XXXIV - O primeiro dia

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Não teríamos qualquer vantagem em esperar, pois não haveria nunca uma ocasião propícia. Luke, eu e Iko abandonámos o abrigo e seguimos em direção à base. O cavaleiro Jedi liderou-nos, seguindo um trajeto previamente traçado pelo mestre Eilin, onde voltei a vislumbrar o véu azulado que nos resguardava e nos tornava invisíveis.

- Também vamos tê-lo na base?

- Na base, não – esclareceu Luke vigilante. – Na base estaremos por nossa conta, sem a bênção do mestre Eilin.

- Na nossa saída do planeta?

- Também não.

- Como vamos fazer? Corremos o risco de sermos descobertos.

- Utilizaremos um corredor aéreo discreto. Iko conhece-o.

À vista dos primeiros edifícios da base, mantivemo-nos na floresta e contornámos os muros destruídos por raízes grossas e arbustos agressivos. Pelos vistos, o monstro conhecia muito mais do que corredores aéreos, pois guiou-nos por um labirinto verde até se nos apresentar um portão destruído que nos deu o acesso pretendido à base. Avançámos furtivamente, num silêncio total para não alertar as inúmeras sentinelas que vigiavam cada canto e cada movimento suspeito, em postos de observação nas altas torres. Luke munira-se da sua pistola laser DH-17, eu fizera o mesmo. Iko também estava armado com uma carabina laser E-5, utilizada durante a guerra civil por grupos paramilitares rebeldes, e cobria-nos a retaguarda. Chegámos a um armazém que atravessámos a correr e saímos para uma pista de aterragem onde estava uma nave espacial, ocultada pela sombra oportuna de um edifício coberto de trepadeiras.

Não havia soldados na vizinhança, mas continuámos a proceder com cuidado. Entrámos no veículo interestelar, a rampa de acesso fechou-se. Ocupei o meu lugar como passageira, Luke e Iko seguiram para a carlinga onde ligaram os motores de imediato. Guardei a minha pistola, cruzei os braços. Estava muito tensa e cheia de medo que fôssemos descobertos.

No entanto, acabou por não ser difícil levantar voo e deixar para trás a floresta do lado sombrio de Luyta, com o cavaleiro Jedi e o monstro aos comandos do aparelho, piloto e copiloto, a entenderam-se maravilhosamente bem, mesmo que um deles comunicasse com roncos.

As naves de Kram que patrulhavam as rotas de saída não deram pela nossa presença no espaço. O corredor aéreo indicado por Iko era, de facto, bastante discreto e provavelmente secreto, utilizado por algum contrabandista, indicação deixada, imaginei, por Lyle Bergh. Por outro lado, a nave estava camuflada. Ouvi-os acionarem um escudo defletor que também nos fazia invisíveis aos radares inimigos logo que arrancámos, entre outras indicações relacionadas com navegação. Por fim, a nossa viagem foi muito curta, nem sequer foi usada a velocidade da luz e tive a sensação de termos pairado graciosamente até apanharmos a gravidade do satélite do planeta maior.

A lua de Luyta onde aterrámos era completamente diferente do mundo em redor do qual orbitava no silêncio do espaço. Pelo menos ali havia um sol e ver luz foi uma estranha alegria. Recebi o calor na cara, encandeada mas fixando teimosamente a estrela branca e brilhante, satisfeita por ter a certeza de que ali haveria uma sucessão de noites e de dias, que teria manhãs, tardes, crepúsculos e madrugadas.

O cenário era ainda mais satisfatório. O terreno era uma planície que ondulava mansamente até ao horizonte, em curvas suaves. Até perder de vista, um bosque composto por árvores dispersas, de tronco fino e muito altas, com um tufo de folhagem acastanhada no cimo, e por arbustos perfeitamente redondos de um tom seco de verde. Relva amarela cobria o solo que dava pelo tornozelo, macia como os pelos de Iko. Permitia percursos desimpedidos e havia trilhos naturais que serpenteavam entre o arvoredo. À primeira vista não existiam animais de grande porte, não tinham onde se abrigar, mas escutei o arrulhar de algumas aves. A pouca distância corria um rio, cujas águas verdes refletiam a rara cor do céu, serpenteando entre outros arbustos redondos, abrigo de insetos preguiçosos, resvalando em cascatas baixas entre pedras e seixos.

A Criação da LuzWhere stories live. Discover now