Naquela época da noite no bar, eu tinha voltado para o dormitório da academia, porque tinha um campeonato pela frente, e eu andava treinando mais do que o normal. Só que ir para casa tão tarde estava se tornando perigoso, então o mestre achou melhor me manter por lá alguns dias. Com aquilo eu treinava muito mais, me obrigando a ter regras que eu não teria em casa, e que o Mestre julgava necessário. E morar na academia, às vezes, tinha seus privilégios, caso contrario jamais me permitiria chegar em casa no estado que estava. Meu pai ficaria decepcionado se soubesse que a sua menininha andava por ai bebendo até cair.

-Porque esta me olhando desse jeito?- Nathan sussurrou para mim, assim que me sentei do seu lado. Eu não tinha percebido que estava fazendo aquilo, nem que estava assustando todo mundo na mesa com as minhas atitudes.

Pisquei algumas vezes e depois sorri para todo mundo.

-Não estou te encarando, só estou bêbeda de mais, e manter o foco, em algo, me ajuda a não cair.- disse sorrindo.

Além de Nathan, a mesa estava composta por mais cinco rapazes, todos eles de cabelos curtos e olhares assassinos. Eu não costumava falar muito com eles, na maioria das vezes só apanhava em silencio, e depois agradecia pelo ótimo treino. Sabia que um deles estava namorando, só não sabia dizer qual, assim como também sabia que um deles era interessado em mim. Mas Nathan não quis me contar seu nome.

Encarei cada um deles, tentando lembrar seus nomes, e pareceu engraçado quando os nomes começaram a vir.

-Você é o Jay.- disse para o de cabeça raspada e olhos negros como a noite.- Você o Gary, Chow, Dean e você...- apontei para cada um deles ao dizer seus nomes, mas não conseguia me lembrar do ultimo da lista. E sabia que a bebida tinha algo a ver com aquele esquecimento repentino.

O garoto era loiro, com o cabelo baixo e desfiado nas pontas. Tinha uma postura séria e me analisava pelo canto dos olhos, como se gostasse do que estava vendo. Ele tinha malicia no jeito que sorria, e seu olhar parecia ver muito além do que eu permitiria que ele visse, assim como seu corpo parecia convidativo sempre que eu o imaginava sem roupa. Foi naquele segundo que eu soube que precisava parar de encará-lo, ou quem sabe, beber.

-Ele é o Mark.- disse Nathan um pouco irritado. Olhei para ele sem entender porque ele tinha mudado de humor tão rapidamente.

-E você quem é?- perguntou Mark, me encarando com seus olhos castanhos e divertidos. Por algum motivo parecia que ele fazia piada com alguma coisa.

Todo mundo na mesa virou para Mark, sem entender a sua pergunta, já que passávamos a semana inteira juntos na academia.

-Como assim?- Chow fez a pergunta, compartilhando do mesmo pensamento que todo mundo da mesa.

Mark sorriu e depois virou uma dose.

-Não sei quem ela é, até parece com a garota que treina na nossa equipe, mas com toda certeza não age da mesma maneira. A Anne que eu conheço já teria nos agredido pelo menos duas vezes, se só olhássemos na sua direção. Cadê o mal humor?- Todos, com exceção de mim e Nathan, riram com as palavras de Mark. E assim que entendi a quê ele se referia, fui obrigada a concordar que ele estava certo. Em dias normais, eu jamais me juntaria àquela mesa, muito menos agiria como uma garota qualquer.

Revirei os olhos e empinei a minha, sei lá quantas doses já tinha bebido, já tinha perdido as contas. Fato claro de que eu devia parar, mas não parei.

A conversa na mesa seguiu, e me senti relaxar quando percebi que Nathan se soltava com os outros. Eles falavam sobre rolas que tinha feito, tanto dentro quanto fora da academia, enquanto eu tentava acompanhar tudo em silencio. Volta e meia eu dizia alguma coisa engraçada sem querer, que fazia todo mundo rir, e depois voltava a prestar atenção nas coisas que eles diziam.

Quase, sem quererWhere stories live. Discover now