Capítulo 7 - Por Trás de Portas e Secretárias Eletrônicas

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Ela não era mais minha amiga.

Tentei respirar outra vez, mas aquelas palavras pareciam soar cada vez mais altas em meus ouvidos, a ponto de me impedirem de ouvir minha própria voz.

Ela não era minha amiga.

"Não," falei, para minha surpresa. "Você não sabe o que eu fiz com o meu. Você não tem a menor ideia do que eu fiz para nada, do que eu penso, do que quero. Você não é mais minha amiga. Em algum desses dez anos que perdi da minha vida, você deixou de ser minha amiga. E agora não faz a menor questão de me responder, nem que seja só para falar quando e por que você foi morar do outro lado do país e não fala comigo. Nem para me dar qualquer tipo de informação! Prefere me deixar falando sozinha com uma secretária eletrônica, como se ainda fosse oitenta e nove e só algumas semanas atrás nós tivéssemos enterrado nossas dores juntas. Desculpa se eu ainda sinto como se você fosse minha melhor amiga e a pessoa mais importante do mundo para mim! Você sabe o quanto isso machuca, Leanne? Sabe o quan-"

O bipe de final da secretária eletrônica soou antes que eu terminasse, me provando que minha explosão seria ainda mais humilhante do que eu já tinha me esforçado para que fosse.

Ótimo, pensei na hora, me segurando para não gritar. Como apaga isso?

Infelizmente, ninguém tinha inventado um dispositivo que apagasse mensagens assim na última década. E, respirando fundo e sentindo cada vez mais meus olhos lacrimejarem, tive que voltar o telefone para a base.

Soube que precisava falar tudo aquilo assim que as palavras começaram a sair da minha boca, mas, agora que estava no silêncio solitário da minha sala, que contrastava drasticamente com o barulho da festa que vinha do final do corredor, queria voltar atrás. Não porque achava que ela finalmente me responderia e só confirmaria que nós realmente não éramos mais amigas. Mas só para poder voltar àquela nuvem confortável e ilusória da negação, de quando eu ainda podia fingir não ter percebido.

Pensei em voltar na hora para a festa, deixar que meus colegas de trabalho ocupassem minha mente o suficiente para não pensar no que tinha acabado de acontecer. Também poderia contar para Savanah e já podia prever sua reação. Ela iria rir como se eu fosse a pessoa mais desequilibrada e divertida do mundo e, em alguns segundos, eu estaria rindo junto.

Também poderia ligar para Thomas, pedir para ele tentar falar com Leanne para mim. Ou só me dar mais alguns conselhos sobre meu passado, meu presente, ou qualquer coisa. Talvez só ouvir sua voz fosse o necessário, uma lembrança confortável de alguém que se importava comigo antes e, se eu me deixasse acreditar, agora também.

Mas não fiz nenhuma das duas coisas. Não voltei em seguida para a festa. Não liguei para ele. Só me deixei apoiar no encosto da cadeira, passando os olhos pelo escritório, agora decorado ao meu verdadeiro novo estilo. Pelo conselho de Thomas, e também insistência da minha mãe, hoje eu tinha tirado a manhã para ir fazer compras com ela de objetos novos. Almofadas estampadas, quadros novos, um tal de jardim de areia para relaxar - que me dava mais vontade de jogar pela janela, - e vários outros objetos inúteis, que todo mundo insiste em chamar de peso de papel, mas que nunca fica sobre nenhum.

Além das estrelinhas que colei pelo teto e a parede. Tinha que admitir que escolhi algumas coisas diferentes do que teria gostado se ainda tivesse dezesseis anos, mas também queria um pouco do passado. Se esse presente podia ser o que eu desejasse, não queria que ele fosse completamente noventa e nove. Não ainda. Talvez nunca.

Resolvi me esticar para pegar um peso de papel de cachorrinho, quando o telefone começou a tocar. Na hora, meu coração pulou uma batida, e, antes que tivesse tempo de pensar, peguei o telefone e coloquei no ouvido.

Uma década em uma noite  [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora