House of Blood

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Desci o pequeno morro que antecedia o lago e vi a mulher tentando subi-lo. Mais adiante, cerca de dez ou vinte metros de distância, estava aquela coisa enorme e peluda que caminhava em direção a pobre humana. Ao me ver, ficou ainda mais desesperada.

— Pelo amor de Deus. Me ajuda. Eu não quero morrer — pediu aos prantos. Saltei de onde estava e caí logo ao seu lado. Ela se assustou, a princípio, mas quando a peguei nos braços e novamente fui parar em cima do morro outra vez, ela relaxou. Deixou o corpo ficar mole em meus braços antes que eu começasse a correr para a mansão.

A coisa percebeu que eu a havia ajudado e mudou sua postura. Antes brincava de caçador e caça com aquela menina. Porém, quando eu intervi, ele percebeu que eu não estava no clima para brincar. Então correu. Urrava enquanto seguia em minha direção, provavelmente para me assustar, me fazer desviar o caminho ou soltar a mulher. Mas eu não fiz nada disso e só descansei quando entrei em casa e bati a porta do fundo. Toda a mansão já estava em alerta e o que restou do grupo de caça — e aqueles que sabiam atirar — se uniram em frente a porta, enquanto eu me afastava e entregava a mulher para Susan e Andrei cuidarem dela.

Todos apontamos para a porta que eu havia acabado de passar, quando ouvimos o primeiro estrondo. Alice correu para trás de mim e eu me virei para olhá-la. Não poderia ficar ali. Nem ela e nem Arthur. Meu irmão eu já sabia que não me ouviria de maneira alguma — até porque já estava com a arma apontada para a porta que estrondou uma segunda vez.

— Amor, por favor, vá ajudar Susan e Andrei com a humana. Eu te imploro.

— Eu não vou te deixar sozinho aqui com o que quer que seja essa coisa. Eu não posso perder você novamente. Não insista porque eu não vou subir.

— Então vá para trás de todos nós. Fique próximo da saída. Ao menos faça isso por mim, por favor — pedi. Ela assentiu e me deu um beijo rápido, indo para onde lhe mandei. Alice sabia atirar e poderia lutar, mas estava humana. Infelizmente eu tive a sorte de ver as duas pessoas mais teimosas que eu conhecia se tornarem humanas no mesmo instante. Novamente ouvimos outro estrondo e a porta veio abaixo. Aquela coisa então entrou no salão.

— Fogo! — ordenei. Imediatamente todos nós começamos a atirar naquilo o quanto conseguíamos. Nossas armas, automáticas, nos davam a liberdade de não ficar se preocupado de recarrega-la o tempo inteiro. Porém, se caso precisasse, o vampiro que estava ao lado era instruído para dar cobertura enquanto você colocava balas novas.

A criatura recuou brevemente, embora ainda olhasse para nós como se pudesse atacar a qualquer momento. Concentramos nossos tiros na altura do coração e foi somente aí que ela retrocedeu. O seu sangue molhava o tapete e ela parecia chorar. Continuamos atirando mesmo quando ela deixou a casa e parou no canteiro do roseiral.

Até que, depois de dezenas de balas, a criatura caiu por sobre as rosas que Alice há pouco cuidava. Não demorou muito para que aquele monstro fosse perdendo sua cor e pelagem. Tomando a forma de um homem no momento seguinte.

Alice passou em minha frente e se aproximou da criatura. Eu sabia o que ela queria ver e entendia sua curiosidade. Ela queria ter certeza de que aquele era o William e eu também — já que assim talvez comprovássemos que havia apenas uma coisa daquela. Era em que eu me apegava e em que eu me reconfortava —, mas assim que virou o corpo do homem em sua direção ela percebeu se tratar de alguém que não conhecia.

— Me ajude — o sujeito pediu respirando com bastante dificuldade. — Por favor, me mate. Por favor — implorou. As lágrimas de Alice correram por seu rosto quando ela me pediu a arma menor que eu tinha na cintura. Saquei e entreguei para ela. O homem segurou em sua mão e a fez olhar para ele. — Mire bem aqui — ele direcionou a arma para um lugar acima de onde sabíamos ficar o coração. — Antes, eu preciso dizer... — ele ofegou e continuou —... podemos nos tornar humanos novamente. O sangue faz isso com a gente. A privação nos torna essas coisas — a sua respiração acelerou. — Por favor, me desculpe.

Infinito - Livro 3 (Trilogia Imortal)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora