Um acaso desejado.

II.

O meu despertar foi graças a um feixe de luz em minha face. Ao meu lado estava o guarda Smith e do outro meu marido, ambos me olhando fixamente, como se eu tivesse feito algo errado, fazendo me sentir a culpada de um severo crime com esses dois pares de olhos me encarando.

- Kerttu fale a verdade! Você esta apaixonada por esse mero guarda? – esbravejou meu marido, Ren.

-Olha como o senhor me trata! Eu posso ser apenas um mero guarda, mas eu sou o amor da vida da sua mulher! – gritou Sean, com tamanha raiva, uma forma de repudiar como foi tratado.

-Não repita nunca mais essa imundas palavras- Ren aumentou o tom daquela presente discussão.

Os berros cessaram, foram transformados em socos, pontapés, tapas e arranhões. Kerttu ficou sem reação nenhuma a presenciar a cena, ela queria separar, mas seu corpo não queria sair do repouso, sua voz simplesmente havia sumido, parecendo ela que havia berrado. Ela apenas ficou imóvel vendo aquela cena horrenda.

Ao fundo ela escutou sons altos e agudos, similar a um aparelho de monitoração cárdica talvez, aquilo não passara de um pesadelo.

O corpo da rainha estava suando frio e tremulo, e o médico estava preocupado pela tamanha agitação de sua soberana. Mas um grande alivio tomou conta do ambiente assim que Kerttu começa seu despertar.

Kerttu abre os olhos, ainda assustada com o tamanho pesadelo que tivera, do seu lado estava Dr Holtson e do outro o guarda Sean.

-Como você se sente? – perguntou o doutor com um leve sorriso no rosto, dando evidencias as suas rugas, Kerttu achava que aquelas marcas eram a experiência do senhor Holtson, anos dedicados para a tão nobre profissão que era a medicina.

- Muito bem, posso até voltar aos meus afazeres- disse Kerttu já se levantando, mas sente uma mão em seu braço a impossibilitando de se levantar.

-Nada disso, Alteza – e finalmente a voz de Sean se fez presente no local. – Segundo o doutor, a senhora devera ficar de repouso nesse dia.

-Eu não posso, tenho afazeres, reuniões e vários orçamentos para serem ajustados – Kerttu levou a mão ao cabelo, tentando arruma-lo para ter no mínimo uma aparência decente na frente de um guarda.

-Sua aparência esta muito boa comparada à noite passada- sorriu Sean, era inacreditável como ele lia os pensamentos de Kerttu em poucos segundos, uma legitima conexão só não se sabe ainda em que perfil ela se enquadrava – Creio que seus tios, Príncipe Kaden e Príncipe Osten estão cuidando de tudo.

-Kaden não estava viajando? E vocês tiraram o tio Osten da sua lua de mel? – Falou a rainha preocupada com esse incomodo que trouxe a família com a sua irresponsabilidade de não comer.

-Príncipe Kaden e sua senhora adiaram a viagem, fique tranquila. Já o príncipe Osten voltou da sua lua de mel mais cedo – Sean se pronunciou – Mas fiquem calma, eles não se incomodam de ficar no palácio por mais algumas horas.

-Agora devo viagens a eles, ao menos já possuo ideias para os presentes de natal – Kerttu, rio de leve, ao compreender a situação toda em que havia se metido - pelo menos alguma boa consequência havia naquela situação-pensou.

-Com todo respeito, mas sua risada é adorável, Alteza. – Sean abriu um grande sorrio, ele tinha o dom de contagiar o lugar que estava, alegrar a todos – Infelizmente não poderei ficar e desfrutar dessa prosa – disse o jovem se levantando.

Kerttu sentiu uma leve pontada ao ver Sean fazendo uma reverencia e sair apresado da ala hospitalar, ela agradeceu mentalmente por Sean ter tido paciência esperando ela acordar, e por ser a possível pessoa a chamar seus tios, para assumir as suas obrigações por pelo menos um dia.

Ao anoitecer, antes do jantar Kerttu retornou aos seus aposentos. Tomou um relaxante banho, colocou um vestido de tecido leve e de cores suaves, decidiu ficar neutra, definitivamente não era a ocasião para cores vibrantes e quentes. Vestiu-se com a ajuda de suas fieis escudeiras, suas criadas.

-Como à senhora esta? – Jess olhou a sua rainha pelo espelho.

-Um pouco melhor, acho que nunca mais fico sem comer- ponderou a soberana – Não foi uma grande ideia.

-Realmente, como todo respeito, mas onde já se viu ficar sem comer? – Ruth apareceu na conversa, ela era a mais velha entre as três, para Kerttu representava uma figura materna.

Ruth sempre esteve ao seu lado quando precisou de concelhos até duvidas de maquiagem. E até mesmo debates empolgantes sobre qual era a fruta ou cor da estação. A criada sempre ganhava, e dava alegria a Kerttu.

-Garotas, eu estou muito bem – Falou Kerttu finalizando sua maquiagem com um discreto batom nude. – Apenas uma leve tontura e mal estar, não se pode deixar de comer, principalmente com esse calor horrível de Angeles, tomem a minha situação como aviso.- Kerttu voltou a sua atenção novamente a maquiagem

-Peter realmente foi muito eficiente dessa vez- falou Jess.

-Ele pareceu um anjo, apareceu na hora certa. – Ruth completou enquanto esticava os lençóis.

Kerttu apenas escutava atenta. Então não foi Sean que a segurou? Quem é Peter? E por que Sean estava lá quando ela acordou? Certa decepção tomou conta da mente de Kerttu, sua teoria caiu por terra com essa informação. Pensava ela que Sean a tivesse tomando nos braços no momento da queda e que o mesmo a tinha levado para até o médico, aparentemente ela tem que agradecer a Peter e não a Sean. Nada é realmente perfeito, apenas um pequeno detalhe para uma decepção.

-Mas Sean sacrificou uma noite de sono! Isso sim que é guarda – afirmou Jess.

As palavras alegraram Kerttu, o guarda Smith acabara se tornando um grande colega para ela, ele transmitia confiança e segurança como um bom guarda e Kerttu admiravam pessoas com esse ímpeto.

-A senhora está gravida? –perguntou Adelaide ao sair do banheiro, tirando a alteza de seus pensamentos.

-Não estou – Kerttu gargalhou com a pergunta- Acho melhor jantar, adoraria responder todas as perguntas que rondam a cabeça de vocês nesse exato momento, mas não serei uma boa anfitriã se me atrasar, correto? – fala brincalhona. –Boa noite meninas, durmam todas bem. –fala fechando a porta do quarto.

-Boa noite, senhora Kerttu – as criadas respondem em um uníssono.

Ao sair pela porta Kerttu esbara em uma pessoa.

-Você estava escutando atrás da porta? Já não disse que não se deve fazer isso? – Kerttu indaga a pessoa a sua frente.