CAPITULO 9 CLARA

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Depois de ficar horas conversando com a minha irmã, sinto um aperto no peito ao falar de Carol. July me convenceu a ir para o bar com ela, pois como Carol não vai, o bar ficará com um funcionário a menos. Sei que isso é mentira, que é uma desculpa para que eu me aproxime de Matt. Ela vai para casa se arrumar e combinamos de nos encontrar lá.
Chego as seis e vinte no Hits Bar, no momento em que vejo uma senhora olhando pela porta como se estivesse tentando ver o interior do local, me aproximo e reparo que suas roupas são humildes, ela está um pouco suja, se assusta ao me ver.
— Calma, não lhe farei mal. A senhora procura alguém? — pergunto olhando em seus olhos.
— Sim... o meu filho — responde com cautela.
— Ele trabalha aqui? — Aponto para o bar e ela concorda com a cabeça.
— O bar ainda está fechado, a senhora terá que esperar — Aviso abrindo a porta.
— Eu volto outro dia — diz se afastando.
— Não, espere. Por que não aguarda aqui dentro?
Ela me olha em dúvida, mas acaba assentindo. Seu rosto é pálido e cheio de marcas de expressão, mesmo tendo a impressão que não seja tão velha, seus olhos mostram muito cansaço. Está muito magra, suas roupas estão rasgadas, me pergunto que tipo de filho deixa sua mãe viver nessas condições?
— A senhora gostaria de algo? — pergunto enquanto a levo para se sentar em uma mesa no fundo do bar.
Seus olhos passeiam por toda a extensão do lugar e param em uma garrafa de uísque em cima da mesa, seus olhos enchem de lágrimas e meu peito se aperta com isso.
— Tem algo para comer? — pergunta de cabeça baixa e sinto um nó no estômago.
— Não tenho nada aqui, mas pedirei que alguém traga algo para senhora. — Ela sorri sem mostrar os dentes e vejo quanta dor carrega nos olhos.
— Obrigada, menina.
— A senhora quer algo de especial? — Ela balança a cabeça em sinal de negativo e sigo para o balcão.
Peço comida ao restaurante ao lado do bar, eles informam que está cedo, mas explico a situação e eles abrem uma exceção. Meia hora depois vejo a mulher comendo como se sua vida dependesse disso, ela come em desespero e se engasga algumas vezes, penso em pedir para comer devagar, mas seu desespero me mostra que faz muito tempo que está com fome.
Os funcionários começam a chegar e olham com cara de nojo para senhora, isso me irrita, chamo cada um deles e os repreendo dizendo que ela não é diferente de nenhum de nós. Quando todos os funcionários estão no bar exceto minha irmã e Matt, penso que a senhora mentiu para mim já que nenhum deles se aproximou ou deu sinal de ser filho dela.
Ela chama um dos garçons e pede algo para ele, depois de me olhar, ele segue para trás do bar, quando estou indo repreendê-lo por estar levando bebida a senhora, escuto a voz de minha irmã atrás de mim.
— Obrigada, Clarinha, por abrir o bar. Cheguei em casa e Alice estava com febre, esperei baixar para poder vir — fala colocando sua bolsa e jaqueta embaixo do balcão.
— Nossa, mas ela está bem? — pergunto preocupada.
— Está sim, são os dentes que ainda estão nascendo, ela fica muito sensível.
— Ah!
— Boa noite — escuto a voz de Matt atrás de mim e sinto um arrepio percorrer minha pele.
— Oi, Matt, tudo bem? — July pergunta enquanto eu continuo de costas.
— Desculpa o atraso, estava resolvendo algumas coisas.
— Ela apareceu? — Estranho a pergunta da minha irmã, meu coração acelera, será que estão falando de alguma mulher? — Sinto muito, meu amigo — Deduzo que a resposta dele foi um não.
Me afasto para ver se a senhora está bem e lhe informar que ela se confundiu quando disse que seu filho trabalha aqui. Quando me aproximo de sua mesa, vejo um garçom lhe entregando outro copo de bebida, respiro fundo antes de falar:
— Senhora, me desculpe, mas seu filho não trabalha aqui, a senhora precisa ir embora — falo com calma, enquanto ela vira todo líquido na boca.
— Ele trabalha sim — me responde levantando a mão para pedir outra dose.
— Todos os funcionários já chegaram e nenhum a reconheceu, eu sinto muito.
— Cadê minha bebida? — fala alterada.
Um garçom se aproxima e lhe entrega outra dose, o encaro e ele apenas dá de ombros. Não vi Matt e minha irmã se aproximar até ele tomar o copo da mão da senhora, o líquido derrama molhando toda a mesa e minha blusa.
— Mas o que você pensa que está fazendo? — O olho com raiva e ele me devolve o olhar com a mesma intensidade.
— Clarinha, vamos! Deixe que Matt cuida disso — July fala colocando a mão sobre meus ombros, mas me afasto.
— Não. Eu quero saber qual é o seu problema? — Matt me encara com raiva. — Responde! Quem te deu o direito de tratar as pessoas assim?
July tenta me afastar, mas grito cada vez mais alto. Estou com raiva de Matt e acabo usando esse momento para colocar tudo para fora, o encaro com ódio e ele não desvia o olhar nem um momento, o que me deixa mais frustrada. Ele sempre foi um homem tranquilo, nunca o vi destratando ninguém, nem mesmo os bêbados que às vezes causavam confusões no bar. Mas hoje sua postura é diferente, ele me olha como se me acusasse de algo, desvia o olhar apenas para encara a mulher sentada, que abaixa a cabeça e chora.
— Satisfeito? Olha o que você fez.
— Eu impedi que você desse mais bebida a ela — sua voz sai baixa e estridente.
— E o que você tem a ver com isso? Não é problema seu. — Ele dá um passo para frente até seu rosto está bem próximo ao meu.
— É problema meu, porque ela é minha mãe.
Meus olhos se arregalam e olho de um para o outro. Como não notei a semelhança?
— Vamos, Clara — Vou para o estoque com July ao meu lado e me sento em um banquinho enquanto minha cabeça dá voltas sobre o que acabei de ouvir. July se afasta e volta alguns minutos depois se sentando ao meu lado.
— Você sabia?
— Não até vê-la de perto — responde com sinceridade.
— Como ele pode deixar a mãe dele viver desse jeito? — July me encara e seus olhos estão tristes.
— Foi opção dela, não o julgue sem saber toda a história — Apenas concordo.
— Vou até lá...
— Eles já se foram, Clara — July informa quando me levanto para sair.
— Acho que fiz besteira, não é? — pergunto enquanto July me abraça.
— Fez sim, minha irmã. Mas você não sabia, ele vai entender.
Concordo com a cabeça e deixo as lágrimas rolarem.

Sedução - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora