O toque do lorde fez um súbito calor correr pelo seu corpo. Foi inevitável conter um breve sorriso e o rubor em suas bochechas. Acabou deixando a lamina cair no chão, e por pouco ela não cortou o couro fraco de seu sapato.

– Preste atenção, garoto! – O dono da barbearia, atendendo outro cliente a poucos metros, reprendeu o jovem.

Aron tirou a toalha que envolvia seu pescoço e girou na cadeira para fitar o homem atrás de si. Ele tinha uma estatura mediana, usava um terno surrado por baixo de um avental encardido, possuía olhos azuis contornados por fortes linhas de expressão, uma barriga saliente, e um cabelo grisalho que havia quase caído por completo no alto da cabeça.

Os olhos do homem se arregalaram quando encontraram os esbranquiçados de Aron, e ele ficou boquiaberto.

– Não há por que brigar com o rapaz.

– Desculpe-me, meu lorde. – O barbeiro curvou-se. – Ele é apenas um aprendiz.

– Eu já disse, está tudo bem. – Aron ajeitou-se na cadeira e voltou-se para o espelho, a fim de que o rapaz terminasse de fazer sua barba.

Encarou sua imagem refletida, o corte recente na linha do seu queixo já nem estava mais lá.

Deixou seus olhos vagarem, observando o local no belo fim de tarde. Pela vitrine podia ver as nuvens cinzas se tornando cada vez mais escuras. As pessoas que passavam na rua já usavam casacos mais pesados, indicando que o inverno estava próximo.

– Terminei, senhor. – O rapaz passou uma toalha no rosto de Aron, tirando o resto da loção de barbear.

– Não me chames de senhor. – Aron riu. – Isso me faz parecer um velho.

– O que certamente não és.

– Qual é o teu nome, rapaz?

– Elliot, senh... Elliot.

– E quantos anos tens?

– Vinte e dois.

Elliot encarou o nobre. Não entendeu o motivo das perguntas, nem mesmo por que um homem como aquele estaria lhe dando o mínimo de atenção. Sempre o admirara de longe e sentia-se feliz por ter ganhado a chance de ao menos tocá-lo. A troca de poucas palavras e o e a gentileza do lorde eram muito mais do que poderia imaginava um dia receber, porém seus pensamentos naquele momento foram além, ainda que fossem ridículos, não tinha chances nem mesmo com os rapazes de sua classe social.

– A que horas sai daqui?

Elliot ergueu a cabeça, arqueou as sobrancelhas e encarou o duque como se não acreditasse no que acabara de ouvir.

– Eras meu último cliente, meu lorde. – Respirou fundo para não gaguejar.

– O que achas de irmos tomar uma cerveja juntos? Relaxarmos um pouco. Pareces tão nervoso.

– Tens certeza?

– É claro.

Aron se levantou, tirou as toalhas sobre seu colo e as colocou no balcão, e então caminhou até a porta.

Elliot nem disse nada ao seu patrão antes de tirar o avental e sair porta fora atrás de Aron. Pouco importava se fosse repreendido, ou mesmo mandado embora. Ainda que fossem apenas algumas cervejas, aquele não era o tipo de oportunidade que tinha sempre.

Observou o lorde caminhar até um pub numa região mais afastada de Londres e o seguiu de perto. Era de se esperar, para um nobre como aquele, não seria bom ser visto com um plebeu por aí. Porém pouco se importava, estava feliz apenas pelo convite.

Do Sangue Ao Desejo (Desejos Sombrios 1) - DegustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora