Capítulo 1 - Tormenta

242 29 64
                                    

- Amélia Richard! - Gritou Júlia. Sua mãe. Ela não conseguia parar de pensar no que poderia acontecer dali por diante -Vamos ter que mudar de cidade o mais rápido que pudermos.

A mulher de estatura baixa andava de um lado para o outro. Pensativa. Era a segunda vez que isso acontecia a Amy,  e Júlia não poderia arcar com os erros da filha. O mais provável seria mudar rapidamente. Mas não havia como sair daquela cidade logo depois do filho do prefeito morrer por causa desconhecida.

- Quem viram vocês saírem antes disto acontecer?

- Apenas a mãe dele.

Júlia se jogou sobre a poltrona acolchoada e começou a roer as unhas descascadas pelo esmalte. Amélia apenas tinha o rosto entre as mãos. Não conseguia suportar a terrível perda.

Desde sempre lutara contra a paixão. sequer olhava a qualquer garoto. Pois era fazer isto e seu coração corria o risco de disparar. Apenas observava o rosto do garoto mas não ousava pensar na cor de seus olhos.

- Eu não queria ter nascido.- Disse Amy em meio aos soluços -Morreria para acabar com essa maldição.

Sua mãe levantou-se da poltrona e entrelaçou os braços na filha. Amy sentia o conforto e carinho que sua mãe tinha por ela. Mas era impossível esquecer a discórdia. Os cabelos negros ondulados que iam próximo á sua cintura foram enrolados num coque. Ela precisava cortar-lo urgentemente.

- Não diga uma coisa dessas
- Júlia tentou diminuir o sofrimento da filha. Mas era impossível. Por sorte agora estava menos aterrorizada. Na primeira vez,ela tinha pegado uma faca e tentado um suicídio,mas agora, Amélia apenas chorava.

-Mas mãe? - Ela levantou os olhos azuis para a mãe - Eu-o amo, não queria perdê-lo!

- Eu sei filha - Júlia apoiou-se sobre os joelhos da garota - E por isto digo para tomar cuidado.

- O problema não é eu tomar cuidado! - Amy agora respirava ofegante lembrando-se do que acontecera na praia - O meu amor é um veneno mortal. e só as pessoas que menos merecem bebem dele.

Júlia estava aflita pelo que Amélia dissera. Sabia o que a filha sentia. O primeiro e único homem que se envolveu e faleceu por culpa dela fora o pai de Amy e depois de sua morte uma grande angústia tomou parte de seu coração. Júlia olhou para a filha que soluçava enquanto as lágrimas desciam pelo rosto branco

- Você precisa descansar - Júlia levantou-se e acariciou o ombro de Amélia - suba. depois te levarei um chá.

Amy assentiu com a cabeça. olhou a mãe contornar o sofá e seguir para a cozinha,mas então sentiu um aperto em seu coração.e sabia o que era

Era Augusto

Ele que provocou aquela tristeza. Ele que quis a própria morte. Isso Amy sabia. Mas a culpa também fora dela de não avisá-lo. De não entregar todo o jogo logo. Se tivesse feito pelo menos isto, conseguiria tê-lo agora.

Ela limpou as lágrimas com as costas da mão e ajeitou seu vestido branco com pequenas rosas vermelhas estampadas.
Olhou para os degraus de madeira escura. Eram tantos. Pela primeira vez teve preguiça de subi-los. Ela preferia ficar ali, olhando para o teto branco e limpo

Mas então ela estaria desistindo. E algo que ela não suportar é desistir.

Com um pequeno suspiro, ela subiu degrau por degrau. Seus pés pareciam sacos de algodões molhados. A cada passo parecia que movia um enorme tonel de vinho. Foi então que viu o corredor que dava para uma janela. Onde bem longe, a paisagem urbana mostrava sua beleza.

Arranha-céus cortavam as nuvens. Prédios enfileirados, alguns baixos e outros altos, como degraus de diferentes tamanhos. Ao fundo, fumaça negra era liberada pelas indústrias mais próxima. Ás vezes quando podia, Amy subia à cobertura de sua casa e observava o crepúsculo queimando todo o céu azul. Também haviam alguns pássaros que voavam ao longe. Era bem reconfortante observar aquela outra parte. Onde a mansidão sobrevoava. Mas como nada é totalmente perfeito,ela tinha uma amostra de sua tormenta há poucos quilômetros,onde um córrego passava em direção ao mar. Só em olhar aquele pequeno caminho de águas correntes, calafrios percorriam todo seu corpo.

Tempestade Onde histórias criam vida. Descubra agora