Dia Um

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– Mamãe! Mamãe! – corri porta adentro, tropeçando no tapete emaranhado que deveria ter arrumado antes de ir à mercearia. Só não caí por causa do sofá, onde me segurei.

Minha mãe veio da cozinha, assustada.

– O que houve, Catarina?

– O circo chegou à vila, vai ter apresentação nesses três dias, nós temos que ir. Há quanto tempo não vamos a um circo?

– A última vez que fomos foi na última vez que um circo apareceu por aqui, Catarina.

– E isso já tem anos, nem consigo mais me lembrar. Por favor! Sabe o quanto gosto de circos.

Ela suspirou, sabia o quanto iria insistir se ela não deixasse.

– Busque dinheiro na caixinha de natal, mas saiba que seu presente não será tão bom agora.

Sorri vitoriosa. Quem ligava para um vestido novo de natal? Eu queria ver o circo. A última vez que um passara na vila eu tinha apenas doze anos, era uma menina ainda. Agora, seis anos depois, finalmente voltaria a ver algo novo nesse fim de mundo que chamo de lar.

Fui ao quarto e peguei algum dinheiro, já que não fazia ideia do quanto custaria o bilhete do circo, e disparei pela porta, parando apenas para dar um rápido beijo na bochecha de minha mãe.

A vila não era muito grande, então só tinha um lugar óbvio para se montar o circo: no campo em frente à praça da igreja.

Apesar do sol estar no meio do céu, o clima de outono não deixava o calor incomodar, então caminhar até lá foi bastante agradável. Na bilheteria, algumas pessoas já se antecipavam na compra do ingresso, provavelmente tão empolgados quanto eu. Acelerei o passo e me pus atrás de uma menininha de longas tranças que pulava de ansiedade. Me senti uma criança novamente ao notar que estava tão ansiosa quanto ela, mas não demonstraria da mesma forma.

Enquanto esperava, percebi o movimento de pessoas indo e vindo para montar o circo. A lona já estava de pé, mas o tempo todo entrava e saía gente com madeiras, caixotes e outras coisas que eu não saberia identificar. Foi aí que eu o vi. Alto, magro, cabelos castanhos ondulados na altura dos ombros, com um chapéu coco cobrindo a cabeça, um bigodinho que se unia pelos lados ao cavanhaque fino. Ele usava uma camisa branca de mangas dobradas até os cotovelos, calças em um tom escuro de marrom, presas por um suspensório preto. Ele tinha as mãos na cintura, queixo erguido e uma sobrancelha arqueada enquanto observava os outros fazendo o trabalho pesado.

Um dos homens musculosos deixou uma caixa cair, fazendo saltar três coelhos brancos de dentro e o moço de suspensório graciosamente bateu com a palma da mão na testa e pareceu brigar com o desastrado, enquanto os animais iam para lados diferentes. Após dar a bronca, ele tirou algo o bolso e pôs na boca, um apito. Com um breve assopro, os coelhos param e, como se tivessem entorpecidos, voltaram para a caixa de onde escaparam.

– MOÇA! – a atendente gritou. Já era a minha vez.

– Perdão. – Senti meu rosto queimar. – Dois ingressos para hoje à noite.

– Aqui estão. Cinco cada.

Entreguei o dinheiro e saí sem olhar mais ninguém ao meu redor, já estava muito envergonhada. Tentei dar uma breve olhada no moço do suspensório, mas ele não estava mais lá, então voltei para casa.

~

Finalmente anoiteceu. Nunca me arrumei tão rápido em toda a minha vida e esperar minha mãe era torturante. Me olhei no espelho para tentar retocar algo. Meus cabelos escuros arrumados em um coque trançado, levemente à esquerda em minha nuca. Uma tiara dourada perfeitamente encaixada na minha testa, meus falsos brincos de topázios combinavam com o tom de meu vestido verde escuro. Para finalizar coloquei meu colar de ouro branco, cujo pingente era um verdadeiro topázio azul no formato de uma gota, presente de meu pai.

CircusWhere stories live. Discover now