1Uma das classes padrão de jogos de fantasia, literalmente “Domador de Bestas”.
2Termo usado comumente nos RPGs tradicionais de fantasia medieval para descrever monstros
ou animais que auxiliam personagens de diversas formas; deriva do folclore europeu, onde descreve
entidades sobrenaturais que assistiam bruxas e que normalmente assumiam formas de animais.

Silica eventualmente desistiu de correr e começou a caminhar, esperando que
acabasse em uma área na borda da floresta por sorte. Mas a sorte não estava do seu lado, e
vários monstros a atacaram quando ela tropeçou. Mesmo com a grande vantagem de seu nível,
como o dia escurecia, ela não podia mais enxergar perfeitamente as coisas ao seu redor.
Embora Pina estivesse lá para ajudá-la, ela não era capaz de escapar ilesa de todas as lutas e
acabou não só usando todas as poções que lhe restavam, mas também seus cristais de cura
para situações de emergência.
Como se sentisse o nervosismo de Silica, Pina acariciou a bochecha dela enquanto
ronronava em seu ombro. Silica se arrependeu de sua imprudência e orgulho, que a colocaram
nessa situação, enquanto acariciava o longo pescoço de sua parceira para confortá-la.
Ela murmurou para seus botões enquanto caminhava:
— Desculpa. Não me achar especial de novo. Por isso, por favor, me deixe sair dessa
floresta no próximo teletransporte.
Ela pisou em outra zona distorcida de teletransporte enquanto rezava. Após uma
breve onda de tontura, o que apareceu perante ela foi a mesma floresta profunda que viu em
todas as outras zonas. Não havia dica alguma das planícies nas trevas além das altas árvores.
Assim que a desapontada Silica retomou a caminhada, Pina levantou sua cabeça
rapidamente e soltou um gemido agudo. Era um aviso. Silica puxou sua adaga imediatamente
e as levantou na direção à qual Pina olhava.
Poucos segundos depois, um grande rugido pôde ser ouvido atrás de uma grande
árvore coberta por musgo. Conforme Silica focava seu olhar, um cursor amarelo apareceu.
Tinha alguns deles. Dois, não... três. O nome do monstro era «Símio Ébrio». Era um dos
monstros mais fortes na Floresta da Perambulação. Silica mordeu os lábios.
Mesmo se for esse o caso…
Eles não eram tão perigosos assim se você só olhasse o nível.
Quando jogadores medianos, como Silica, iam às dungeons, era senso comum estar
vários níveis acima dos monstros que apareciam. Normalmente, eles precisariam estar em um
nível elevado o suficiente para derrotar cinco monstros sozinhos e sem quaisquer itens de cura.
A razão disso era que, diferente dos guerreiros mais fortes nas linhas de frente, os
jogadores medianos se aventuravam para conseguir o col necessário para viver e experiência o
bastante para ficar na linha mediana de nível, e, por fim, para simplesmente matar o tédio.
Não valia a pena arriscar sua vida por nenhum desses motivos. Na verdade, ainda havia uns mil
jogadores na «Cidade Inicial» que se recusavam a aumentar suas chances de morrer nem que
só um pouquinho.
Mas era preciso de uma fonte regular de dinheiro para sobreviver. Além do mais,
todos os jogadores de MMORPG possuíam essa “doença” que os deixava inseguros se não
estivessem pelo menos no nível mediano. Graças a isso, um ano e meio depois do início do
jogo, o grupo principal de jogadores agora percorria as dungeons com uma grande vantagem
de nível para apreciar as aventuras deste mundo.
Portanto, os Símios Ébrios, vangloriando-se de serem o monstro mais forte do 35º
andar, não eram realmente um desafio para Silica, não deveriam, ao menos.
Silica levantou sua adaga enquanto forçava sua mente a se focar. Pina também
começou a voar, preparada para a batalha.
Os monstros que surgiram por trás da árvore eram antropoides cobertos por pelo
vermelho-escuro. Segurando um porrete rude na mão direita e um tipo de cabaça com uma
corda amarrado envolta na outra mão.
Assim que os símios levantaram seus porretes e mostraram as presas para rugir, Silica
correu na direção do símio na frente para dar o primeiro golpe. Ela conseguiu um golpe
perfeito e tirou um belo naco do HP do monstro com «Mordida Ligeira», uma técnica mediana
do tipo investida com adaga, então começou uma série de combos em alta velocidade, uma
das maiores vantagens de se lutar com uma adaga.
Os Símios Ébrios usavam técnicas de baixo nível com clava e, embora cada golpe
tivesse um poder formidável, não possuíam velocidade e combos de vários hits. Silica lançou
uma chuva de ataques no Símio Ébrio e depois recuou rapidamente só para se lançar
novamente em uma nova investida. Após várias investidas, o HP do Símio Ébrio sofreu uma
grande queda em um curto período de tempo. De vez em quando Pina usava seu ataque de
soprar bolhas para confundir o oponente.
Porém, no instante em que estava prestes a lançar sua quarta habilidade, «Lâmina
Extravagante», e matar o primeiro Símio...
Um novo oponente apareceu por trás dele, trocando com o primeiro símio durante o
breve intervalo. Silica não teve outra escolha além de trocar seu alvo e começar a atacar o
segundo Símio. O primeiro recuou e inclinou a cabaça com sua mão esquerda...
Silica ficou chocada quando viu a barra de HP do primeiro Símio Ébrio sendo
preenchida a uma velocidade inacreditável. Parecia que a cabaça continha algum líquido de
cura.
Ela já havia encarado Símios Ébrios no 35º andar antes, mas naquela vez só foi uma
dupla, e ela os eliminara antes que tivessem a chance de trocar, por isso ela não tinha
conhecimento desta habilidade especial. Silica rangeu os dentes e se concentrou em destruir
completamente o segundo.
Mas assim que ela fez o HP do segundo cair na zona vermelha e se afastou um pouco
para começar seu último ataque, houve mais uma troca de símios. Era o terceiro Símio Ébrio.
Naquela altura, o primeiro já quase recuperara completamente seu HP.
Se esse joguinho continuasse, a luta nunca terminaria. Sua boca ficou seca de
ansiedade.
Pra começar, Silica mal tinha experiência lutando solo. Sua vantagem esmagadora de
nível era apenas um número, suas verdadeiras habilidades já eram outros quinhentos. A
ansiedade que surgiu na mente de Silica começou a se transformar em confusão. Ela começou
a errar mais ataques, que abriam brechas para seu inimigo contra-atacar.
Quando ela conseguiu deixar o HP do terceiro Símio Ébrio pela metade, sua tentativa
de continuar fazendo combos a fez ir além da conta. O Símio não perdeu aquela chance e
contra-atacou, dando um golpe crítico.
O porrete de madeira era grosseiramente feito, mas seu peso combinado com o
atributo de força do Símio Ébrio gerou um golpe potente que diminuiu o HP de Silica em quase
30%. Ela sentiu um calafrio descer por sua espinha.
Para piorar seu nervosismo, ela estava sem poções de cura. O sopro de Pina
recuperava aproximadamente 10% de seu HP, mas não era algo que Pina podia usar com
muita frequência. Mesmo assim, se ela levasse mais três golpes desse tipo era morte certa.
Morte. Silica congelou no instante em que essa possibilidade passou por sua mente.
Seus braços e pernas não se moviam.
Todas as lutas que ela teve até o momento foram excitantes, mas sempre estavam
longe de apresentarem um real risco de vida. Nunca antes ela havia assimilado que sua
«Morte» neste jogo seria sua «Morte» na vida real...
Congelada na frente do Símio Ébrio que rugia e levantava seu porrete para atacar
novamente, Silica entendeu pela primeira vez o que realmente significava lutar contra
monstros em SAO. Era uma contradição, SAO era um jogo que não devia ser simplesmente
jogado.
O porrete cortou o ar com um fraco som e a atingiu enquanto ela continuava parada lá,
sem sinal de se mover. Não suportando o impacto, ela desabou ao chão. O ataque tirou muito
de seu HP, agora já na área laranja.
Ela não podia pensar em nada. Fugir. Usar um cristal de teletransporte. Havia mais
opções além dessas, mas ela simplesmente olhava para o porrete sendo levantado pela
terceira vez.
A arma rude soltou um brilho vermelho, e quando ela estava prestes a fechar seus
olhos por reflexo...
Um vulto pequeno pulou no espaço entre ela e o porrete. Um som pesado e
aterrorizante de impacto ecoou. Penas azul-celeste se espalharam em um instante conforme a
pequena barra de HP despencava para zero.
Pina direcionou um olhar para Silica com seus redondos olhos azuis após cair no chão.
Soltou um fraco gemido e então se dispersou em incontáveis polígonos brilhantes. Uma longa
pena de sua cauda flutuou para baixo como se dançasse.
Algo dentro de Silica se rompeu. A linha que a mantinha sã desaparecera. Antes que a
tristeza viesse, ela ficou furiosa. Furiosa consigo mesma por ser incapaz de se mover após ser atingida uma única vez, e, antes disso, furiosa consigo mesma por se achar boa o bastante para
tentar atravessar a floresta sozinha só por ter ficado irritada com uma briguinha besta.
Silica recuou com um movimento ágil, desviando do golpe que o monstro havia
lançado em sua direção. Ela então deu uma investida gritando. A adaga em sua mão direita
lampejava, chovendo golpes contra o Símio.
Ela nem tentou desviar do porrete do Símio que trocou com seu colega após o HP
deste último ter decaído, mas em vez disso o bloqueou com sua mão esquerda. Seu HP
diminuiu, embora não tanto quanto um golpe direto. Mas ela ignorou isso e foi atrás do
terceiro Símio, o que matara Pina.
Ela usou sua baixa estatura como vantagem, foi direto para o Símio e enfiou sua adaga
no peito dele com toda sua força. Com um cintilante efeito de golpe crítico, o HP do inimigo foi
reduzido a nada. Primeiro um grito e em seguida o som de vidro se estilhaçando.
Em meio aos polígonos que se dispersavam, Silica se virou e investiu contra um novo
alvo. Sua barra de HP já estava na zona vermelha, mas ela não dava mais a mínima pra isso.
Tudo que enxergava era o inimigo que precisava matar, como se ele tivesse crescido de tal
forma que preenchesse todo seu campo visual.
Ela até esqueceu seu medo da morte e estava prestes a tentar uma investida suicida
sob o porrete em movimento.
Uma luz branco-puro cortou os dois Símios Ébrios, que estavam um do lado do outro
por trás.
Os dois corpos foram partidos ao meio em um instante e então se despedaçaram e
desapareceram.
Silica, paralisada pelo que acabara de assistir, viu um jogador logo atrás do nevoeiro de
fragmentos se dispersando. Com cabelos escuros e usando um sobretudo preto. Ele não era
tão alto, mas uma presença imponente emanava dele. Silica recuou por causa do medo
instintivo que sentiu. Seus olhares se encontraram.
Mas os olhos dele eram silenciosos e mais profundos que a própria escuridão. O garoto
guardou sua espada de uma mão de volta na bainha em suas costas com um tinido e então
abriu a boca.
— Sinto muito por não ter conseguido salvar seu companheiro.
Ela perdeu todas as forças de seu corpo ao escutar isso. Silica não conseguia parar as
lágrimas correndo por suas bochechas. Não conseguia nem controlar sua adaga escorregando
de sua mão e caindo. Assim que viu a pena azul no chão, ela caiu de joelhos perante ela.
Conforme sua raiva desaparecia, tristeza e sensação de perda incontroláveis tomaram
seu lugar na forma de lágrimas caindo sem parar por suas bochechas.
Familiares não estavam programados para bloquear um ataque em seu
comportamento normal. Pina correu para frente do ataque por vontade própria. Pode-se
chamar isso de resultado de seu amor por Silica, com quem havia passado o último ano junto.
Enquanto Silica se segurava, ela murmurou, chorando.
— Por favor... Não me abandone... Pina…
Mas a pena azul não deu qualquer sinal de que fosse responder.

Sword Art Online: Aincrad (Vol.2)Where stories live. Discover now