Prólogo

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Tudo o que vejo é dourado. Meus pés afundam-se em uma areia áspera e fina, como se, de repente, eu acordasse em meio a um deserto de ouro em pó. Mesmo que eu nunca, de fato, tenha visto ouro.

Ao meu redor não parece haver muita coisa. Só a imensidão reluzente da areia dourada e o vento que insiste em espalhar grãos por todo meu rosto e cabelos, embrenhando-se em meus fios ruivos. Toco minhas roupas, confusa. Visto uma túnica azul e botas, como uma nômade do deserto. Não faço ideia de onde estou.

Meus olhos ardem e fecham-se de imediato quando tento fitar o céu. O fulgor parece querer me engolir, inundando-me com um clarão que não posso compreender. O céu também é dourado.

Súbito, minha mente clareia. "É um sonho". As palavras martelam em alguma parte obscura do meu cérebro. Contudo, como poderia saber disso se realmente estivesse sonhando?

Uma rajada de vento me alcança, fazendo-me girar instantaneamente em 180º, cobrindo os olhos em desespero. Quando os abro, o avisto.

Um homem. Moreno, talvez bronzeado, também vestindo uma túnica como a minha, com os cabelos encobertos por um turbante. Seus olhos verdes me devoram. Sua expressão séria me apavora. Quero correr, fugir para longe, mas... Algo em seu olhar me faz ficar. É como se ele tivesse algo a me dizer. Algo que eu precisasse saber.

Sinto isso.

E, pela primeira vez, tenho vontade de falar com um desconhecido.

Sua boca se move sem emoção, proferindo uma única palavra, num sussurro quase inaudível.

- Agnes.

Acordo banhada em suor. Meus cabelos estão grudados na testa e um filete escorre pela minha nuca. A brisa fresca da madrugada faz com que o suor congele em meu corpo. Puxo as cobertas para cima num ato automático, enquanto tento organizar minha mente e digerir o que acabou de ocorrer.

Não sei o que é mais estranho: estar consciente durante um sonho, as sensações tão reais quando as que tenho quando acordada ou sonhar o mesmo maldito sonho todas as noites. Entretanto, hoje, aconteceu algo diferente.

O homem misterioso sabia meu nome.

Pequena como grão de areiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora