-Você é louco sabia?- disse tentando ser séria, mas fracassando arduamente ao rir da situação.

Deitei de novo, e fiquei olhando para as fotos que ele tinha. Ele mesmo deslizava o dedo na tela, passando foto por foto, analisando as melhores e as editando, como se eu não estivesse presente. Como se aquela atitude, fosse a mais normal do mundo.

Ficamos deitados na cama, sem parar para pensar nas horas. Ele havia me pedido para tirar fotos novas, mas eu não quis ser a sua musa espontaneamente, não que isso fosse algum empecilho para ele. Harry tirou inúmeras fotos, enquanto me fazia cocegas, me atormentava e corria atrás de mim pelo quarto. E apesar de saber que ele estava me fotografando, gostei da brincadeira.

-Posso te pedir uma coisa?- disse ele parando no meio do quarto.

Ele estava com o celular em uma mão e a outra bagunçava os cabelos. Não vestia camisa e as calças de moletom, caiam o suficiente para mostrar o desenho do seu obliquo tatuado, tão bem definido, e perfeitamente para mim. Fiquei analisando ele, e por um minuto quis me perder naquele momento. Quis esquecer tudo que me deixava inquieta, que me fazia querer correr, quando tudo parecia agradável de mais.

Andei na direção dele, com um sorriso incomum no rosto, e depois pressionei meus lábios levemente nos seus.

-Diga Sr. Collins.- disse com um sorriso atrevido.

Ele segurou meu rosto por um momento, indeciso entre estar sonhando, ou estar maluco. Não estava acostumado a me ver ceder tão fácil.

-Posso tirar uma foto da sua tatuagem?- perguntou ele com um sorriso malicioso, daqueles que a gente sabe, que não pode significar coisa boa.

Dei as costas para ele e coloquei os cabelos por cima de um ombro só. Tirei a camisa dele que eu usava e a joguei para longe, depois olhei na sua direção por cima do ombro, esperando encontrar a luz do celular já piscando em minha direção. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, pude ver seu olhar preso em mim, ele estava encantado, hipnotizado por algo que só ele podia ver. Ele só ficou lá me olhando, segurando o celular em uma mão, esquecendo completamente o que estava fazendo, por mais tempo do que eu esperava. Então perdido nos próprios pensamentos ele capturou, o que parecia ser uma única foto, depois colocou o celular em cima da cama e se aproximou de mim com delicadeza. Ele depositou um beijo no meu ombro, e depois, muitos outros no trajeto até a minha orelha. Fechei os olhos, me permitindo sentir, me permitindo gostar do seu toque. Gostando da sensação de formigamento que a boca dele causava na minha pele. Era boa de mais para ser ignorada.

Ele me virou para si, segurou meu rosto e pressionou os lábios nos meus com cuidado. Seu beijo, era tão urgente, que entreguei ao toque dele naquele segundo, deixei que ele comandasse meus movimentos, enquanto sua mão acariciava meu rosto.

Primeiro ele me levou para a sua cama, depois deitou meu corpo ao passo que levava o seu junto, tudo sem parar de me beijar um segundo sequer. Então ele se apoiou nos cotovelos, para poder me olhar melhor, e eu podia ver, que ele tentava se concentrar em só olhar para o meu rosto, e não meus peitos.

-Não sei o que isso aqui esta significando para você, nem posso dizer como vai ser daqui por diante, mas você precisa saber, que isso não é novo para mim. Não é de hoje que estou apaixonado por você.- disse ele com um semblante sério.- Talvez você já tenha até percebido isso, mas só quero ter certeza que as coisas ficaram claras.

Fiquei lá, só olhando para ele, com o coração aquecido por palavras que eu nem sabia que ele conhecia. Mas não consegui dizer nada, nem como me sentia, nem como gostaria que as coisas fossem, nada. Fiquei só olhando para ele, com o ar preso no meu peito, a ponto de me sufocar. Eu não esperava que ele dissesse uma coisa daquelas, não esperava que ele me visse daquele jeito, e muito menos que me fizesse sentir o que estava sentindo. Então não consegui dizer nada.

Ele não esperou por uma resposta minha, apenas me beijou com mais intensidade e desejo. Transamos mais uma vez, mas daquela vez não foi nada como antes. Não havia aquele fogo e aquela loucura toda. Era como se cada toque dele quisesse dizer o que sentia por mim, como se cada beijo dele contasse um segredo ao meu corpo, e quando ele me penetrou senti que nada poderia ser ignorado completamente.

Acordei horas mais tarde, deitada sobre o peito de Harry, com o sol morrendo ao fundo da janela. Sua respiração era tranquila e seu peito subia e descia quase num ritmo perfeito. Ele estava num sono profundo.

Me levantei e coloquei a camisa e as calças de antes. Fui até o banheiro e me encarei no espelho. Meus olhos estavam tranquilos, e meus cabelos bagunçados, até meu rosto estava diferente, levemente corado. E daquele ponto de vista eu até parecia à mesma Anne de antes. E não gostei de ver aquilo.

Prendi os cabelos num coque alto, molhei o rosto com agua fria e escovei os dentes com a escova de Harry. Me sentia perdida nas palavras e gestos dele. E tudo parecia tão fora de si, precisava sair dali, pensar sem estar sobre a influencia dele. Desci as escadas do terceiro e segundo andar, entrei no corredor que levava a lavanderia e peguei as minhas coisas. Vesti as minhas roupas com rapidez e joguei as de Harry dentro do cesto de roupa suja, mas antes que eu me sentisse pronta para fugir, olhei para trás, e por um segundo meu coração pareceu afundar no meu peito, então voltei e peguei a camisa, que antes estava no meu corpo, e sai.

Passei por diversos empregados da mansão, negando ajudada de todos os que me ofereceram. Eu precisava ficar sozinha, precisava pensar sobre tudo que tinha acontecido.

-Senhorita Mcgregor?- gritou um dos seguranças.

Olhei para trás, para o homem de terno tão bem alinhado, e sapatos lustrados. A prova viva, de que aquele mundo ali, não era o meu.

-A sua bolsa.- disse ele erguendo a bolsa na minha direção.

Peguei a bolsa do homem, e depois caminhei rumo à saída. Caminhei por quase dois quilômetros ate encontrar um ponto de ônibus que me levasse a um terminal, para só então pegar um que me levasse para casa. Quando entrei no meu apartamento fui obrigada a responder a um olhar questionador do meu pai. Era obvio que ele sabia onde eu estava, de alguma forma Harry tinha dado um jeito de avisar ele, o que só tornou o olhar dele ainda mais irritante.
Ignorei qualquer coisa que ele tivesse para me dizer e depois entrei no meu quarto. Me sentia suja, como se não tomasse banho e nem comece a dias. E nem mesmo a agua do chuveiro conseguia me fazer sentir melhor. Me enrolei na toalha e deitei na cama, sem me importar em deixar as cobertas molhadas.

Meu celular começou a vibrar dentro da bolsa, sem parar por um segundo. E eu não precisava ser vidente para saber quem era. Só que eu não queria falar com ele, não gostava do que estava sentindo, não gostava da forma como ele tinha se tornado diferente. E parecia que meu ar ia ser sugado de dentro de mim, até que não sobrasse nada.

Eu sabia que estava parecendo maluca e exagerada, mas não conseguia evitar me sentir daquele jeito. Harry sempre foi um monstro para mim, e de repente parecia que tudo dentro de mim tinha se encantado por ele. Eu ficava lembrando das mãos dele no meu corpo, da sua boca na minha, do jeito que ele sorria e andava, e principalmente da forma como ele me olhava. Parecia que ele não tinha problemas em ser sincero, nem em se expor. Só que aquele era todo o meu problema, eu não sabia sentir, não sabia dizer, e nem me sentia pronta para mudar aquilo. Não queria me magoar, nem perder a postura que tinha lutado tanto para construir, gostava de quem eu era e não ia ser ele que ia mudar aquilo.

Peguei meu celular e vi a mensagem dele.

PORQUE VOCÊ FOI EMBORA SEM SE DESPEDIR?

Se eu respondesse aquela pergunta, de qualquer forma e com qualquer palavra, não seria capaz de dizer a verdade. Porque nem eu sabia ela.

TINHA ESQUECIDO QUE PRECIVA FAZER UMAS COISAS. PRECISEI IR EMBORA.

A mensagem parecia fria e distante, exatamente como eu me sentia no momento em que a escrevi. Já tinha voltado ao modo automático, e nele, não sabia lidar com o jeito carinho de Harry.

TUDO BEM. A GENTE SE VE AMANHÃ.

Revirei os olhos ao lembrar que não poderia fugir no dia seguinte. Seria obrigada a encarar ele, mesmo que não me sentisse pronta para isso. As coisas são assim, por mais que você queira ignorar as escolhas que fez, nunca vai poder fugir das consequências que elas causaram.

E Harry, não seria uma consequência fácil de lidar.


Quase, sem quererWhere stories live. Discover now