xxi. vinte e um

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Em menos de duas décadas atingi potencial completo: danifiquei quatro vidas.

A primeira foi quase covardia. Como tive estômago para abandonar um homem que fora abandonado por sua própria idealização de Deus? Um homem que tinha perdido 10% do cérebro, como consequência de sua existência e artérias entupidas. Um homem dos bons, meu pai, daqueles que são brilhantes e sábios e inspiram não só oxigênio mas também quem está ao seu redor. Não importa quantas vezes alguém me diga que deixá-lo em uma clínica seria melhor para sua saúde física, assim como para a minha mental, nunca haverá dia em que não acorde com uma sensação ruim no fundo de meu estômago.

A segunda não foi quase, esta fora de fato covardia. Uma criança sensível e brilhante, do tipo que desejo mais no mundo. Sou incapaz de demonstrar amor e afeto para qualquer criatura com coração batente como o meu, meu irmão, perdoe-me por minha temperatura negativa.

A terceira e quarta é o que os exércitos chamam de inevitável.

A da mulher cujo útero adormeci em sono profundo e o corpo que habito.

Minha mãe porta dos mais belos dotes atribuídos a um ser humano: bravura, sabedoria e sensibilidade ao sofrimento do outro.

Sobre o corpo que habito não vejo porquê de sentir pesar.

HOWL // poesiaWhere stories live. Discover now