Relatos de um morador de rua

677 16 6
                                    

               

                                                              

 Bem aventurados aqueles que lêem e bem aventurados os que ouvem as palavras de sua profecia e aguardam as coisas que nelas estão escritas; porque o tempo está próximo.

 Apocalipse 1,3

 Muitos profetizaram o fim do mundo.Mas poucos realmente acreditaram em tais previsões.E numa madrugada fria a profecia se cumpriu...

 Palavras de um morador de rua.

 Madrugada

Pelo que consigo me lembrar o fim começou por volta das 2:00 da madruga. Eu dormia calmamente ao lado de uma banca de jornal, em minha cama improvisada com caixas de papelão. Me abrigando do frio daquela madruga. Fui despertado do meu sono por uma grande explosão, que veio seguida de gritos desesperados.

Levantei assustado do conforto de minha cama e a primeira visão que tive foi a do próprio inferno. Prédios eram devorados pelas chamas, havia pessoas mortas por todos os lados. Os carros do corpo de bombeiros e viaturas da policia circulavam as pressas por todos os lados num vai e vem frenético.

Ao olhar para o céu entendi o que estava acontecendo. Aquelas previsões que via na televisão através das vitrines de lojas de eletrodoméstico haviam se tornado reais. O tal fim do mundo havia começado.

O céu estava tingindo de vermelho e choviam bolas de fogo. Vi com tristeza quando uma delas atingiu violentamente o coração do Cristo de braços abertos.

Muitos observam aterrorizados e com tristeza, a queda do Cristo Redentor.

Amanheceu.

 Me pergunto como consegui amanhecer vivo, em meio às horas de pavor, que se seguiram! Mas, aqui estou. O que um dia foi conhecido como Rio de janeiro a cidade maravilhosa que era aclamada pelo mundo por suas praias, escolas de samba e belezas naturais. Cidade maravilhosa que abrigava turistas de todas as regiões do planeta. Simplesmente não existia mais.

A cidade ardia em chamas... As ondas do mar engoliram as praias e invadiram as ruas da cidade morta. Ainda caiam lagrimas de fogo do céu, ceifando o pouco de vida que ainda restava.

Creio eu! Que o mundo todo deva estar nesse mesmo estado caótico.

A raça humana está a um passo de seu fim. Apenas mas um degrau para sua total extinção.

Assim como as profecias previram. Mas a humanidade em sua arrogância suprema decidiu não enxergar estes sinais.

         

Um mes depois

 Já se passaram trinta longos dias desde que o céu derramou suas lagrimas de fogo, varrendo assim quase toda a forma de vida da face da terra. O cheiro da morte se tornou insuportável. E por cada cidade devastada que eu passava o numero de sobreviventes era cada vez menor. A fome e as doenças se alastravam terrivelmente, ceifando a cada instante uma nova vida. Eu tinha a impressão de estar caminhando sobre os olhares atentos da dama da morte.

Seis meses se passaram

Se não tivéssemos nos julgado os donos da verdade poderíamos ter evitado de certa forma a morte desse planeta, que um dia já foi chamado de Terra, o grande planeta azul.

Continuo a perambular por terras mortas. Vi grandes cidades cobertas pelas águas do mar. Assim como também vi, mares tonarem-se vastos desertos. Em minha viagem solitária vi de tudo até agora. Pessoas recorrendo ao canibalismo para saciarem sua fome. Uma mãe desesperada matando seu próprio filho para que ele não sofre-se com a fome e, se matando em seguida. Pessoas que se lançaram nas grandes crateras que se abriram por todos os lados devido as lagrimas de fogo que ceifaram a vida do planeta, a procura do abraço da morte para sanarem suas dores. Hoje fazem seis meses que o mundo encontrou seu fim. A mais de quatro meses não encontro sinal de vida pelas cidades por onde passo. Exceto por uma cadelinha Dálmata que teima em me seguir. A qual dei o nome de Esperança.

Tenho medo que não encontre mas sobreviventes. Meu deus! E se eu for à única pessoa ainda viva, nesse vasto mundo morto?

 

A perda, e as lagrimas silenciosas

 Era manhã, acordei com os latidos estridentes de Esperança. Corri para fora da velha igreja que me servia de abrigo e a encontrei debaixo dos escombros de uma parede que havia desabado. Desesperado a retirei dos escombros. Suas patas haviam sido esmagadas ela estava agonizando. Não suportando seu sofrimento, voltei para velha igreja e peguei em minha mochila uma pistola que encontrei semanas atrás e com um único tiro coloquei fim ao sofrimento de Esperança.

Ó Deus por que me penaliza dessa forma? Por que não me leva de uma vez? Agora estou só novamente, nesse mundo morto, a derramar minhas lagrimas silenciosas.

Fim de ano

Noite de 31 dezembro de 2012. O ano esta chegando ao seu fim, há muito tempo perdi as esperanças de encontrar outros seres vivos.

Estou abrigado dentro do que sobrou de um antigo hospital. Tenho fome, a pouca comida que tinha se esgotou a dois dias atrás. Chove muito forte la fora e não posso sair para procurar algo para matar minha fome. Pois a chuva que cai incessante é uma chuva acida. Já havia ouvido falar neste tipo de chuva, mas pensei que só acontecia em filmes ou livros de ficção cientifica.

Minha saúde não anda muito bem e a julgar pelo andar da carruagem, a morte logo irá sorrir para mim, me resgatando deste pesadelo sem fim. Acho que vou dormir um pouco, para ver se esqueço das dores e da fome que me atormenta.

Ultimas palavras

Deixo aqui, nas ultimas paginas deste caderno, minhas derradeiras palavras. Se por ventura ainda existir uma alma viva nesse mundo ou ate mesmo para uma nova civilização que possa surgir.

Hoje é 13 de janeiro de 2013. Ou ano um após o fim do mundo. Vaguei muito por esse planeta morto, onde vivenciei dor, tristeza e angustia, coisas terríveis e grande destruição. Observei aqueles que se julgavam os donos do mundo perecerem. Ricos e pobres, todos mortos. Para aqueles que achavam que o dinheiro era a resposta para tudo, acabaram decepcionados. Os humildes aceitaram a sentença sem reclamar e talvez para eles, não tenha sido tão difícil.

As grandes potencias mundiais com sua arrogância e sua armas nucleares foram as primeiras a sumirem da face da terra. Nada mas vive nessa terra morta. Exceto eu. Mas isto está para acabar, tenho certeza que desta noite, eu não passo.

O mundo simplesmente pereceu em uma madruga fria.

Ó Deus como estou cansado. Finalmente a morte resolveu sorrir para esse velho solitário.

Estou tão cansado que não tenho mais forças para escrever. Agora vou dormir um pouco, na esperança de não mais acordar, de não mais existir, como o único sobrevivente do fim do mundo.

"Se uma nova civilização surgir das cinzas desse planeta morto.Peço do fundo do coração! Não sejam arrogantes como seus antecessores."

                                                

Richard Delfin

O ultimo morador de  rua, de um mundo morto.

Relatos do Fim do MundoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora