4o Capítulo - No Vale dos Drogados 2

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-Obrigado! O que é o grupo dos conscientes?


-Somos os que já caminham em pé e lúcidos, pois como você vê, ainda há muitos que se arrastam,


assim como você e nós nos arrastávamos até pouco tempo.


-Vocês sabem como funciona este lugar? Existe um tempo certo que devemos ficar aqui?


-Nós não sabemos.


Respondeu Ronaldo.


-Vocês já viram alguém sair daqui?


-Eu já vi!


Afirmou Rosa que se recuperava do pranto. Então eu perguntei-lhe:


-Como se faz para sair daqui? É possível? Ou temos que esperar alguém vir nos buscar?


-Eu conversei com um espírito que veio junto com um grupo chamado Samaritanos. Ele informou-


me que somos livres, podemos sair, basta subirmos pela encosta do vale e logo estaremos entre os


encarnados, mas disse não é aconselhável, pois estaríamos comprometendo nossa recuperação.


Disse, ainda, que o mais importante para nós, é ficarmos até que se atinja a completa


desintoxicação causada pelas drogas. Além do mais, devemos nos reabilitar das conseqüências da


morte prematura. Nesse dia, eles levaram muitos espíritos que já estavam prontos para iniciarem


uma nova fase do tratamento.


-Então, pelo que vejo, só nos resta esperar pela nossa vez! - afirmei conformado.


Rosa continuou falando:


-Segundo esse espírito que me orientou, não devemos esperar de braços cruzados. podemos


acelerar nossa recuperação ajudando aqueles que estão em pior situação do que nós.


-E o que podemos fazer?


-Disse-me que devemos conversar com eles, falar-lhe de forma a estimular a auto-confiança,


renovando-lhe a esperança.


Ronaldo sentou-se e convidou a todos para sentarmos. Sentamos...


Depois de um mútuo entendimento definimos um plano de trabalho: fomos divididos em cinco


grupos de três. Rosa, Miriam - a mais velha - e eu ficamos no mesmo grupo.
- Quando começamos? - Perguntei.


Ronaldo respondeu:


- Eu acho que devemos começar já.


Todos concordaram! Imediatamente, saímos a campo. Rosa, Miriam e eu aproximamo-nos de um


jovem que se retorcia envolto em uma substância gelatinosa que saía da sua boca e ouvidos,


envolvendo quase todo seu corpo. Na cabeça, tinha um ferimento que denunciava as marcas de um


acidente. Rosa sentou-se junto a ele, sem qualquer asco; puxou sua cabeça para seu colo e


começou a orar e a passar a mão nos seus cabelos. Ele balbuciou:


-Socorro...Socorro...


Meio Tímido, falei:


- Calma amigo, estamos aqui para lhe ajudar, pense em Deus, confia que você vai sair dessa.


Ficamos ali até passar aquela crise que eu mesmo havia experimentado. Depois de algum tempo,


perguntou:


- Quem são vocês?


-Somos amigos; estamos juntos nesse barco e, com certeza, não vamos naufragar.


-Afirmou Rosa.


- Não consigo levantar-me; sinto-me pesado. Não posso mover-me.


- Qualquer dia desses você vai conseguir, tenha fé. - afirmei.


-O que aconteceu comigo? Onde está o carro?


Rosa olhou para mim, olhou para Miriam e sussurrou para nós:


-E agora? O que falamos?


Miriam levantou a mão espalmada como quem diz "deixa para mim". Logo em seguida, falou:


-Como é seu nome?


-Tiago.


-Tiago. Você sofreu um acidente?


-Meu amigo bateu o carro mas não foi aqui. Como eu vim parar neste lugar?
- No acidente você morreu. Por isso está aqui.


-Você está louca. Estão. Estão brincando comigo, ou então isto aqui é um pesadelo. Vocês não


existem.


-Isto não é um sonho e nem um pesadelo. É a mais pura realidade. Você morreu! Quanto mais


tempo levar para reconhecer , mais tempo estará em sofrimento; fique calmo.


-Onde está o meu amigo? Para onde o levaram?


-O seu amigo deve Ter sobrevivido ao acidente, por isso não veio para cá.


- Eu quero ir para casa. Chame alguém da minha família, por favor.


- Tiago, quando vocês sofreram o acidente, estavam drogados?

Um roqueiro no AlémOnde as histórias ganham vida. Descobre agora