Capítulo Dois

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Então, está impressionado, querido leitor? Julgo dizer que com o término do capítulo anterior, você ficou no mínimo ansioso para saber o que irá acontecer. Eu te aviso de antemão: não irá querer saber. Sério, deixe disso, vá assistir sua série preferida, converse com seus amigos, tenha momentos felizes! Aqui, não garanto que encontrará nada disso.

Sim, essa mulher encontrou a imagem do homem que aterrorizava sua mente. Uau, impressionante, não? É sensacional observar o que a vida faz com nosso destino... E você pensando que o destino traçava a vida? Que ingênuo. O destino é a arma que nossa amada companheira utiliza para ouvir a linda frase da nossa boca: "A vida é linda! ", que já foi até título de filmes e músicas.

Eu tenho que confessar, ela não tem nada de linda. Essa personagem acaba com nossos sonhos e nos faz escravos de nós mesmos. Pergunte para alguém com depressão e você sentirá o que é que acontece quando queremos apenas viver, você verá o poder que a vida tem sobre nós.

Vamos tentar de outra maneira: pense na palavra "vida". Pronto? Eu ouso dizer que imaginou plantas verdes e molhadas, animais correndo pelo campo, uma mãe amamentando seu filho e muitas outras coisas felizes. Ah, meu caro colega, essas figuras que pensou são apenas a propaganda. Sim, uma propaganda. Alguma vez você já notou um comercial triste? Mas é óbvio que não. Pesquisas sempre apontaram que o sentimento para a compra de um produto é apenas um: felicidade. Então por que raios terá imagens tristes sobre a vida? "Triste é a morte", muitos pensam. Não diga isso de uma pobre como a morte, tudo o que ela faz é dar fim ao sofrimento. Ela te dá de bandeja o seu desejo supremo que é acabar com aquela dor de viver.

Esse era o querer daquela mulher. Pode ser até psicologicamente perturbador pensar em morrer, mas aquela era a única saída encontrada pela triste e amarga mulher, que gritava aos sete ventos o nome de sua querida. Porém, o que nem todos sabem, é que a morte só encontra aqueles que estão preparados...

E você, está preparado para talvez encontrar a morte nessas próximas páginas?

*****

Eu não me mexia, jazia de pé sobre o carpete macio. Eu nunca pude imaginar que encontraria ele na minha frente novamente. Uma repulsa subiu pela minha traqueia e parou na garganta, explicitando meu sentimento naquele atual momento. Meus pés pareciam colados no chão, mesmo com toda força de vontade que fazia para correr dali eu não conseguia me mover e nem realizar qualquer ação além de um grito abafado, que duvido muito ele ter ouvido. O olhar dele permanecia estático, fitando-me diretamente nos olhos, com um sorriso malicioso no canto da boca. Era claro que ele me reconhecia, era óbvio que ele estava se divertindo com aquele instante de pavor em meu semblante.

Roguei para todos os deuses existentes, eu precisava fazer alguma coisa.

De repente, aparentemente minhas preces foram ouvidas, e três batidas na porta ecoaram pela sala esverdeada. O rosto do suposto doutor se modificou por completo, o sorriso e o olhar se transformaram magicamente; ele ficou totalmente sério, mudou o pé de apoio e colocou as mãos no bolso, em uma clara linguagem corporal.

Graças a Deus, meu salvador tinha chegado e me tiraria de lá... Que nada! Sua recepcionista entrou e entregou nas mãos do homem uma pasta, que continha obviamente os meus dados de cadastro.

— Michelle, tudo bem? —A linda mulher loira, cujo corpo esguio com curvas acentuadas no quadril e no busto demonstrava toda sua beleza. Ela utilizava o cabelo preso e seu lábio fino pronunciava cada palavra de um jeito doce, porém falso. O estranhamento dela com meu estado foi o bastante para eu conseguir abrir a boca, mas antes de qualquer palavra proferida, o psicólogo me cortou rapidamente.

— Ela está com Transtorno de Estresse pós-traumático, mas logo ela já vai se acalmar. Muito obrigado, Rosanne, pode ir. — Aquela voz ríspida me trouxe calafrios, minha espinha gelou do mesmo modo de quando ouvi aquelas palavras no ponto de ônibus. A mulher assentiu e saiu da sala, fechando a porta logo depois. — Então, Michelle Albuquerque— disse ele, olhando na pasta—, como posso te ajudar hoje? – O mesmo sorriso brotou em seus lábios, denotando uma calma singular.

— Você... — Minha voz saiu quase inaudível, fazendo o homem se aproximar um pouco mais para ouvir melhor o que eu dizia. — Você é ele... O homem... do ponto de ônibus — Dessa vez a sonoridade saiu no volume correto, porém totalmente trêmula e gaguejada.

— Eu? Quando? Faz muito tempo que não pego um ônibus... — O doutor sentou-se no sofá bem à minha frente, cruzando as pernas e balançando lentamente o seu sapato social preto de cadarço. A calça cinza, que parecia ser parte de algum terno, suavizava sua aparência, dando um contraste com seu suéter e gravata azul-marinho. O cabelo seboso estava jogado para trás com gel. – Você quer me contar o que aconteceu? — Sorriu novamente. "Você sabe o que aconteceu, maldito! ", pensei.

Eu não consegui falar mais nada, fiquei uns dois minutos estática, abraçada em minha bolsa que estava no meu colo. Quando finalmente raciocinei, endireitei minha postura e comecei a gritar.

— Você é o homem que me raptou! Você fez aquelas coisas comigo, eu lembro! Como pôde fazer isso?! – Minha voz finalmente conseguiu ser ouvida, talvez até no outro cômodo, perturbando o ouvido de todos com um insuportável e estridente som. — Alguém me ajuda, por favor! — Um homem grande e moreno entrou pela porta, vestia uma roupa branca dos ombros aos pés. Foi em minha direção com uma injeção em sua mão direita. Quando ele me agarrou com seu outro braço, eu me debatia incessantemente, como um peixe tentando escapar de uma rede de pesca. No momento em que a agulha me perfurou, senti todos meus músculos adormecerem, e lentamente fui me acalmando contra minha própria vontade.

— Agradeço por isso, Renato. Às vezes alguns traumas podem abalar muitos as pessoas... — falou o doutor para o outro homem, que concordou com a cabeça e foi logo saindo da sala; Carlos rapidamente se dirigiu a mim — Eu contratei o Renato pois eu lido com muitos assuntos fortes aqui no consultório, e as coisas podem sair do controle... — Eu juro que queria me levantar e matar eu mesma aquele homem. Como conseguia agir assim como se nada tivesse acontecido? Mesmo com toda força de vontade para agir, meu corpo não respondia aos meus comandos. — Esse sedativo não fará você desmaiar — A ênfase nessa última palavra me trouxe arrepios. —, ele apenas acalmará você para podermos conversar melhor.

O homem então se levantou, foi em direção à sua mesa e despejou a pasta bem ao centro da madeira envernizada. Depois disso, com passos lentos, parou atrás do sofá que jazia na minha frente, descansando suas mãos sobre o acolchoado cor de grafite.

— Seja lá quem você acha que sou — O mesmo sorriso continuava a aparecer no seu rosto, demonstrando um tipo de escárnio misturado com uma leve pitada de ironia implícita. —, eu não faço ideia de quem seja.





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O tempo logo depoisWhere stories live. Discover now