Oceanos Profundos.

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O coração pode não bater, mas a mente sempre será perpetua.

Acordei ofegante, podia sentir o calor dos meus dedos se apoiando na terra molhada. Tudo estava negro.

Eu conseguia ouvir com perfeição passarinhos passando por cima de mim e se apoiando em galhos, também conseguia ouvir a respiração de outra pessoa.

- Quem está aí? – Tateei pelo escuro – QUEM ESTÁ AI?

Ouvi sons de passos vindo em minha direção, lentamente, até parar em minha frente.

- Você é tão bonita – a voz era suave e não consegui identificar se era homem ou mulher. Me afastei dois passos e bati de costas em uma arvore.

- Quem é tu? – Falei tentando olhar para todos os lados – como consegues me ver?

- Você não consegue me enxergar? Minha pobre menina, está tentando errado – a pessoa falou com ternura chegando mais perto de mim ainda – pode confiar em mim, nenhuma dor irá lhe infligir, ao menos não agora, não aqui.

Eu sentia meus olhos abertos, mas era tudo escuridão.

- Como faço para enxergar? – Perguntei, engolindo seco.

A pessoa colocou levemente a mão em meu rosto.

- Você não precisa ver para enxergar, basta sentir.

Ela tirou sua mão de meu rosto, e como uma brisa leve, senti a desaparecer. Eu fechei meus olhos e me permiti viver.

Os pássaros cantavam uma melodia que somente agora fui capaz de perceber, uma melodia de paz. Eu estava maravilhada com a sensação que aquilo me preenchia, podia sentir o calor do sol passando entre as folhas e tocando em minha pele, podia sentir as gotículas de agua que se chocavam contra mim a cada momento que me movia. Mas ainda assim, numa sensação de paz tão grande e acolhedora não me sentia feliz, alguma coisa me machucava, lá dentro. Cai de joelhos no chão, e comecei a chorar, todos os pássaros pararam de cantar.

Não sentia mais o sol tocar minha pele, apenas frio, ouvi lobos uivando bem longe de mim, e também podia ouvir sussurros. Não entendia o que eles falavam, eram tantos que me faziam ficar desorientada. Abri meus olhos e tive uma surpresa, agora eu podia ver, mas não gostava do que vislumbrava. Estava em uma floresta de pinheiros densa, onde as arvores atingiam as nuvens e mesmo que não houvesse sol, muito menos lua, uma curiosa luz pálida e azul iluminava o local. As vozes que eu ouvia eram sombras que giravam ao meu redor, elas formavam rostos, lembranças, memorias de pessoas que há muito tempo se foram.

Uma luz alaranjada cortou o céu botando as arvores em chamas, expulsando todas as sombras, e logo ela veio ao meu encontro, se materializando uma mulher negra, alta e com os olhos totalmente brancos. Ela usava uma túnica, que mesmo sem nenhum ornamento tornava-se linda em seu corpo, o tecido não era nenhum que eu conhecesse, ele se comportava como se fosse fogo, imprevisível e selvagem, porém, deslumbrante.

- Porque está aqui minha criança? – Sua voz era diferente, ela vibrava em cada canto do meu corpo, era tenra e maviosa.

- Eu não sei... E-eu... – lagrimas começaram a rolar pelo meu rosto – eu estava em um lugar onde os passarinhos cantavam e o sol tocava minha pele.

- E então você chorou? – Ela se ajoelhou e ficamos cara a cara, eu apenas acenei com a cabeça, ela me enlaçou e eu solucei em seu ombro, após alguns minutos ela se afastou um pouco, colocou suas mãos no meu rosto e olhou bem nos meus olhos – eu vejo você Mariana, somente você. Não se atormente minha doce criança, tu és muito nova para vir aqui – ela olhou para o local – do que sente falta?

- Meu pai, minha mãe. Mas eles morreram! – A última palavra saiu da minha boca como um soluço – eu odeio ele!

A expressão dela não mudou, apenas abriu um sorriso.

- Quem tu odeias minha criança?

- Aquele que me tirou a vida – limpei as lágrimas do meu rosto com a palma de minha mão.

- Eu sei que é injusto tirarem-lhe a vida quando ainda havia tantas experiências para aprender minha criança – uma lágrima caiu do rosto dela – mas você deve continuar a seguir em frente, não importa os obstáculos, vê todas essas sombras que fogem da minha luz? – Ela olhou para as formas monstruosas que se formavam fora do círculo de fogo.

- Sim – eu estava com medo, e ela percebendo isso, me trouxe mais para perto.

- Elas decidiram desistir, e aqui vivem atormentadas e consumidas por ódio.

- Sinto tanta a falta deles.

- Não se preocupe, você irá vê-los novamente, mas não até estar preparada.

- O que eu devo fazer então?

- Você deve continuar. Tu terás vários testes a sua frente Mariana, é melhor estar disposta a mudar. O seu primeiro teste será amar quem lhe tirou de lá – ela apontou para baixo.

Eu não estava mais na floresta, não havia mais sons, nem sombras. Me situava no meio do nada, sentada em um chão de vidro onde se eu olhasse para baixo, poderia ver a terra, e se eu olhasse para cima, o universo me esperava.

- Como eu posso amar alguém que faça isso? Como eu posso amar alguém que tirou de mim tudo que eu tinha?

- Aprenda a amar Mariana, principalmente aqueles que, na sua visão são indignos de amor, perdoe-os e mostre que ainda há amor para quem acredita no perdão.

- E eles? Aqueles que estavam na floresta? Ainda há perdão para eles?

- Sempre perdoaremos Mariana, você apenas precisa pedir. E não sinta pena deles, sinta pena dos que estão lá embaixo, principalmente daqueles que vivem sem o amor.

Eu assenti com a cabeça. Mesmo estando contra todas minhas vontades eu aceitei, porque sabia o que eu precisava era muito maior do que eu queria.

Cai em um mar de águas mornas onde meu corpo era arrastado cada vez mais para o fundo. Lentamente vi a silhueta da mulher sumir enquanto eu afogava pacificamente, lentamente fui pegando no sono, até eu, não ser mais eu.

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AHHHH, obrigado a todos que acompanharam, e me desculpem pelo atraso, aqui está o segundo capítulo. Espero que aproveitem  :)

Sete mundos de MarianaDove le storie prendono vita. Scoprilo ora