Parte I

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- Tome cuidado, Scarlet.

- Eu sempre tomo, mamãe. Além disso, não sei se os ataques eram realmente, de lobo. Há algo de estranho nisso.

- Até o médico da cidade disse que foram lobos, não sei porque você insiste em outra coisa.

- Porque os lobos estão na floresta há mais tempo do que essa vila e nunca houveram ataques. Pelo menos não com as pessoas da vila, sempre ocorre de um ou outro aventureiro se meter com os bichos da floresta sem os conhecer...

- Ah, se pelo menos minha perna estivesse boa, para que eu pudesse lhe acompanhar.

- Mamãe, já fiz isso inúmeras vezes sozinha. E, temos de caçar. O pão não vai chegar a nossa mesa sozinho.

A mãe de Scarlet balança a cabeça em concordância. Apesar de saber que a filha fora bem treinada, receava que ela passasse muito tempo sozinha na floresta. Os perigos eram sempre imprevisíveis.

Scarlet veste sua longa capa preta e coloca sua faca de caça no cinto do seu vestido. Sua aljava está cheia e ela lhe ata na cintura, carregando o arco com uma de suas mãos.

Quando a jovem sai de casa a lua está alta no céu e o movimento na cidade é pequeno, apenas alguns homens entrando na taberna que acabara de abrir e um ou outro comerciante preparando suas carroças para a feira.

Adentrando na Grande Floresta, Scarlet sente o ar gelar. Se durante o dia o ar ficava abafado e morno, a noite uma brisa gélida, que penetrava qualquer tecido, estava sempre presente.

Ela já tinha seus pontos preferidos para caçar e se dirige às proximidades do lago à sudoeste. Alguns animais tinham hábitos noturnos e eram sempre presas mais fáceis quando entravam no descampado.

Sua avó certa vez lhe dissera que não se deveria caçar dessa forma, que era necessário competir com o animal, que ambas as vidas deveriam estar em jogo. Era desleal procurá-los em um momento em que vão se alimentar.

Por mais que as palavras da avó parecessem vagas, à época, Scarlet não conseguia deixar de pensar nelas toda vez que saía para caçar.

A garota estava posicionada entre as árvores e oculta por arbustos altos. O local era perfeito. Não demora para que um gamo apareça desavisado para beber água. A flecha é colocada no arco e a corda é esticada ao máximo. Com os músculos tencionados, ela faz a mira direto no coração do animal. Preparada para atirar, é impedida quando um rosnado baixo, mas que faz os pelos de sua nuca se erguerem, soa atrás de si.

Prendendo a respiração, Scarlet se vira de maneira lenta, até que consegue ver um grande lobo cinzento rosnando em posição de ataque. O animal dá pequenos passos em sua direção e ela mantém a flecha apontada para ele.

Lobos não atacam sozinhos, teria de haver outros por perto. "Se eu disparar a flecha, outros me atacarão.". As mãos de Scarlet estão tremendo sob o esforço prolongado de manter o arco teso.

Sem saber exatamente a razão, ela desarma o arco e, abaixando-se lentamente, aproxima sua mão do animal, que para de rosnar, mas não deixa a posição de ataque.

- Está tudo bem. - Ela diz mais para si mesma do que para o animal.

Um uivo alto faz com o lobo se aprume e saia correndo pela imensidão da floresta, deixando o coração de Scarlet, ainda que disparado, menos pesaroso.

- É isso que acontece quando se anda sozinha pela floresta, Scarlet. - Fala a garota em tom de reprovação, lembrando do que provavelmente sua mãe lhe diria.

Alguns arbustos não muito distantes farfalham, atraindo sua atenção, de uma maneira que ela tem certeza se tratar de um animal grande. "Uma presa fácil. Talvez seja este o infeliz que irei abater hoje.". Com um movimento rápido, ela pega arco e flecha novamente e, mesmo sem ver o alvo, dispara a flecha.

Scarlet - A Garota da Capa Escarlate (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora