NOTAS DA AUTORA

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Você provavelmente já ouviu falar sobre transtorno de humor bipolar! Alguém, perto de você, já deve ter usado o termo "bipolaridade" várias vezes e, a maioria delas, de um jeito bem errado. Como quando você acorda bem e, do nada, fica mal; ou ama e odeia uma pessoa; ou qualquer besteira dessas, então como desculpa diz: deve ser bipolaridade.

Mas você SABE o que é transtorno de humor bipolar?

Conhece os nuances, as flutuações, as formas com as quais ele apresenta? Como é difícil para quem tem? Como é irresistível o início da euforia, porque dá a sensação de que se é invencível e tudo pode? Como é insuportável a culpa quando a euforia passa, por ter sido mais uma vez ludibriado pelos próprios sintomas? Como a depressão pode ser grave, insuportável e muito maior do que apenas a tristeza num dia ruim?

Talvez não.

E sabe como é difícil para as pessoas que convivem com quem tem aguentar tudo isso? Como, para além da romantização, entender o outro, que tem diferentes formas de ser, pode ser também cansativo, enlouquecedor, difícil e desgastante? Sabe como é tentar manter o amor mesmo não tendo a certeza de que ele será recíproco num momento de crise?

A maioria não.

Essa é uma história para falar sobre isso. Para problematizar um termo que ficou tão banal nos últimos anos e que, por conta disso, multiplicou os diagnósticos e deturbou a ideia - séria - do que é ser bipolar.

Porque bipolaridade não é um adjetivo.

É um transtorno. Atrapalha sua vida, te impede de fazer várias coisas, dificulta seus relacionamentos, afasta as pessoas de você, te deixa solitário e faz com que se flerte tanto com a euforia como com a depressão, num desespero de fuga daquilo que não consegue sair de você.

Autores famosos tiveram bipolaridade - Hemingway, Agatha Christie, Virginia Woolf, dizem os estudiosos - mas, para além da obra maravilhosa que eles deixaram, existiu sofrimento, dor e solidão.

Clarice, a personagem desse livro, não sabia o que era bipolaridade.

Mas João Gabriel quer contar a ela como é conviver com o demônio que morava em seu próprio corpo.

Ele também quer contar a você, se você permitir.

Porque, por trás de tudo, todos nós merecemos ser amados. Mesmo quando "transtornados".

Dê essa chance.

Rompa o clichê.

E desconstrua, junto com a gente, tudo o que você acha que sabe sobre transtorno psicológico.

Quem sabe assim você não descubra que, por trás de tanta dor, pode nascer um amor - dos mais bonitos e sinceros que se pode ter.

Fernanda Campos

Diversas Formas de Nós [COMPLETA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora