Capítulo Único

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Suas perguntas só me fizeram chorar mais, tornando tão difícil respirar que achei que cairia dura ali no chão diante dele. Meus soluços eram tão altos que tive vergonha de toda aquela situação.

- Não fique assim. – pediu ele me abraçando.

Como é que eu poderia ter raiva dele no fim das contas? Ele se mostrava ser a cada dia que passava o soldado mais gentil que eu já havia conhecido. Não importava quanto eu tentasse odiá-lo pelo que vinha me acontecendo, o efeito sempre era o contrário.

Klaus me aninhou em seu peito de forma tão perfeita que nem cheguei a reclamar. Apenas fiquei ali encolhida derramando todas aquelas lágrimas que molharam seu uniforme.

- Está tudo bem. – sussurrou em meu ouvido

- Não está tudo bem! – bradei me afastando ao empurrá-lo para longe de mim - Olhe a sua volta Klaus! Estamos no meio da guerra, minha família se foi, eu não tenho mais ninguém, nem ao menos consigo manter esse lugar.

- Você tem a mim Celina.

- Não, não tenho. – rebati me sentindo cada vez mais nervosa – Hoje você está aqui, mas e amanhã quando as coisas piorarem e precisarem te enviar para o campo de batalha? Você é mais um soldado alemão que está aqui não para nos proteger, mas para se certificar que não faremos nenhuma rebelião e não traremos problemas a vocês.

- Que droga Celina! – ele berrou jogando sei quepe no chão – E que culpa eu tenho nisso tudo? Que culpa eu tenho se recebi uma carta de convocação e fui obrigado a vir até aqui? Que culpa eu tenho se a minha vida está com os dias contados? A única coisa que faz tudo parecer tão mais simples é você! Quando é que você vai entender isso?

​Klaus passou por mim em direção a porta e parou antes de poder abri-la, virando o rosto em minha direção.

- Me desculpa se o fato de eu estar aqui é um fardo para você. Mas, a culpa não é minha.

Uma completa idiota, era isso que eu era. Uma idiota por vários motivos. Por quer culpa-lo por toda a situação catastrófica em que nosso país se encontrava, por me sentir incapaz de manter aquele lugar, por meu país estar na guerra lutando pelo nosso país enquanto eu estava ali até que confortável vivendo debaixo de um teto junto com um soldado inimigo. Me sentia culpada pelo que estava prestes a fazer.

Era preciso reunir todas as minhas forças para apenas girar meu corpo em direção a porta e mirar sua sombra através da tela de proteção. Foi necessário mais força ainda para dar o passo seguinte e correr para dentro de casa, escancarando a porta e soltando-a sem a preocupação de ter de ouvir alguém gritar para que eu fosse mais educada, para me lançar sobre ele envolvendo seu pescoço com meus braços.

O susto que ele levou transformou-se rapidamente em um sorriso lindo quando baixou a cabeça para me fitar.

Aqueles olhos eram tão lindos, tão meigos, tão gentis e amorosos que todo o temor que eu sentia anteriormente desapareceu em questão de segundos.

Estava claro como a água, límpido como o cristal o que eu deveria fazer a seguir. Não era difícil ver em seus olhos que ele desejava a mesma coisa. Se meu pai me visse a seguir não havia dúvidas que eu seria deserdada, mas há certas coisa na vida que importam mais do que dinheiro. E esse era um desses momentos, e tinha medo de que se não o aproveitasse nunca conseguiria outro. Arrependimento é algo que eu não queria ter.

Eles me perdoariam eu tinha certeza disso. Que culpa eu tinha se amava o nosso inimigo?

Quando aproximei meus lábios dos dele, minha respiração se prendeu por instinto, esperando que ele não me rejeitasse. Um medo estranho fez meu estômago embrulhar, com um frio tremulizando por dentro para me lembrar que eu estava viva e deveria agradecer por isso.

Uma doce melodia (completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora