Minha casa está parcialmente destruída, os danos maiores ocorreram na fachada. Passo pelo muro que está totalmente no chão e empurro a porta da frente, que despenca para o lado. Ao visitar o que restou do meu quarto, encontro um porta-retratos com uma foto onde eu, minha mãe e meu avô estamos abraçados em frente a uma decoração feita por balões azuis e brancos. Ela foi tirada no aniversário de oitenta e oito anos do meu avô, Alexander Watson.

Sinto muita saudade do seu senso de humor, que contagiava todos ao redor. Ele era ex-militar e eu o enxergava como um super-herói. Alexander sempre inventava ótimas histórias, me fazendo companhia antes de dormir.

Logo após completar a maioridade foi colocado para servir sua nação em uma guerra que durou mais ou menos três anos, felizmente ele conseguiu sobreviver ao conflito, aliás, ele foi um dos poucos que alcançou esse mérito. Os traumas causados pelo combate fizeram com que ele desenvolvesse problemas com o álcool, os quais se estenderam por toda sua vida e causaram sua morte aos noventa anos.

Vou em direção ao quarto da minha mãe, onde a porta não existe mais, a cama faz o papel da mesma bloqueando a entrada. Noto que há algo de estranho no piso do cômodo, exatamente em baixo da cama, a madeira que reveste o chão está elevada em relação ao resto. Me aproximo, avistando um tipo de compartimento com algo em seu interior, retiro o móvel, estico a mão pra dentro da fenda e percebo que há uma trouxa de pano. Depois de alguns minutos e com um pouco de dificuldade, consigo retira-la. Quando abro, tenho uma surpresa, me deparo com várias espadas, adagas, machados, clavas etc., o que isso está fazendo no quarto da minha mãe? Realmente não tinha conhecimento da existência daquelas armas, Grace fez um bom trabalho as escondendo.

Decidida a me livrar dos objetos, vou em direção a cratera no meio da rua. Em tempos como esses, o que mais quero é que as pessoas não tenham motivos para ser ainda mais violentas umas com as outras. Estendo o braço e ante que eu solte o embrulho esgoto abaixo, alguém grita:

- Garota, o que você tem aí? – ouço a voz de Thomas.

Escondo o embrulho.

- Nada de importante, só mais destroços que encontrei.

Ele se aproxima.

- Você não pode simplesmente descartar as coisas que você encontra só por julga-las inúteis, o Afonso pediu que tudo que for encontrado seja levado a ele.

- Mas isso são coisas realmente inutilizáveis.

Faço um movimento brusco para jogar a trouxa fora, mas uma das facas cai. O garoto segura meu braço imediatamente.

- Isso é uma espada? – ele diz, mirando o pacote.

A princípio hesito, mas acabo falando a verdade.

- Sim, encontrei essa trouxa com algumas armas atrás de uma das casas.

- E porque está jogando fora? – ele procura entender.

- Não acho legal levar armas pras pessoas, elas podem se encorajar a ir contra rebeldes, ou soldados...

- Você é mais burra do que pensei. – ele interrompe. – Essas armas podem ser nossa salvação.

- Não, essas armas podem ser a nossa morte.

Thomas me lança um olhar de decepção.

- Entenda que não existe vitória, sem que haja pequenos sacrifícios no processo. – ele diz, de forma fria. – Acorda garota, isso não é um daqueles contos de fada que você lia quando era criança, isso é uma guerra, quem está mais preparado conseguirá vencê-la.

Capuz de Sangue - Livro 1Where stories live. Discover now