Capítulo Único

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- Celina! – berrou ele logo atrás de mim.

Meus pés não eram tão ágeis como eu imaginei que seriam. Tropeçavam sem parar um sobre o outro, minhas panturrilhas doíam com todo o esforço que eu fazia para me afastar, mas sem muita sorte.

Eu mantinha firme a visão do bosque à minha frente. Se eu pelo menos conseguisse chegar lá, poderia enganá-lo já que conhecia melhor que ele, podendo me esconder em qualquer buraco que encontrasse.

Mas eu não conseguiria, eu tinha certeza. Ele me alcançaria e me levaria de volta sem esforço algum. Era o que sempre fazia. Já fazia um mês que estávamos naquela condição e eu não aguentava mais.

A guerra finalmente tinha chegado até nós e trazido consigo um alto preço. Pelo menos para mim.

Com a morte de minha mãe aos cinco anos, eu já sabia que para não viver o resto da minha vida sozinha precisaria arranjar um bom casamento. Não poderia viver o resto de minha vida ao lado de meu pai e meu irmão. E a vida mostrou-se muito engraçada com respeito a isso.

Logo no início da guerra meu irmão recebeu uma carta de convocação. Com sua partida as coisas ficaram bem difíceis, pois eu tive que tomar seu lugar e cuidar de nossa fazenda com ajuda de meu pai. Mas, as coisas só tenderam a piorar. Assim que houve indícios da invasão alemã em nosso país, outra carta de convocação chegou e lá se foi meu pai. E meu medo se tornou realidade, eu estava sozinha.

Com a situação que nos encontrávamos, já não havia rapazes em nossa cidade com a qual eu poderia sequer sonhar em um dia me casar. Todos eles tinham partido para a guerra, eles querendo ou não.

Se o meu infortúnio parasse aí já estaria de bom grado. Mas não. Quando o exército alemão tomou conta de todo o norte do país, carros e mais carros trazendo soldados apareceram um dia em nossa pequena cidade, outra notícia devastadora foi dada. Algumas famílias seriam escolhidas para abrigar alguns desses soldados.

Eu nunca imaginaria que seria uma dessas escolhidas. Além da minha casa ser bem afastada da cidade, não achei que permitiriam que eu abrigasse um homem desconhecido sem nenhum tipo de proteção.

Só que naquela mesma noite ele chegou. Veio sozinho em seu veículo, trazendo uma única mala. Não disse muito mais que o necessário, deixando claro que precisava de um quarto e apenas isso.

Contra minha vontade o levei até o primeiro andar da casa e lhe mostrei o quarto de meu irmão que acomodava um banheiro, dando-lhe toda a privacidade do mundo. Sem minha permissão, claro, ele retirou a escrivaninha do escritório de meu pai e a organizou sob a janela do quarto de meu irmão.

Até a hora no relógio ele teve a coragem de alterar!

Foram todos esses pensamentos, lembranças que me fizeram tomar aquela decisão. Estava cansada de todas essas mudanças que vinham acontecendo.

Meus pés não eram rápidos o bastante. Não. De tal modo que em pouco tempo senti algo me tocar me fazendo tropeçar e cair no chão. Não tive tempo nem se quer para me levantar. Ele mesmo me colocou de pé, ouvindo meus protestos constantes, passou a mão em minha cintura me levantando e me jogou em seu ombro como se eu fosse um animal que ele acabara de caçar.

Não importava quanto eu gritasse, esperneasse ou chorasse, muito menos a força que fazia para bater em suas costas, ele continuou seu caminho de volta a casa e só me colocou no chão novamente após subir os degraus da entrada.

- Porque você faz isso Celina? – ele indagou me olhando fixamente nos olhos - pelo amor de Deus, não sabe como é perigoso tentar entrar naquele bosque sem companhia? E se te acontecesse alguma coisa? Como explico isso para meu superior?

Uma doce melodia (completo)Where stories live. Discover now