ele manteve o olhar no meu rosto. - Pode confiar em mim.

Eu pensei por alguns instantes. Se ele realmente fosse um sujeito mau nem teria me salvado, não é?

- Ok. - Concordei, receosa.

Começamos a caminhar em silêncio total. Ele não disse uma única palavra e eu também não me atrevi a dizer nada. Afinal, eu nem o conhecia. Ao chegarmos perto da rua da minha casa, eu avisei:

- Pode me deixar aqui mesmo. Já estou perto de casa.

Ele assentiu e parou de andar, enfiando as mãos nos bolsos.

- Se cuida - disse.

Eu fiz que sim com a cabeça e agradeci:

- Obrigada.

Eu lhe dei as costas e segui rapidamente pela calçada, virando a esquina da rua. Em seguida, dei uma olhada para trás.

O rapaz já tinha sumido de vista.

Olhei para frente e praticamente corri até chegar em frente ao sobrado amarelo. Rapidamente abri o portão, temendo que aparecesse mais um criminoso para me atacar e finalmente adentrei a sala da minha casa, respirando aliviada.

- Thaissa?

Olhei na direção da escada. Minha mãe estava nos primeiros degraus olhando para mim.

- Oi, mãe. - Comecei a me aproximar dela.

- Como foi a aula? - Ela me deu um abraço rápido. - Por que você está com essa cara assustada? Está tudo bem?

- Claro, está tudo bem - respondi, assentindo. - A aula foi ótima. Vou para o quarto. - Dei um beijo na sua bochecha. - Boa noite.

Passei por ela e subi até o meu quarto, fechando a porta atrás de mim.

Eu não ia contar para a minha mãe o que passei naquela noite. Ela ficaria preocupadíssima, e poderia até me proibir de sair à noite, e eu não queria que isso acontecesse.

Assim que eu vesti meu pijama, me joguei na cama e olhei na direção da janela fechada do quarto escuro. Eu não conseguia parar de pensar no que tinha acontecido. Eu tive muita sorte. Se aquele rapaz não tivesse aparecido, eu poderia estar violentada e morta neste exato momento.

Um arrepio percorreu meus braços só de pensar nisso e eu subi o cobertor na altura do queixo, tentando afastar esse pensamento trágico.

Sombrio e Inevitável (DEGUSTAÇÃO) Onde as histórias ganham vida. Descobre agora