3 - Jantares Incômodos

Start from the beginning
                                    

— De que forma, Lorde Shaula? — perguntou o rei.

— Possuímos um excelente guarda pessoal que assumiria o posto, de bom grado. — Tamborilava na mesa, exibindo um anel do artrópode que lhe fazia reputação.

— Isso apenas acontecerá após a minha morte — Midnight disparou.

— Milady — continuou o crápula, a olhando pela primeira vez —, vimos que não fez nenhum progresso, muito pelo contrário, desde que assumiu a liderança, tudo piorou.

Vários generais anteriores já traziam consigo os fantasmas das batalhas perdidas para diurnos, então por que apenas Midnight era cobrada tão duramente?

— O senhor não sabe nada sobre meu exército ou sobre mim, portanto, tenha a bondade de calar a maldita boca — retrucou, com a costumeira frieza.

— Midnight, isso foi rude. Trate de desculpar-se — ordenou seu tio, e como ele era o rei, ela teve que obedecer.

— Perdoe-me pelas palavras chulas.

— Cravou os olhos no conselheiro. — E nada além disso.

— Sou conhecedor do temperamento volátil da milady, assim sendo, vossa alteza é incapaz de ofender-me.

— Posso esforçar-me quanto a isso.

— Lorde Shaula, minha sobrinha tem se mostrado uma ótima líder; admito que tivemos um período de declínio nesses últimos tempos, mas a culpa não é dela — Alioth optou por interceder.

— O conselho não está feliz, queremos alguém de nossa escolha para assumir o exército. Princesa Midnight possui outro papel, ela é agradável aos olhos, sua missão deveria ser casar-se para formar alianças. — Lesath correu os olhos por ela, detendo-se no decote. — Podemos procurar algum príncipe ao Sul.

Midnight sentia-se a ponto de atravessar a mesa e cravar a faca no coração dele. Por isso, odiava ser definida como princesa; para estes homens elas serviam apenas como moedas de barganha.

— Vamos deixar esse assunto para uma outra hora. Desejo aproveitar nosso jantar em paz, são raros nossos momentos tranquilos.

— Assim seja, majestade.

Midnight não conseguiu comer, apenas fantasiava formas diferentes de matá-lo, e o jantar seguiu em meio a um silêncio pontuado apenas pelo tilintar de talheres.

Mais tarde, na segurança do quarto, ela pôde pensar nas coisas que o conselheiro falou. Até certo ponto, ele tinha razão, não havia como negar as constantes derrotas, mas estava fazendo o melhor que podia; a questão era saber se isso bastava.
Batidas soaram na porta, interrompendo os pensamentos que a consumiam. Era Mallika, segurando uma bandeja.

— Gostaria de tomar um chá, alteza?

— Sim, obrigada.

— Parece um pouco aborrecida, milady.

— Ficarei bem.

Mas sabia que isso seria impossível enquanto a guerra existisse.

***

Midnight teve o sono interrompido por desconhecidos que a carregavam. Esforçou-se para olhar ao redor, mas o torpor dificultava-lhe a compreensão, a arrastando para a inconsciência.

Acordou desorientada em um cômodo sem luz alguma, o que de certa forma era confortável, já que a claridade apenas pioraria sua situação. Ela ainda sentia o corpo e a mente mergulhados em letargia, mesmo assim, conseguiu notar uma pessoa deitada na cama do outro lado, antes de perder os sentidos novamente.

1. Corvo da Meia-Noite [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now